domingo, dezembro 06, 2009

Alimentum Dolentæ

Há coisa de semana e meia estive um bocado achacadiço. Levei uma noite a vomitar e, no dia seguinte, estava todo partido com o esforço físico que estas provas desportivas de regurgitação exigem. Foi um momento patrocinado pela comida da cantina. A ementa toda ela, naquele dia em particular, era má. Coisa rara como se sabe. De repente e fora de contexto, apareceu um único tabuleiro cheio de feijoada. Do mal o menos fui para a feijoada e passei a restante tarde desconfortável. A indisposição foi escalando e assim que cheguei a casa, chegou ao topo do esófago. A vitória foi celebrada com um jorro de comida e bílis e um berro daqueles típicos de quem vomita. A intifada teve várias réplicas e o conflito apenas terminou a meio da noite.

Eu a vomitar (simulação por computador).

Fiquei desiludido comigo mesmo... homem que é homem nunca vomita. Quanto muito, vá, tem diarreia e apenas a "apanha" quando faz a tropa em África ou quando come uma rameira com bicho. Segui o lema "antes faça mal do que se estrague" e ia morrendo. Até agora o "faça mal" nunca tinha passado de uns breves e ligeiros fenómenos de gasoterismo.

Ao expor o problema de forma amigável na cantina, falaram comigo como se a culpa fosse minha, que fiquei com o estômago estoirado por querer: "Pois... vocês queixam-se todos que vomitaram mas o comer foi para análise e veio tudo negativo!"

Com esta frase fiquei a saber o seguinte:
- que não devem ter sido poucos os que ficaram mal. Já tinha tido conhecimento de outros que ficaram aflitos sem comerem feijoada, pelos vistos foram mais do que pensava;
- que "comer" não é só o acto de ingerir comida mas como também significa a própria comida legitimando a frase "comer o comer";
- o dito comer teve nota negativa a tudo e nem a Educação Física nem a Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC) se safou. Na primeira só os estupidamente gordos é que chumbam, à segunda só mesmo por faltas.

terça-feira, novembro 10, 2009

Benfica Benfica

Ainda se consegue ir à praia em Novembro graças ao calor monumental radiado do Estádio da Luz. O Benfica é o aquecimento global de todos os nossos corações.

Finalmente compreendo a expressão "O Estádio da Luz é um cemitério de treinadores". Pudera... cada treinador que lá vai mais a sua equipa defrontar este Benfica, arrisca-se a sofrer goleada e ficar lá enterrado.


Após marcar o quarto golo, Mister Jesus avisa os seus defesas:
- Quero os 4 em linha!

No entanto, o mister Jesus (o mesmo que transformou muitos ateus em católicos), de nada percebe de jogos de consola ou de tabuleiro. Como se pode ver no telefonema que me fez:


Confundido um jogo de tabuleiro com um jogo para jogar na consola. Ele não queria dizer Batalha Naval, onde os navios estão mais ou menos espalhados uniformemente no tabuleiro.


O Benfica já mandou um barco de quatro e outro de três canos ao fundo.

Ele por certo estava era a querer dizer Arkanoid, onde uma barra vai tabelando uma bola contra uma série de monos presos numa posição.


Trabalho moroso dos jogadores do Benfica a furar a defesa da Naval.
No momento final, tal como no jogo, as barreiras são furadas e a bola entra.

Parece que nada consegue travar este Benfica. Até os árbitros já encontram dificuldade em fazer com que o Benfica perca. A equipa adversária nem mesmo metendo todos os jogadores na grande área a defender, se consegue livrar de sofrer golos. Há sim é uma variação no número de golos marcados, nunca no resultado que é só um: uma vitória do Benfica à Benfica!

sexta-feira, novembro 06, 2009

Migrante di Dignitatis

Algo me perturba e transtorna profundamente o espírito.

Portugueses que em França exigem comemorações faustosas para o dia de Portugal, que os filhos aprendam Português nas escolas públicas francesas, vão todos os anos a Fátima cumprir numerosas promessas, que choram quando a Selecção Portuguesa perde com a sua congénere Francesa, fazem milhares de quilómetros para ver treinos e jogos da selecção e, acima de tudo o que lhes é mais sagrado, orgulham-se muito de serem portugueses.

Mas apre! Por que raio é que, mesmo com camisolas do Cristiano Ronaldo e toalhas de praia com a bandeira de Portugal... teimam em encher-me o juízo ao falar francês entre eles uma vez em Portugal e em especial na praia? É do hábito uma porra! Aquilo é francês mais martelado com português que os fundos do Elton John martelado com lingotes de Toblerone de carne. Não é só pelo sotaque que os descubro, até porque de francês sei menos do que o mínimo. Topo-os à légua é por deixarem escapar várias palavras em português, quer por descuido, quer por desconhecerem a tradução directa para francês.

Quando falam em Português é para dizer "a França é mais evoluída e todos se respeitam", enquanto empurram, pisam e passam à frente com ar indignado na fila para queimar velas no Santuário de Fátima. Também em Fátima fazem questão de, mais uma vez, falar alto dentro das igrejas, tirar muitas fotografias com flash (como se tratasse da passagem dos atletas num evento desportivo) e prosseguir com a maior das naturalidades. Mostram assim, sem qualquer pudor, uma insaciável apetência para pensar que só eles existem no mundo ou que o mundo só existe para eles, tudo o resto é cenário e figurantes.

Às tantas são mas é ou portugueses ou franceses da candonga, produto contrafeito cheio de imperfeições, acabando por não ser nem uma coisa nem outra. Não são coisa nenhuma.

E depois os nomes que dão aos filhos? À primeira oportunidade desmarcam-se das suas origens, camuflando o nome com a mesma eficácia que uma avestruz se esconde com a cabeça na areia, deixando o traseiro exposto. Isto para os chamarem com um sórdido orgulho só para mostrar que são eles os pais, enquanto os "hora de Inverno" mentais fazem remates para uma baliza improvisada por dois chinelos enterrados na areia da praia, tendo como fundos de baliza os banhistas e as suas toalhas. Se acertam em alguém tanto melhor. Vão buscar a bola com um sorriso triunfante como se o incomodado estivesse muito satisfeito com o trabalho feito. Nem desculpa pedem.

São então estes os mais frequentes nomes empregues (e não baptizados, porque nenhum presbítero que se preze, venera um Deus que receba esta gente no seu rebanho):
- Jean Michel;
- Jean Pierre;
- Jean Paul;
- Jean Jacques;
- Jean Sebastien;
- Jean Denis;
- Jean Emmanuel;
- Jean Frederic;
- Jean François;
- Jean Marc;
- Jean Louis;
- Ruben Micael (usado apenas a partir do terceiro filho);
- etc.

O que importa é que o réproba apátrida tenha Jean no nome para se julgar superior aos outros, demasiado importante para lhes falar. Estes amofinados apaniguados deviam ser alvo de bullying intenso para se tornarem homenzinhos. Mas isto sou eu que, pela amizade, quero o melhor para as pessoas, custe o que custar. Se vocês querem continuar a tratá-los com desvelo, é problema vosso, depois não se queixem.

Tenho grandes amigos imigrados nos Estados Unidos, Roménia, Moçambique (mas não lhes falo) e Reino Unido e nenhum me vem com estas chalaças e falsidades. Tive a felicidade de conhecer um emigrado em França mas não lhe dei confiança. Digo felicidade porque só veio comprovar que eu estava certo na minha razão. Tinha aquele ar de mania da superioridade, tudo "lá na França" é muito melhor e de lá ninguém o tira mas, na mesma frase, remata com um "ninguém me tira a aldeia dos meus pais, é aí que gosto de estar". Só se for para ver velhotes pobres no meio de uma aldeia com 23 habitantes no Inverno e 314 no Verão, 272 deles emigrantes em França e 19 no Luxemburgo, e pensar "como estou bem na vida, estou melhor que o Portugal". Bela amostra essa para generalizar todo um país. Apesar de não sermos um país de elite e termos os nossos problemas, não nos vestimos todos de preto, não vivemos todos em casas de pedra e, acima de tudo, não somos surdos nem lentos intelectuais para nos gritarem ao pé dos ouvidos. Para mais, com uma conversa de auto-elogio, num só sentido para que, quando o outro interveniente se tenta expressar, com uma resposta de desconsideração certamente, sorrirem com misericórdia e pena, faltando só afagarem-lhe a moleirinha com palmadinhas.

Estes umpa lumpas mentais, são os que falam mais alto na praia e olham sempre em redor, nunca entre eles. Numa de verem o quão impressionados estão os outros por eles serem "franceses". Os outros olham mas fazem-no com ar de reprovação, porque estão fartos da algazarra vinda destes fuinhas assaloiados.

Os únicos que eles impressionam são os mesmos que chegam a Portugal vindos dos subúrbios de Paris, num Citröen Xantia ou Renault Safrane sobrepopulado de gente, tralhas e um caniche a padecer com uma nevrose provocada pelo cio. Ou seja, isto tudo para dizer que só impressionam os que são iguais a eles mesmos, comparando-se exaustivamente enquanto fingem que se ignoram mutuamente. Faz parte lá dos rituais deles... tipo as aves na primavera.

Tal como os salmões que sobem o rio para nidificarem onde nasceram, morrendo de seguida, também esta espécie de francês (ou português, ou o quer que seja isto), escolhe o Verão para se vir reproduzir na aldeia de origem, matando-se de seguida nas estradas ibéricas Muito sinceramente, é preciso ter lata... Por isso é que as nossas estatísticas rodoviárias são sempre tão negras. Não é a meter radares e a passar multas aos de cá que a coisa vai lá. É preciso é filtrar as fronteiras e evitar que o mal cá entre.

Cá para mim, resolvia o problema de forma muito simples e pouco trabalhosa: como as praias da Costa da Caparica estão com falta de areia, era enterrá-los na praia para fazer altura e depois despejar a areia por cima. Ou então, para não complicar e tornar célere o processo, era pegar neles, metê-los num saco de plástico daqueles pretos, dar-lhe dois nós bem fortes e... Tejo!

sábado, outubro 10, 2009

"Alto e Pára o Baile!"

Estava eu há pouco a desenvolver o meu carácter enquanto aluno universitário, frustrando-me a preparar um laboratório, quando me deparei com esta notícia:

"Explosão de camião-cisterna faz 80 mortos"

Pelo menos 80 pessoas, entre as quais 18 crianças, morreram depois de um camião-cisterna explodir, esta sexta-feira, na Nigéria, noticia a EFE.

Segundo a imprensa nigeriana, o veículo caiu na estrada e derramou a gasolina que transportava. Os automobilistas começaram a parar para roubar o combustível, até que um polícia disparou para o ar para dispersar a multidão. Terão sido estes disparos a causar a explosão.

O número de feridos graves ainda não foi determinado.

A explosão causou a destruição de nove veículos, entre os quais um autocarro escolar.


Há que, antes de mais e acima de tudo, tirar o chapéu ao sentido prático e rápido raciocínio deste polícia. De alto gabarito. Evitou um variado cardápio de chatices e complicações com uma só acção.

Sabem o que é um só sr. agente ter que prender 80 pessoas? Já pensaram o que é levar sozinho 80 pessoas para uma esquadra pequena e sem condições? Quantas viagens de carro são precisas? O tempo que se ia demorar a preencher papelada para 80 autos? Era preciso para cima de meio Estádio da Luz em horas para isto ver um fim. Digo 80 pessoas em módulo, ignorando a fase. Quero com isto dizer que não é por serem 80 nigerianos que isto iria ser uma grande maçada.

Depois cada inquérito era o que já se sabe, se é demorado em Portugal, imagine-se na Nigéria... e ter que alimentar 80 famintos a meias de leite e pães com manteiga era uma despesa maior que o próprio orçamento anual para a polícia.

Assim despachou (literalmente) todos de uma vez, incluindo o próprio para não ter que responder a nenhum superior, e ficou tudo tratado de uma vez. Sem esperas, sem adiamentos e sem burocracias. Quase tão eficiente e eficaz como a força de ataque do Benfica nesta época.

Um exemplo a seguir sem dúvida.

terça-feira, setembro 08, 2009

Orthographia Panisgæ

Estava o meu grande amigo JPS a passear-se pelas avenidas glamourosas de Tavira, enquanto ouvia o álbum Body Talk dos desviantes Imagination no seu leitor de cassete portátil, quando, lambendo lentamente de forma provocante e libidinosa o seu gelado sem açúcar de papaia/kiwi, se deparou com um escândalo. Lançou um olhar arrebatador e, não resistindo, enviou-me de impulso e por MMS, a fotografia que de seguida exponho:



Que falta de elegância e consideração, dar uma palmada destas nesse bem tão precioso que é a ortografia portuguesa. Estes indecorosos estrangeirismos ultrapassam os limites da falta de siso. É evidente que a expressão:
"per moçao" vem do termo francês "pour moçon", onde o "pour", se lê "per".
Traduzido à letra, nada mais significa que:
"para moço" ou "para rapaz".

De certo se trata de uma loja de roupa para gente jovem, cujos proprietários são descentes de emigrantes portugueses. Isto é, uma loja de imigrantes franceses adamados.

Queriam anunciar o seu produto, suponho que calções curtos e, mais que justos, apertados nas partes traseiras e frontais, os tais de corte paulpour tiano, para pré adultos modernos e, por desconhecimento, colocaram o que está à vista de todos.

"Per moçao" não quer dizer "para rapagão" ou "para moço grande". Significa "para moção", ou seja, e reforçando um pouco a ideia de há poucas linhas atrás, roupa usada pelo CDS-PP quando apresenta uma moção de censura ao governo.

domingo, setembro 06, 2009

Aritmética Rodoviária

Cenário:
Viagem numa autoestrada com curvas pouco acentuadas e longas rectas, percurso com perto de 150km com partida às 23.30 após um jantar carregado, não há rádio no carro.

Condutor: eu.
Pendura: pai.
Pendura de reserva: mãe.

Tese 1:
Dado o cenário apresentado, ir entre os 110 e os 120 km/h e ir falando para evitar a monotonia e a sonolência, é a melhor opção. Encurta-se ligeiramente o tempo e o enfado da viagem.

Tese 2:
Ir a 90 km/h, em silêncio para se estar mais concentrado na condução. Poupando-nos assim a despistes incontroláveis, fruto da distracção, que só irão dimanar um número de mortes tão grande que nem o vão conseguir quantificar. Para além do mais, o traço dos 110 km/h, apesar de estar entre os 90 e os 130, está mais perto dos 170 km/h do que se julga. Quem paga as multas é o condutor.

Mesmo eu dizendo, sabendo por experiência própria de muitas aulas assistidas de barriga cheia, que quanto maior a concentração, maior o passo na espiral cónica que nos aspira irreversivelmente para o sono profundo que nem um narcótico pesado.

Problema:
Para provar que alguém tem razão, é necessário um acidente rodoviário suportando irrefutavelmente uma das teses.

Pergunto-me agora, qual será a opinião do estimado leitor, e presumo que raro que nem um hipopótamo anão, tem sobre este assunto?

Infelizmente falseei os resultados dopando-me com quase uma garrafa de 2 litros de refrigerante gaseificado de extractos vegetais, aromatizantes (incluindo cafeína) e corante caramelo E-190d. Não foi possível tirar qualquer conclusão e a experiência acabou por ser invalidada.

Eu sei que o meu pai faz de propósito e o propósito, passo a redundância, é só um: que eu saia de casa. Já tenho idade para sair da casa dele, mesmo sabendo que ele não é auto-suficiente numa infinidade de actividades.

terça-feira, fevereiro 17, 2009

Bandoletis Bandolinæ

Localização Clínica

Ambos os meus avós paternos foram enfermeiros naquele que terá sido, para mim, um dos mais completos espaços de diversão no qual convivi. Falo portanto, do Hospital Júlio de Matos e das minhas muitas visitas aos meus avós.
Apesar de na altura ter entre cinco a oito anos (não que não consiga precisar em que altura foi, estou é a afirmar que foi neste período), lembro-me com clareza de ter feito amizade com vários dos doentes lá hospedados (internados seria uma palavra desnecessariamente forte). Eram todos pessoas com a faculdade da razão, apenas tinham uma percepção da realidade ligeiramente distorcida.

Se o Luizinho guardava recorrentemente escória fecal (vulgo cocó) nas algibeiras para atirar aos eléctricos da Carris, é porque teria certamente motivos para o fazer. Quem sabe se num dia, um revisor lhe bateu com o alicate de picar bilhetes no alto da cabeça, incutindo-lhe esta revolta? E o Armando, homem de bom coração e de enorme robustez física, que apenas conseguia andar de costas ("marcha atrás")? Será que não conseguia encarar o futuro por estar preso à felicidade  e conforto do passado? E como seria eu capaz de esquecer o meu amigo Manuel Rosa que, para além da boina até ao nariz que lhe impedia a visão e lhe abriu as portas a três atropelamentos violentos na Avenida do Brasil, metendo-o em coma durante uma semana numa das ocasiões, também tinha uma formidável capacidade de cálculo que lhe permitia, numa questão de meros segundos, saber com total exactidão o dia da semana a que pertencia um qualquer dia de um mês e ano. Por si só, pode não parecer grande o feito não fosse o Manuel Rosa padecer de Microcefalia. A enfermidade era de tal forma pronunciada que, no seu pequeno crânio, as orelhas e nariz pareciam pertencer a gigantes.

Em todos eles, iniquamente rotulados pela sociedade como "doentes mentais", lhes era certa a aptidão de se auto-reconhecerem aquando diante de um espelho.


Entrada do Circense

Porém, neste meu texto, será explanado alguém que não conhece a própria imagem reflectida num espelho. Alguém que precisa de ser protegido neste Mundo hostil e cruel. Ser protegido como se protegem as formigas do astro Sol, com uma lupa. Dar responsabilidades a este adorno de cabelo é a mesmíssima coisa que meter manteiga no focinho dum cão. Não só pela inutilidade da acção, mas também pela velocidade com que o cão a faz desaparecer, lambendo a beiça avidamente no mesmo instante em que a manteiga é colocada.

Dentro de um grupo de trabalho onde eu estava incluído, escolheu a sua tarefa baseando-se noutro trabalho que lhe arranjaram feito. Estava convencido que era só transcrever na véspera e o restante tempo era aproveitado a mandriar. O problema maior consistia no facto de ambos os trabalhos, em parte alguma, serem correlacionáveis. Como resultado imediato destas decisões, em adição a mostrar no último instante possível trabalho feito (ou o nada que fez se preferirem), aos restantes elementos do grupo, a sermos realmente uma empresa, estaríamos falidos ao fim de três anos de existência. Logo quando, supostamente, estaríamos a arrancar para o sucesso. Infelizmente para nós, quando se encontrava perante os elementos avaliadores numa apresentação ao "público", não teve a mesma intrepidez na reposta que sempre teve para com o restante grupo. Chegou a ser patético ao tentar falar por cima de quem percebia daquilo, tentado justificar aquele número negativo que se encontrava a negrito, com letra vermelha e bem no meio de uma tabela. Estava com a legenda "Total Capitais Próprios".

Depois de elogiarem pela primeira vez um trabalho, laureando o esforço de parte do grupo, os professores iam tendo um enfarte ao rirem alarvemente da ridicularidade do erro. Mais uma vez, os que foram louvados por quem avaliava, foram igualmente culpabilizados da situação por quem calaceou a tempo inteiro. Talvez aquela massa cefálica esteja leitosa e azedada, quem sabe?


Transcritos Pagãos

Vou trasladar apenas algumas frases chave do seu exemplar trabalho, corrigindo apenas o tipo e tamanho da letra que, na sua versão original, final e corrigida (é preciso que se note), contava com dezanove (19) variedades diferentes, fora as tabelas e suas inexistentes legendas. Antes de escrever a frase precedente, dei-me à fadiga de contar todos os tipos de letra presentes num trabalho de 8 páginas, em que metade do espaço era ocupado por muitas "mudanças de linha" e "gráficos informativos". Estive tentado a disponibilizar a versão integral da sua obra mas, devido ao seu teor fortemente cómico, corria o sério risco do meu blog ficar ofuscado.

"As despesas em electricidade e a agua, foram estimados em 80€ e 15€ para o primeiro ano. Nas despesas de material de escritório, estão incluídas as despesas em consumíveis, em papel, capas, canetas, etc. Esta despesa foi estimada em 75€ para o primeiro mês."
Gasta 75€ em canetas, capas e papel por cada mês e 15€ de água num ano. "Despesas (...) estimados", nas frases dele, é raro o sujeito que case bem com o verbo. Talvez seja adepto daqueles casamentos mais recentes entre rapazes que se presenteiam com limpezas de pele ou se enfeitam com bandoletes no cabelo.

"Não existem despesas em licenças de sistemas operativos e de outros programas, devido ao facto de serem utilizados programas sujeitos a pagamento de licenças."
Que, depois de uma "ligeira" chamada de atenção da nossa parte, foi meticulosamente emendado para:
"Não existem despesas em licenças de sistemas operativos e de outros programas, devido ao facto de serem utilizados programas não estão sujeitos a pagamento de licenças."
Será que só corrigiu meia frase e esqueceu-se da outra metade? Ou terá sido entorpecimento mental que lhe deu na altura?

A minha favorita, reencarnou várias vezes. A frase foi emendada em todas as suas palavras mas, voltou do mundo dos mortos:
"É efectuado um investimento de 20.000 euros em equipamento básico, de forma a imobilizar a sala de estar, a sala de reuniões e os escritórios de trabalho."
Em todos os vários dicionários que utilizei na minha exaustiva procura, "imobilizar" nunca apareceu como significado de "meter móveis".

"É pretendido ter um estagiário Profissional na nossa empresa, o que tem um custo na secção Honorários, de 576€, este valor é estimado devido ao facto de ser um estagio profissional a empresa ira pagar o correspondente a um ordenado mínimo, e ao subsidio de almoço, o restante do ordenado do estagiário será subcidiado pelo estado."
"Subicidiado" é o erro mais engraçado nesta frase labiríntica.

"Devido ao facto de a nossa empresa garantir na instalação que o cliente fica obrigado a pagar uma anuidade durante um periudo minimo de 5 anos, e devido ao grande investimento feito pelo cliente para a instalação deste produto, preve-se que o cliente estara interessado em manter a ligação a PositionFlow por um periudo superior aos 5 anos, por isso mesmo quando a PossitionFlow atingir a fase de maturidade e começar a entrar na fase de declinio, preve-se que a empresa nunca podera ter um declino muito acentuado, isto porque apesar de a empresa já não efectuar um grande numero de novas instalações, preve-se que os clientes pretenderam manter-se ligados a PositionFlow, e assim pagar a anuidade de forma a poderem utilizar o nosso produto."
Estou convicto que foi esta a frase que bateu o recorde de frase mais longa. Para além de frases repetidas dentro da própria frase, insistiu na palavra "periudo".

"Foi decidido que a sede da Position Flow seja nas instalações da Ana, esta decisão foi tomada devido a facilitar a iteração entre a PositionFlow, e a Ana, e também devido a Ana ter instalações de grande qualidade, e ter espaço suficiente para nos disponibilizar."
Não confundir ANA com Ana, nem confundir interacção com iteração. São coisas distintas.

"Como pretendemos ao longo dos anos entrar cada vez mais em feiras tecnológicas e com as actualizações desenvolvidas no software publicar em conferencias internacionais, então estimamos que esta despesa teria um aumento segundo a taxa de crescimento."
Não foi alcançado o sentido da frase e, como tal, foi totalmente erradicada do trabalho.

"De forma a empresa evoluir de uma forma regular e sem estrangulamentos, é efectuado um investimento em fundo maneio de 250.000 euros."
A locução preposicional "de forma a" é das mais frequentes aberturas de frase, embora na frase anterior, a piada esteja na expressão "sem estrangulamentos".

"Convém também aqui referir que não são apresentados os impostos a pagar sobre os lucros obtidos no quarto ano de funcionamento da empresa, pois considerou-se nestas projecções que os prejuízos podem ser reportados de modo a abater à massa tributável nos anos seguintes."
"Convém (...) aqui referir", isto é um trabalho para uma cadeira de uma universidade ou é-se um representante sindical de uma fábrica de calçado em Penafiel, que tenta mostrar indignação para com a entidade patronal, numa reportagem do Jornal Nacional da TVI? Os sindicalistas, na sua generalidade, discursam sem recorrer a gramática de tasca e conseguem-no sem incorrecções.

"Analisando a tabela do seguinte do balanço previsional, pode-se verificar que o crescimento dos activos da PositionFlow deve-se subertudo ao aumento das aplicações financeiras, ou seja pelo aumento da venda de produtos, e correspondentemente dos serviços prestados ao longo dos anos."
Que raio é isso de um "subertudo"? "Sobretudo" vem do "sobre tudo", que significa "principalmente" ou "acima de tudo". Agora "subertudo" deve vir do "súber tudo" na qual, "tudo", já se sabe o que significa. "Súber" encontra aqui o seu significado. Não percebi aonde é que se queria chegar. O engraçado é que "subertudo" volta a aparecer em mais frases.

Saliento, mais uma vez, que todas as frase estão no seu estado original. Qualquer erro presente não foi introduzido por mim. Já lá estava na derradeira versão para entrega. Ainda ficou exaltado: "eu tinha dito eu n me importava de formatar o trabalho, é que mandar isto como foi mandado acho q é um bocado mau". O que está mau afinal? A nossa ou a parte dele? Num trabalho, até chega a ser salutar uma gralha ou um erro ortográfico, faz realçar a correcção e perfeição do restante trabalho. Agora um trabalho que é um erro de uma ponta a outra, só poderá salientar a estupidez do seu autor. Enfim, este marinheiro pouco se importa que o barco vá ao fundo: "Mas pronto eu tb n quero saber se passo a disciplina ou n, foi so para chamar alguns aspectos, para o caso de chumbarmos, que acho q é algo bastante provavel, gostava de n ouvir novamente a dizer q a culpa é toda minha, e q eu n trab, etc."


Evasão de Personalidade

Penso que a amostra foi razoável para se ter uma ideia clara da personagem. Embora a imagem que eu tenha dele seja bastante difusa.
Se a leitura deste resumo é suficiente para fartar o mais persistente dos persistentes, imagine-se corrigir o texto todo numa tarde, já com a cabeça moída com o debate inútil para fazer acreditar a importância de entregar o raio do trabalho atempadamente.
Existiu apenas um grande empenho em duas únicas tarefas, desculpar-se e culpabilizar os outros. Entre o trabalho já estar feito, mas estar ou ter ficado sem Internet no momento de enviar, estar na terra e o computador com o trabalho ter ficado em casa, não ter sido avisado das reuniões do grupo (com avisos feitos simultaneamente para o email e por mensagens escritas para o telemóvel), ter trabalhos para seis cadeiras mais a tese até ao ridiculamente vistoso: "não mostro porque vocês também não fizeram nem mostraram nada feito". A cisma e o devaneio estiveram sempre presentes.


Epílogo

Talvez o nobre leitor, ao longo do texto, se tenha perguntado:
"E se o quadrúpede em questão, lê esta reportagem?"

Apesar de a interrogação ser válida, este meu texto será lido pelo dito, tantas vezes quantas as que ele leu o que eu fui redigindo ao longo do trabalho. Nenhuma. E, como já tinha dito, se ele é incapaz de distinguir a própria imagem num espelho, muito menos se reconhecerá neste texto. Aguardo sofregamente o resultado de toda esta experiência.

sábado, fevereiro 07, 2009

Di Ultimus Studius

A figura que se segue, está presente num dos blogs mencionados na lista presente no meu blog:

Apesar de isto parecer uma piada óbvia para ou sobre os estudantes universitários, só os alunos de elite, como é o meu caso, se aperceberam do dilema tratado nesta tira desenhada.

Acontece que, ao longo do semestre, não dá para estudar em pequenas porções. Porquê? Porque só é concluída a matéria no fim do semestre e, só aí, se pode ter uma visão geral e global da matéria. Só assim se pode discernir capazmente o que é importante do que não o é, conseguindo ver, com clareza e lucidez, o papel de cada sub-conteúdo no conjunto todo. Só no fim, já em cima dos exames, temos em nossa posse a ferramenta de trabalho completa para começar a praticar eficazmente. Conseguimos saber objectivamente que direcção tomar num problema sem andar com rodeios desgastantes e desnecessários. Até lá estamos a tentar apagar fogos florestais com uma colher de chá.

Quem me garante que os professores não nos dão uma bicicleta para fazer uma travessia atlântica e nos omitem a existência do barco? Se mesmo de barco já é uma tarefa épica. isto sem nos assegurarem que não metem tempestades durante o percurso só para regozijo próprio, como seria com uma bicicletal? O que eles querem é que nos afoguemos todos, é o que é. Os alunos totós pegam logo no que lhes dão e depois queixam-se que têm azar. Os perseverantes têm o sangue frio suficiente para aguentar até à última e, só no fim, quando têm as várias soluções possíveis, escolher a melhor e privarem-se de uma morte certa.

Como se pode ir estudando ao longo do semestre? É como aprender a conduzir sem ter um carro completo. Ensinam-nos o que é um cilindro... e depois? Para que me serve tal coisa? Tirando casos raros mas existentes e cada vez mais comuns, ninguém monta num cilindro para ir fazer as compras do mês ou para levar a patroa a passear. Poderia fazer o trocadilho "a patroa que se passeie montada no nosso cilindro" mas não o vou fazer. Seria entrar na ordinarice e no brejeiro. O meu, é um blog de bem.

Resumindo o que escrevi, quem disser que dá para estudar ao longo do semestre, na realidade está a dizer que já montou um cilindro e se deu bem com a experiência ao ponto de a defender e recomendar aos outros. Sim senhora, ricos amigos...

sábado, janeiro 31, 2009

Levanta-te e Marca...

Haverá algo mais intenso que estar no Estádio da Luz e o Mantorras marcar um golo? Não o sei. O que sei é que parecia um Big Bang maior que o primeiro.

Cheguei a temer que não restassem sobreviventes fora do estádio tal foi o impacto da coisa.

Aparentemente ganhámos por 1 a 0. Mas, como o Mantorras consegue dividir por zero, na verdade, o resultado final foi ∞ a 0.

O Mantorras é um Soldado Universal, código SLB09, e aquele joelho é uma arma atómica. Parece que coxeia mas, na realidade, são os hidráulicos que estão a enriquecer urânio. Precisa apenas de quinze minutos em campo para carregar o núcleo até ao nível máximo de energia e armar o disparo para o golo. Depois tem que ser mergulhado em gelo para evitar o sobreaquecimento.

A Salvação Mundial é de origem africana mas não se chama Barack Hussein Obama... chama-se sim Pedro Manuel Mantorras!

Se depois do que foi visto por muitos, a actual situação do Mundo não rejuvenescer, então nada mais o fará. Quem não ficou motivado para trabalhar construtivamente até sucumbir para o lado?

Numa noite de dilúvio, o Mantorras, que nem Moisés, separou as águas. Eu assisti a todos os sinais bíblicos pela sua ordem sagrada:
- O Mantorras ser convocado;
- O Mantorras fazer aquecimento;
- O Mantorras entrar no jogo;
- O Mantorras, na primeira vez que toca na bola com o pé direito, fazer um golo.

A alegria foi tanta que, no meio dos abraços aos meus familiares, dei um abraço ao sujeito que estava ao meu lado sem o conhecer de lado nenhum.

sexta-feira, janeiro 09, 2009

Wampir Upir

Hoje fui, como se costuma dizer, fazer análises.
Conscientemente, já não me tiravam sangue há uns bons anos. Inconscientemente nada posso afirmar. O que é certo é que, duas a três vezes por mês, durante a noite, sou visitado por uns anões cinzentos muito cabeçudos. Observam-me estáticos aos pés da cama e, enquanto isso, fico com as acções musculares entorpecidas. Sinto-me a pairar no ar e a atravessar as janelas em direcção a um prato luminoso que paira em frente ao meu quarto. O que me fazem ao certo não sei, só sei que tenho uma antena que por vezes, quando menos se espera e em momentos inoportunos, se estende para transmitir um qualquer sinal.

Já ontem tinha tentado ir fazer as ditas análises mas, como já tinham passados 3 minutos para lá do horário de recolha, não fui atendido. Hoje codilhei-lhes as voltas e cheguei 3 minutos antes da hora do fecho do estabelecimento.

Tive que largar 20 €uros para me sugarem sangue. Este dinheiro todo para ver o vampiro do enfermeiro a encher um copo de três com o meu sangue para desembuchar os dois rissóis de peixe que estavam num pires em cima da bancada. Como é que eu sei que eram rissóis de peixe? Se o morcego estava a beber o meu sangue para não ter que pagar vinho, pela certa também não iria abrir a carteira para comprar camarão.

Pelo aspecto do meu sangue, já o devia ter mudado aos 25 anos. Estava muito escuro e queimado. Às tantas é este o aspecto que o sangue de primeira deve ter: concentrado e enriquecido para garantir melhores performances.

quinta-feira, janeiro 01, 2009

Milénio Benfica

Que Benfica é a unidade que mede o Universo de uma ponta à outra, já todos nós sabemos. Que o Benfica é o Todo Absoluto, também não é nenhuma novidade.
O que nem todos sabem é que, até o Ilimitado, tem um centro.

E onde fica tal ponto unidésico (relativo à geodesia do Universo)? É óbvio que se situa no meio campo do Estádio da Luz. A estátua do Eusébio e a Águia são referências que permitem a triangulação, facultando a todos os habitantes, e inabitantes também, do Universo saberem onde se encontram com exactidão.