terça-feira, fevereiro 05, 2008

Circus Maximus - Palhaçæ Inutilis

Heis algumas das manchetes dos jornais da semana passada:

"Tigres fogem de carrinha do circo. Trânsito cortado na Nacional nº 3.".

"Tigres à solta na Azambuja atormentam locais."

"Recessão económica Norte-Americana provoca descida de tigres à Azambuja".

"Tigres devoram idoso deficiente na Azambuja. Ver para crer!"

"Forcados do Sport Lisboa e Cartaxo pegam 2 tigres na Azambuja. Paulo Bento vai ao bruxo."



O alarmismo aumenta o galope conforme o jornal em questão e cada um distorce a realidade à sua maneira.

Não era questão para tanto berreiro. Não havia necessidade de chamar a GNR, ainda por cima em horário de almoço. Eles não estão preparados para este tipo de serviço. Bastava mandar dois anões, carecas e peludos de dorso, intervir no local e o assunto era resolvido com a maior das serenidades. Ocorrem-me, assim escolhidos totalmente ao acaso, estes dois nomes:

Mal-Oh Machado e Arthur Lopez Ribeiro.

É mesmo este o nome deles, não fui eu que os alterei com medo que os ditos, recorrendo a um motor de busca, dessem com este texto.


Tigre vai ao banho no rio Tejo com o intento de se refrescar.

A sua preparação para a obra era do mais simples que pode ser concebido. Besuntavam-se um ao outro, evitando assim o envolvimento de terceiros, com o molho resultante de assar pernil de cabrito no forno. Seguidamente disfarçavam-se de ovelhas (da mesma forma que o mais sano dos imperadores, o imperador Calígula, filho de Germanicus e sobrinho de Tiberius, obrigava os cristãos aprontarem-se antes de os mandar para a arena). Para eles encararem com maior seriedade o seu papel de ovelhas, antes da entrada em cena, eram levados ao local, com o intuito de cobrir os dois heróis, dois carneiros de grande porte. Tal como os cães que dão dentadinhas de amizade no pescoço das cadelas (ou nos braços dos donos), os carneiros em cada investida, davam-lhes uma marradinha de afecto na nuca.


Um dos carneiros observa potenciais rivais ou pares.
Uma análise mais cuidada da fotografia, permite concluir que ele olha na direcção do
espectador
.

Depois deste ligeiro procedimento, o Mal-Oh e o Arthur eram instigados contra os tigres.


Se os nossos (nossos uma porra) intrépidos guerreiros não se safassem, garanto-vos que não se perdia nada. Aliás, ganhava-se com a poupança da alimentação dos animais.

O Lopez Ribeiro não serve para nada. Até eu, que estou há menos tempo neste mundo, disfarço melhor quando não sei fazer nada, pelo menos sempre me esforço um bocadinho. Quantas vezes dei por mim a tentar copiar pelo colega do lado, ou pelo da frente, ou mesmo pelo de três mesas atrás, mal o exame tinha começado. É uma coisa do instinto, algo involuntário que assim o é programado para a nossa própria sobrevivência. Ele nem para isso presta, nem para medíocre está qualificado.

Durante uma revisão de prova de uma disciplina na qual ele era o regente e leccionava as aulas teóricas (lia os acetatos... eu também sei ler e, de qualquer das maneiras, não é a ouvir o serviço meteorológico que se aprende Meteorologia), esteve a olhar para o monitor do computador durante o penoso tempo que lá estive. Enquanto isso, o outro professor, que só tinha turnos de laboratório apesar de ser o único que mostrava saber do que se tratava na cadeira, atendia os alunos. Certamente que o regente lia um artigo científico de elevada importância e interesse.


Arthur ao computador é um cenário de fundo constante.
Aluno pisado mentalmente até ao desespero.

Até que começou a abanar a cabeça na vertical de uma tal forma que me levou a crer que algo mais se "passava" naquele monitor. Julguei mesmo que ele estava a ver este vídeo:



Qual não é o meu assombro, quando me aproximo esquivamente, e dou com ele especado a olhar para o monitor onde apenas se encontravam os ícones normais num ambiente de trabalho em Windows: a "Reciclagem" e "O meu computador".


Já que não queria sair do computador, para desmontar um osciloscópio só para ter que montá-lo outra vez e mostrar que estava ocupado, ao menos que visse qualquer coisa com sentido. Qualquer coisa que justificasse esta postura em frente ao computador:


Arthur Ribeiro refastelado na cadeira.

Se ele estivesse a ver o vídeo que se segue, por exemplo, teria a nossa total compreensão. Nas mesmas condições em que o docente se encontrava, qualquer homem teria feito o mesmo ou pior. Mas na altura em que ele se tinha arrimado para trás, já o monitor estava desligado há muito como se pode observar pela fotografia anterior. Porque continuava ele a olhar para lá? Será que ainda acreditava que nos enganava? Ou será que já nem se dava a esse trabalho?





O outro professor que aparece na fotografia, que era o único que percebia alguma coisa do assunto, ao falar com os alunos utilizava uma linguagem polida que fica bem em qualquer engenheiro. Tão polida que já nem tinha verniz, era só o rude ferro com a pintura toda estragada.

"Eu demoro mais tempo porque esta merda está toda baralhada..."

Escapou-lhe - pensei, enquanto o professor procurava o meu exame. O exame estava dividido em molhos separados por grupos. Um colega tinha um número parecido com o meu, com o qual o professor me confundiu. O professor vasculhando já no segundo grupo de exame, voltou a escolher o exame do meu colega pensando tratar-se do meu:

"Ah fouda-se... este é o do outro cabraum..."

Disse ele com um discurso sonante e pausado por forma a garantir que todas as silabas fossem bem interpretadas. De salientar que se aquele era o "outro" há mais daqueles entre nós alunos.


Quanto ao Mal-Oh, que aparece descaracterizado na fotografia abaixo colocada, também não há muito mais a fazer por ele.



O Mal-Oh, com o seu molestante bafo, embacia-me a lente da máquina de forma irremediável.

Cada vez que o Mal-Oh abre a boca para falar, na minha mente projectam-se imagens do circo Atlas. Não tanto por o Mal-Oh ser um palhaço a falar, mas sim pelo cheiro característico dos bastidores da tenda do maior espectáculo de variedades do mundo que é emanado da goela dele. É uma mistura de difícil separação mas aonde ainda é possível discernir a presença de estrumes de vários e variados animais. Entre eles: os elefantes, os burros, os dromedários, os macacos e os palhaços e anões (como os dois valentes aqui tratados neste texto) que, tal como as outras feras, também deviam guardados em jaulas.