terça-feira, dezembro 14, 2004

Mastodonte Cardioplegia

Recebi um pequeno aviso que seria melhor actualizar o blog... este foi-me enviado pelos Deuses e de ínicio confundido com o terpidar normal de o elevador, visto que estava na cabine do mesmo e estava a chegar ao andar de destino. Sim, falo do sismo, se assim se pode chamar. Eu hoje como dormi 12.30 horas (deitei-me era meia noite e meti o despertador para as 9... lembro-me de ter carregado nums botões para "dormir mais um quarto de hora" e de ter acordado às 12.38) andei todo acanhado como se tivesse vestido um fato pressurizado a 8 G's (até estar quieto cansava) e portanto estava inerte a qualquer interacção com o mundo exterior. Tudo estava difuso e muito distante.

O que achei curioso foi, quando voltei à rua, observar um ligeiro pânico nas ruas: "vamos morrer!!!", "Satanás está abrir rocha e vem lá do profundo Inferno!!!" não... estou a exagerar! Foi a atitude das pessoas, tirando um grupo de "gentinha" (os que desceram as escadas aos gritos e quase a chorar porque vinha lá o "armageddon") que tendia a não sair do pátio da alameda e não tirava olho do cimo dos prédios para ver se ainda abanavam ou se caíam matando todos os teimosos que lá permaneceram apesar dos seus avisos e recomendações ("é bem feita! Eu bem os avisei que isto ia tudo abaixo... eu sei muito bem como é que estas coisas funcionam! Sim, porque vivi durante muito tempo em França e eles lá é que têm muitas coisas destas. Isto de tremores de terra é coisa de país evoluído, nada que aconteça nesta pasmaceira." Já agora... a frase antes do parêntesis é do tipo "apneia"), o resto do povo tinha o seu tema de conversa todo centrado no abalo tectónico: "a minha casa foi abanada com uma força... aquilo era assim... «zum-zum» (gestos violentos como quem sacode abelhas dos braços)", "o movél da sala arredou-se um metro d'onde estava", "a minha televisão, que é dessas grandes e modernas, ia sendo cuspida contra a parede", "foi tão violento que o Algarve ia sendo engolido pelo mar e o Porto desmoronando...". Outros ainda falavam do sismo de 1755 e outros sobre o que viram num canal temático e ainda havia quem mandasse vir com que não sentiu uma "coisa daquelas". Já para não falar dos que teimavam em dizer que tinha sido o metro a passar mesmo depois de ter sido anúnciado no telejornal que tinha sido um sismo de 5,4 na escala de Ritcher.

Se ao invés de aviso, tivesse sido a ira dos Deuses que me protegem, aí sim teria sido um sismo. Um abalo de dimensões dantescas enviado pela cólera dos criadores do Universo, um grito da Terra que traria o caos ilimitado e a destruição incomensurável. Aí sim, podia-se dizer que se tinha sentido uma ligeira trepidação, mas nada que nos preocupe ao ponto de não pararmos de falar sobre o assunto.


Como foi prometido ao magnânimo e imponente Zé «Grande Mestre Feiticeiro», e também como arquivo histórico, vou relatar um pouco do Estoril Historic Festival 2004 onde vi automóveis que transformaram, naqueles dias, a minha realidade num estado de vigília inconsciente. Ir para além do breve relato iria condicionar a parca hipótese de raparigas lerem isto... que safou da!

O que importa sim, é que foi um fim de semana verdadeiramente emocionante (adorei mesmo e não me meti para ali a dizer "ai que bom, ai que agradável" só para fazer jeito), assisti a várias corridas de veículos realmente históricos e belos, os autênticos automóveis (estava lá um carocha e um Lancia igual ao meu... antes de aparecerem piadas nas vossas cabeças amofinadas pela Besta). Lá vi belas peças de arte e de mecânica como os cromos raros da Fórmula 1 (Lotus que tinha sido pilotado pelo Nigel Mansel, um McLaren pilotado pelo John Watson, um Tyrrel pelo Jackie Stewart, um Ferrari do Gilles Villeneuve, um Copersucar do Emerson Fittipaldi, de entre os que reconheço como pilotos de F1 (também estava lá um RAM de 1983 que foi pilotado pelo Jean-Louis Schlesser, mas esse conheço mais do Paris-Dakar)), Jaguar E-Type a correr e em exposição (era mesmo gracioso e elegante), um Mercedes SL300 com 50 anos em exposição (este é certamente dos carros mais belos alguma vez construídos... foram produzidos 1400 e custavam o preço de uma moradia), carradas de Minis Cooper S (os verdadeiros, com dois depósitos de gasolina e com dois carburadores especiais) quer a correr quer em exposição, Mustangs que muita gargalhada me proporcionaram quando uns 7 ou 8 foram ultrapassados no fim da recta da meta por um Mini... e dizer isto aos meus colegas que desde que viram o «dá fést ain dá furriós» são peritos em automoveis e o Mustang não há quem o "pape" (inventaram desculpas ridículas para o facto do Mini os ter ultrapassado: "o piloto do Mustang era um granda nabo..." -eram 8 Mustangs e não 1, "o Mini estava todo mexido" -os Mini só podiam levar o mesmo tipo de preparação que os Mustang, "tu viste-me o «Tu Fést Tu Furriós»?" (disseram-me isto com ar triunfante e depois começaram com umas hitórias de "nitro" escondido e recusei continuar a compartilhar o que vivi)).

Aliás... o que mais me espantou foi ao contar isto a alguns desses colegas que se dizem homens (há uma forte suspeita que a válvula unidireccional do esfíncter ou esteja estragada ou tenha sido alterada à marretada de corneta para suportar uma conexão bidereccional), estes (que é só um mas assim posso desviar a conversa se o confrontar pessoalmente) começarem a falar do Saxo Cup como se fosse «a grande máquina»... para quem viu Formula 1 com motores cujas rotações ao relanti andam entre as 4.000 e as 5.500 rpm e cujo "redline" nunca mais aparece... um Saxo? Os limites máximos de um são os limites mínimos do outro.

É que a Formula 1 na televisão é uma coisa, agora ao vivo... eu, que tinha acesso à pitlane, consegui ficar no resguardo mesmo no meio da recta da meta (onde estão uns marmanjos com as placas com o tempo dos pilotos). Senti aquelas magnificiências a deslizar tão perto de mim num estrondo de sensações. Vê-los era quase impossível para o olho humano. Até fiquei arrepiado e transtornado tão mítica era a sua passagem... o ruído ensurdecedor que me trespassava quase me arrancava a alma com a velocidade (já para não falar dos ouvidos que ficaram acampaínhados).

A delicada elegância com que estes veículos abordavam as curvas parecia a de uma bailarina francesa adolescente a dançar ao som do Lago dos Cisnes num disco de vinil de 33rpm tocado a 78rpm (45rpm não eram suficientes para demonstrar a velocidade)

Para além da Formula 1 e das várias corridas de clássicos (Ferrari 250 GTO e 275 GTB, Aston Martin Project, MGB, Corvette de '62, Lotus Elan e Elite, Shelby 350 GT, Marcos GT, TVR Griffith, Porsche 911, Jaguar E, De Tomaso Pantera (ficou famoso porque o Elvis tinha um, é italiano com motor americano e cospe fogo pelos escapes cada vez que há uma redução nas rotações), BMW 2002 Alpina, Ford Escort MKi, AC Cobra (e os seus ruídosos motores), e um Daimler Benz 300 SEL com motor de 6 litros... entre outros) e das motas históricas também houve aquele que, certamente, foi um dos pontos altos deste evento. Foi, sem dúvida, o “Slalom Michelin Rali de Portugal”, acontecimento que recriou a prova de fecho daquele que foi o nosso grande rali do Campeonato do Mundo, outrora denominado como “O Melhor Rali do Mundo”.

Tinham os mini-Minis (Minis cortados, sem os lugares de trás) na sua classe própria porque "limpavam" aquilo tudo se estivessem com os outros. As primeiras vezes eram bonitos de se verem... depois irritavam por fazerem aquilo tudo direitinho, à primeira e sem espalhafato. O que a malta quer é algazarra: muito barulho, muita borracha queimada, saidas e enganos no circuito, que eles derrubem muitos pinos e obstáculos, que façam tangentes aos muros sem intenção, isso é que nos faz levantar das bancadas e bater palmas, nos faz sentir emoção e adrenalina no corpo. Tudo isto junto só foi possível com os Ford Escort, Lotus Cortina, Lotus Talbot, Datsun 1200 e o Alfa Romeo SZ (o único que vi ao vivo até hoje... fiquei perturbado ao recordar quem adorava o carro e já não o poderá ver) do Rodrigo Gallego (que para quem não sabe, é português e é o actual campeão de TGP (F1 clássicos, "Thoroughbred Grand Prix")).

Muito engraçado foi quando choveu (teria sido muito mais engraçado se eu não tivesse ficado à chuva sem chapéu...), que proporcionou um grande bailado de Datsuns 1200 (tracção traseira) nos "ésses" do Autódromo do Estoril. Mas o que me fez rir mais, ou pelo menos deu vontade de bater em alguém, foi ouvir, quando a chuva ainda se aproximava lá ao fundo, um "cavalheiro" ao meu lado dizer: "oh pah ela... até deita fumo, depois não é de admirar que hajam tantos incêndios!"

Eu e o meu amigo Vencilis, só nos imaginávamos: "E agora vinham ter com a gente e diziam que precisavam de dois pilotos para uma prova qualquer... e agora era mesmo verdade", "e agora por sermos simpáticos e muito bonitos uma velha rica dáva-nos um carro destes à escolha". No fim já nos contentávamos se alguém nos deixasse dar uma voltita numa mota miniatura que estava lá à venda e que só os meninos ricos tinham acesso.


Tanta excitação e comoção vivida, originou-me um aperto na bexiga. Mas assim que ouvi a ignição de um F1 que se encontrava a um metro de mim(e não mais de 1.05 metros), tal constrangimento acabou por desaparecer naturalmente devido à adrenalina bombeada em altas doses directamente no sistema nervoso a um rítmo que apenas me permitia inspirar emitindo um pequeno som gutural, expirar era algo fora das minhas limitadas capacidades. Olhos de tal forma abertos que só não me caíram porque bateram nos meus novos óculos "Jorge Armando". Estranho foi o "quentinho agradável" que senti nas pernas... ainda está por explicar.

Bom, talvez não seja assim tão difícil de explicar... momentos antes tinha ido "órinar" para me vangloriar que já tinha expelido líquidos pela uretra na retrete do Autódromo Fernanda Pires da Silva (gosto muito desta palavra... "retrete", deixa o lateiro que há em mim falar). O quentinho era originário dos escapes do bólide que, de pulmões cheios, sopravam monóxido e dióxido de carbono misturados com muita gasolina mal queimada.

Muitos, ao lerem estas últimas linhas, pensaram certamente que se tratava de um regresso meu à meninice. Enganam-se... embora com muita pena minha.


Esta paixão por automóveis remonta a esses tempos, aos tempo do infantário. Onde, dos meus brinquedos preferidos, constavam pneus usados amontoados no pátio. Os pneus maiores eram os mais apreciados, porque ganhavam mais balanço e podiam ser decisivos numa corrida, nem que fosse no mau sentido... às vezes não tínhamos "unhas" para o pneu, as pernas fraquejavam e começavam a ficar para trás, e ao tentar controlar o acelerado aro de borracha, dávamos por nós num estonteante "drift" de barriga, cuja fricção no chão nos aquecia ao ponto de deixar ferida, calcanhares a rentar a nuca, e claro, as mãos, que cuspiam a pouca gravilha que não ficava agarrada à carne, e os braços, de cotovelos rasgados nas mangas, permaneciam ambos esticados para a frente num último desespero para agarrar o potente veículo e a honra na corrida. Tempos tristes vivem as crianças de hoje. Só podem brincar, se assim se pode chamar, com produtos aprovados pela UE... quem não sente saudades da zona da oficina no infantário? Onde bastava a educadora desviar o olhar e já estava um a guinchar de extrema e descomedida agonia depois de ter mutilado um ou mais dos seus pequeníssimos dedos com o martelo... à "pala" desta recordação soltei uma gargalhada abafada num local dedicado ao estudo onde o culto pelo silêncio é exigído (já não basta estar no curso em que estou e a fama que ele acarreta, que não contente com isso, devo andar sempre a "queimar-me" sem ter consciência dos meus actos).

Tinhamos livre acesso a substâncias psicotrópicas (quem é a pessoa, que se diz pessoa, que nunca comeu ou plasticina ou sabão azul, lambeu sticks de cola UHU ou encheu a boca de tinta?) que nos permitiam falar com os espíritos da casa e que também nos proporcionavam umas boas corridas, que eram mais levitações a grandes velocidades pela sala de "aula" que outra coisa. A sala... com as paredes repletas de desenhos que nos dias de hoje nos parecem dois traços semi-rectos e um meio curvo mas na altura eram suficientes para representar, com exactidão queiroziana, a família a visitar o Mosterio dos Jerónimos, num dia de sol forte em que se pediram, três cones com duas bolas de gelado cada (e seus respectivos sabores). O pedido, como facilmente se discernia com uma breve análise ao desenho, tinha sido feito numa carrinha de gelados conduzida por um homem de boné vermelho com uma estampagem barata de um urso polar a subir a um iceberg. Era ainda possível aos mais perspicazes, notar que o mais pequeno elemento da família tinha a camisola suja de gelado de frutos silvestres.


Eram tempos tão belos esses da infância, onde tudo era tão simples... não havia problema que aguentasse mais de 18 segundos na nossa cabeça e quanto a raparigas eram só para levantar as saias (apesar de não percebermos para que o estávamos a fazer... deve ter sido algum velho que nos ensinou a troco de rubeçados, para puder estar a ver o festim "lá do fundo"), nada destas complexidades e enleios que nos acabrunham nos tempos que correm (não tem o significado que pensam ao tirar pelo ínicio da fonia da palavra). E eu, que era uma paz de moço, um cachopo muito atinadinho, que era o exemplo dado por muitas senhoras de idade para os netos dela.

Quando os outros meninos me chateavam ou me contrariavam, com um ar muito tranquilo enquanto os olhava na raiz dos olhos, e como se estivesse a fazer o melhor para os dois (assim a vítima ganha-nos uma certa confiança, fica à vontade e mais serena de espírito, é uma sensação idêntica à sentida pela gazela quando é hipnoticamente fitada pelo leão antes de este atacar) enfiava-lhes o dedo indicador pela cavidade ocular acima. Ficava logo o assunto tratado sem preocupações e sem burocracias de maior.

Era eu também quem tinha os desenhos mais bonitos da sala... quem, por algum instante, os tinha melhores que os meus, os seus apareciam estranhamente riscados por obra do acaso. Eu, com olhos reluzentes de bambi atropelado, prontificava-me a ajudar na procura do culpado. Se tinham o azar (sim, o azar era deles e não meu) de o meu "boneco" aparecer riscado, era sinónimo que muitos meninos iriam ter com a educadora a berrar em baba e ranho (que já escorria por aquele "bibe" aos quadradinhos azuis ou cor-de-rosa e com um botão de cada feitio), com ambas as mãos das pestanas, ao passo que eu estava sentado a brincar com as plasticinas muito sossegadinho, com ar de que não é nada comigo na sua variante "ar de quando cá cheguei já ele estava assim nessa fantochada".

Tempos belos esses em que todos nós desconhecíamos o racismo e a descriminação. Era a época da inocência, todas as nossas acções eram puras, simples e livres de preconceitos.

Lembro com saudade o trabalho de área-escola do 5º ano, em que o projecto consistia numa pequena manifestação contra o racismo. Desfilámos pelas ruas e avenidas de Alvalade ornamentados de vestimentas escuras, fios com bolotas e nozes, exibindo com aparato uma máscara castanho-nharro elaborada por nós (lembro-me, como se fosse hoje, que o que mais me custou fazer na altura, foi a carapinha em relevo...). Foi com esta mesma inocência que gozámos com o Hélder, com o Ilídio e com o Reginaldo por estes já estarem mascarados... tiveram todos 5 por estarem melhor caracterizados que os demais (claro... aqui já não há racismo, fomos descriminados em relação a eles, mas aqui já o SOS Racismo não intervém, tal como me desliga o telefone na cara quando lhes ligo a dizer que fui assaltado por 7 turras em plena camioneta na Costa da Caparica).
É que até a jogar ao "guélas" falavamos sem malícia: "Cãe hiéha jugare?" Ao que alguém protamente respondia -" éu mas carrádo" ou "héstu hóquei hemádu"... ah meninice que não voltas.



Lembrei-me de uma questão que me intrigava há uns tempos atrás e a qual me recordei à pouco tempo, por estar a reviver tempos passados: que fenómeno exotérico ocorreu no início do video amador (no tempo do 8 mm e das máquinas de projectar Eumig (que toda a gente tinha uma para projectar um filme mudo de desenhos animados, poucos eram os filmes e viam-se sempre como se fosse a primeira vez), este fenómeno, que vou introduzir já mais à frente, era muito raro porque as máquinas de filmar eram raras como causa do seu elevado preço e da revelação da fita não ser barata. Não havia portanto a vulgaridade de fazer "filmes amadores". O preço do meio de suporte da informação e da sua revelação originavam uma grande e séria ponderação sobre o "consumo" de fita. 15 minutos davam para testemunho de umas férias de 2 semanas num local nunca antes visitado e mesmo assim sobravam sempre 3 minutos que eram guardados para algum acontecimento "especial". Era impensável que um fim de semana na "terra" desse direito a 72 horas de "reportagem" onde até os "colhões" (passo a expressão) do burro era motivo de filmagem por aparentarem um maior volume ao da semana anterior. Filmar cerimónias "religiosas" de parentes afastados? Era o casamento ou baptizado do filho e mesmo assim eram 2 minutos no máximo para não cansar muito a máquina. Filmava-se os primeiros passos do filho e não a saga "Quando o Ruben era Pequeno" ("primeiras" quedas como tentativas de passos (Imaginem-se a ver um Best of João V. Pinto num DVD de duas horas), o puto a dormir num "curto" filme de 57 minutos (aquilo ou uma foto só diferenciava se a foto estivesse tremida), as primeiras laradas no penico...)) que obrigava as pessoas a andar dobradas, em frente à câmara de vídeo, a olhar para a objectiva que nem um gato a olhar fascinado para os farois acessos de um carro em movimento, momentos antes de uma fatídica projecção de 270 metros ou de uma prensagem, irrevogável pelo destino, num radiador anónimo?


Ou era um fenómeno paranormal provocado pela radioactividade do led vermelho da câmara de vídeo, que avisava que estava escrito "rec" no visor, em associação com a figura de um parolo barrigudo temporariamente vesgo de um olho, semi-careca (culpa da meia-idade), fazendo uma cara de agudo sofrimento para conter o ar no tórax e não tremer (tinha efeito contrário curiosamente... tal eram as "guinadas" oscilatórias que vitimizavam a gravação. Enumeras foram as visitas que perguntavam -"Foi filmado dentro do carro?" ou "Estava assim tanto frio ou estavas a assoar o obué (a mesma actividade de nome "dar corda ao palhaço" mas mais frenética e descontrolada)?") ostentando tal misterioso aparelho?



Apenas após, ou após apenas, um ano tive direito a um pequeno incremento no número de comentários no blog... "sim sanhora!". Já passei o milhar de visitas mas muitas delas continuam a ser devidas ao resultado da combinação "Lenka preço certo em euros" em alguns motores de busca.

É preciso ganhar-se algum estatuto e, principalmente, ofender muita gente para se conseguir um comentário. Confesso que alguns dos comentadores (quase todos para precisar) foram forçados a comentar, uns sob ordem directa sobre coacção de represálias e outros por verem os seus nomes muitas vezes mencionados, mas também há quem o faça de livre vontade.

Quem deu a ajuda para este blog ser criado, prefere o sigilo do email para comentar, assim garante que as sentenças e identidade não sejam profanadas.

Tenho uns leitores fiéis que parecem apreciar o meu produto e nem é preciso avisá-los que fiz actualizações no blog porque vêem cá de livre vontade.

Depois tenho os leitores mais recentes... com esses é mais difícil de lidar porque esta juventude tem um humor muito especial... riem-se com coisas muito próprias lá deles. Espero que encontrem aqui motivos para se rirem, nem que seja de mim (neste caso é bom que andem com cabeças de coelho ao peito para evitar o mau olhado (Se leram os posts todos vão ver que esta já tem algum tempo)).

Há ainda aqueles (acabei agora mesmo de dizer um palavrão, que mais não é que o nome de um pássaro fenício ("Fovdvs Sasse"), após ter tentado partir uma bolacha dentro da boca para não me encher de migalhas e a bolacha se ter partido com um corte perpendicular ao que eu intencionava, pulverizando-me de estilhaços.) que assim que entram aqui nas "instalações" desta facécias (o dicionário tem cada palavra... eu com um vocabulário elementar de dois ou três grunhidos monossilábicos (que basicamente significam "comida", "água" e "canal do aparelho genital dos mamíferos-fêmeas que se situa entre a vulva e o útero" (Esta frase anterior tem certamente os conteúdos mais ordinários que escrevi até hoje...)) combinados, consigo arranjar sinónimos para quase tudo) dizem: "Ena, é tão grande (não escrevi isto com bons sentidos)... hoje não tenho tempo, mas amanhã já leio, tah?", "Escreves bués..." e depois remetem-se ao silêncio. Estes, que são a grande maioria, já sei que nunca vão ler isto.
Escrevi este post, certamente o maior que escrevi desde sempre (embora quantidade não signifique qualidade), a pensar nestes últimos... ou seja, acabei de me condenar a que esse grupo preponderante jamais passe das primeiras linhas. Mas não fiz mais que o que um garoto da Musgueira faria a alguém com quem não simpatiza, esticar-lhes o "mega" enquanto estam a virar as costas.


Há ainda aquela rede de malha fina para capturar uma melhor qualidade de leitores do meu blog. No ínicio do desenvolvimento deste post, pus um assunto menos atractivo aos olhos de uns, e só depois algo de "interesse" geral (como se o que escrevo interessasse a alguém). Assim garanto que quem leu o resto fê-lo com intenção e desígnio e não o fez de castigo. Vamos lá ver então, quantos chegaram até aqui, e quantos é que desses, estão dispostos a comentar de livre vontade. É que um blog que não seja lido, não tem razão de o ser...