sexta-feira, dezembro 21, 2007

Natale Sine Prenderas


Um Feliz Natal para todos. Em especial para os professores de quem eu não gosto. Desta forma tento deixar uma porta aberta para o bom entendimento entre todos nós. Afinal, é para isso que serve o Natal.

A eles lhes desejo um Natal próspero, cheio de doces, guloseimas e muito açúcar.


Podia ficar por aqui, mas penso que poucos são os que conseguem alcançar a profundidade da mensagem.

Que esses professores, que até aqui eu não gostava, comam tantas doçuras que, sentirem-se mal, é uma inevitabilidade lacónica:

- Isto até amanhã passa... vou descansar e logo se vê.

Ora acontece que no dia a seguir, estão todos na mesma e decidem ir ao hospital. Depois de três horas à espera de serem chamados e de mais duas horas para receberem o resultado das análises, são atendidos por um médico espanhol que os informa (individualmente, claro está) com ar preocupado, por não saber como há-de dar a notícia:

- Óh-lah-lah... Usté tiénes lós diabés upalá upalála!

Que, para quem não domina um espanhol fluente como o meu, significa:

- Que diacho... você tem os diabetes altos.

E dito isto cortavam-lhe os dedos mindinhos pelos ombros.


Passados três dias de repouso podiam aparecer lombrigas, resposta impulsional ao escalão unitário de nome "açúcar", que vem com algum tempo de atraso.
Era vê-los, sem braços, com uma coceira no refego das entre-nalgas de os levar a uma insanidade lancinante, e não conseguirem apaziguar vigorosamente a ânsia com as unhas, até fazerem ferida.


Este modelo de "Feliz Natal", que desejo aos professores que, no passado, não gostava, não se aplica ao professor que é igualmente merceeiro. O desgraçado desmaiou na minha sala do teste de Fundamentos de Telecomunicações. Enquanto nos controlava e fazia o mapa dos alunos (para posterior comparação de provas para ver quem copiou) tombou e lascou um corno ao embrulhar-se de cabeça contra uma cadeira. Palavra de honra que não lhe estava a rogar pragas. Estava a mandar ao outro, esse sim, mas a este não. Não percebo.

domingo, julho 22, 2007

Homine Futebolis Totale


Márinho é o "homem-futebol", o atleta do momento de quem todos falam. Ele eclipsa a própria sombra (não percebi ao certo o que escrevi mas o feito soa a grande).


O Emblema do Coina

Apanha o 302 na Baixa da Banheira, aonde vive com os pais, o tio e a avó materna, com destino ao Fogueteiro. O seu lugar na camionete é o mesmo de sempre: em pé junto ao motorista para trocar os habituais dois dedos de conversa. Estorva quem entra, mas está longe a má intenção.



302 para o Fogueteiro parado no terminal.

Antes ia sempre a rasgar na sua BWS (o raio da scooter deve ter sido feita a pensar nos anões ou nos putos que andam de mota antes dos 16 anos) para os treinos. Com as chuteiras, compradas na drogaria do sr. Alberto com o dinheiro de dois natais, atadas uma na outra e penduradas à volta do pescoço lá ia ele de sorriso na cara, deixando um infindável rasto de fumo e cheiro a óleo queimado. Mas, depois de lhe a roubarem à porta de casa (um dos primos é que teve sorte, na mesma semana comprou uma mota igualzinha à dele por muito bom preço), vê-se obrigado a aceitar o caloroso convívio do tão prático transporte público.



Márinho sempre bem disposto. Aqui ainda na sua BWS.

Ainda há pouco tempo, uma senhora de meia idade que nunca se poupou na sagrada hora da refeição, ao deslocar-se no corredor da camionete, desequelibrou-se com um travagem mais repentina (louvável manobra do motorista que evitou atropelar um grupo de cinco cães que, mijando pequenos jactos de urina em tudo o que tivesse forma e existência, seguia cegamente uma cadela com cio). Com a aflição de uma queda eminente, tentou amparar-se no Márinho que, com o instinto de goleador que lhe corre nas veias, a fintou com uma simulação de ombros à Jardel. A velhota coitada, que estava de férias com a neta mais nova no Clube de Campismo de Lisboa (que raio fazia ali a velha? O CCL ainda fica longe), apesar dos inúteis movimentos desesperados dos braços (que se assemelhavam bastante a vigorosas braçadas de crawl), não evitou enfiar-se pelo meio dos bancos que nem um polvo numa estreita gruta à beira-praia, com os seus tentáculos a contornar as superfícies da rocha.



Polvo de grande porte camuflado na rocha.

Acabou por partir a placa dos dentes e rachar bacia. Agora tem uma prótese e anda com duas muletas. O Márinho, com o seu bom coração, retira todos os meses dos seus 200 euros de ordenado, uma parte para ajudar a D. Elvira nos seus dispendiosos tratamentos.

Como qualquer outro dia de treino, toda a viagem de carreira com aquela direcção, acaba em Covas de Coina aonde o Márinho sai a correr para o campo meio pelado meio plantado do seu clube, para se adiantar no aquecimento.



Campo de futebol do Coina.

A sua camisola só pode ter um número. Aliás, jogar com esse número é a única condição imposta ao clube no contrato feito pelo seu empresário (que é igualmente o padrinho de casamento dos pais). Esse número é o 76, o ano da Revolução, algo que é muito próprio, especial e importante (três palavras para dizer a mesmíssima coisa) para o Márinho. Importante será também não lhe dizer o verdadeiro ano da revolução, para não desmotivar o seu valioso espírito ganhador.



Item de coleccionador raríssimo e de valor inestimável autografado pelo Márinho.

O treinador, gordo, careca e com bigode, empenha-se pelo empenho dos seus jogadores. Usa um fato de treino, cujo fecho eclair faz marreca à frente, tem duas riscas laterais brancas e é lilás e laranja. O mister gosta de observar os seus pupilos a tomarem banho, chegando mesmo a fotografá-los. Incentiva o uso do chuveiro aos pares para dar "melhor" ambiente ao balneário, traz espírito de equipa e, além disso, poupa-se água. Antes de cada jogo, o mister, que faz também de massagista, esfrega vigorosamente as virilhas dos seus atletas com chocolate líquido para bolos para os seu valiosos jogadores não ficarem assados naquela zona com o esforço. Quando se deslocam para longe (à margem norte do rio Tejo, por mero exemplo) em jogos oficiais, o Márinho é sempre o escolhido para ficar no quarto do treinador. Márinho, ingenuamente e sem saber do que se acaba de salvar, recusa sempre. Prefere a camaradagem dos seus colegas. Estar a dormir na mesma cama do mister poderia demonstrar algum favoritismo e isso só iria enfraquecer a união da equipa. Apesar do seu futebol de elite, o Márinho não treina nem joga sozinho. O Márinho dá tudo pela equipa. A unidade faz a força e o Márinho dá muita força à unidade.



Um por todos e todos por um.

O patrocínio da pastelaria de fabrico próprio, "Boca Doce", para além da saudável estabilidade financeira ao clube, traz também o pequeno almoço e lanche dos jogadores e dirigentes. Para breve espera-se uma acção publicitária para a pasta dentífrica medicinal Couto, toda ela centrada nas habilidades do Márinho.

Márinho, sempre sorridente e confiante, vai dando leves toques de cabeça na bola enquanto o locutor profere as qualidades do produto para a higiene oral dos campeões. Os telespectadores, abismados como as maravilhas acrobáticas do Márinho ficam como que hipnotizados e a mensagem é-lhes escrita directamente no inconsciente, tal como uma mensagem subliminar. Para terminar, o Márinho, sempre a fitar o olhar atento da câmara (que também é o olhar atento do espectador), com um certo ar de triunfo de quem ainda tem mais alguma para nos surpreender, ampara a bola no peito e passa-a de bicicleta ao assistente que se encontra protegido atrás do caixote filmante. "Palavras para quê? É um artista português". De salientar o perigo que é passar uma bola de bicicleta sem desviar o olhar de quem o filma. Qualquer outro Cristiano Ronaldo teria partido e dado um nó ao pescoço nesse mesmo instante.


Pasta dentífrica Couto.

Às Sextas-feiras à noite, vai ao "Master Bar" em Almada (não confundir com o outro de nome homofónico) para assistir ao espectáculo "He's a Lady". Apesar da variedade e de nunca terem um set repetido, é lá o poiso de uma grande estrela. Uma pavoa de nome artístico Ofélia Dná Salarga. Não que o Márinho seja grande apreciador do género, muito pelo contrário, vai com a mesma intenção dos que param para observar acidentes com feridos graves. O Márinho procura a sensação só explicável quando o horror bate à porta do choque e pede licença para entrar.



Artista transformista ao rubro e em plena actuação.

O Márinho vai para casa incomodado e, ao menos tempo, com um certo alívio de tudo aquilo não ser com ele. Por contraste, a contemplação bizarra dá-lhe um certo ânimo para enfrentar as adversidades do campeonato.



Ofélia Dná Salarga embora a cara, com a maquilhagem, esteja diferente.

O Márinho sonha entrar um dia na ribalta de uma liga estrangeira, sonha jogar no Huelva, esse dínamo do futebol mundial.

Esperam-lhe bons anos ao serviço do Coina, com muito esforço, dedicação e suor. Espera-lhe uma transferência para o Vila Real (de Santo António) e com um golpe de sorte, ver as suas qualidade apreciadas por um observador espanhol. Será toda a impulsão necessária para o almejado salto para o Huelva.



A futura casa do Márinho.

No fim, só deseja ver o seu trabalho de uma vida ser recompensado com um simples aperto de mão do Paulo Futre, seu ídolo desde criança.



Paulo Futre Total.

O Criador lançou à Terra um prodígio futebolístico destes (o Márinho) e nós só temos que agradecer assistindo ao milagre das suas exibições.

Júlio Universal

Neste momento, que me julgo acordado, apercebo-me que dificilmente serei um pescador numa sociedade tão saudável e magnífica como a visualizada no meu sonho.

Não é por isso que se deve deixar de sonhar.

Cá para mim (podia ter dito só "Para mim", mas assim a coisa soa com mais confiança e certeza no que se diz), qualidade de vida podia muito bem ser estar numa marquise a comer caju e a beber laranjada do lídl (daquela que nos deixa a boca em sangue de tantas aftas e outras maleitas nas gengivas e céu da boca), sentado, só em cueca larga para deixar os colhoates à vontade, de janela aberta para entrar ar f'esquinho e a ouvir Júlio Iglesias num aparelhame estéreo hifi com duplo deck para cassetes.


Tenho grande parte da discografia dele e cada vez sou um fã maior (fonte segura informou-me que ele, em pleno concerto, dá beijos na boca das bailarinas, todas elas novas e bem parecidas). Ao ouvir a bela música do Júlio Iglesias, encara-se a vida com alegria, confiança e paixão.
Ele é o amante universal.


O Grande Júlio Iglesias.


Que belo que é. Parece que se está de férias no sul de Espanha num hotel de duas estrelas e meia, melhor que muitos de 5. Em regime de meia pensão, com bailarico no pátio da piscina pela noite dentro, nada nos falta . Às vezes chega a ser dez e meia da noite e ainda há lá gente a dançar. Senhoras lindas e bem arranjadas, que é como quem diz pensionistas cujo perfume é laca para o cabelo e que dançam juntas. Aqui, nestas festas espanholas, não há bêbados a dançar sozinhos nem "quermesse" de rifas, os homens não saem é das cadeiras para não perderem o lugar na "esplanada". Mesmo assim não é um pezinho de dança que vai matar alguém. Não há sitio melhor para o fazer que o baile de S. João que se dá todos os anos na Trafaria. A música é bastante agradável e de tanto dançar tenho que ajeitar as calças para dentro das meias.



Toda esta sensação e estado de espírito são sentidos só a ouvir o Júlio, mesmo estando num T0 na Costa da Caparica, num prédio com vista para o mar. Para sermos rigorosos, a praia só se avista do terraço do prédio e o apartamento em questão está voltada para o terminal da rodoviária na Torre das Argolas.
Na altura da compra era bem mais em conta e o que importa é ter uma casa de férias ao pé do mar para se repousar um bocado.

Mas não é só de inércia que se faz o descanso, é necessário um pouco de exercício às vezes para arrebitar a molécula. Caribe Mix nos fones com o walkman (ainda sou do tempo em que a cassete portátil era uma modernice, agora um radio cassete portátil com MP3 seria o exponente máximo da tecnologia) atado ao braço, téni (escrito no singular está bem) Sport com meia branca até ao joelho (não é preciso ter raquetes desenhadas, meia branca já é à desportista o suficiente), t-shirt de manga cava com publicidade a um qualquer evento desportivo da década de 80, metida para dentro do fato de banho slip com padrão tigrado em verde e roxo, óculos escuros espelhados para a neve e uma pala para o sol para a moleirinha continuar exposta ao astro divino. Isto tudo para correr num parque de estacionamento ou no terminal das camionetas. Para a marginal de Belém é preciso atravessar o rio e tem muita gente para se estar a treinar à vontade.


Tecnologia de ponta.

Um moderno relógio digital Seiko é indispensável para contar o incontável quando se corre pelo asfalto fora.


O relógio digital Seiko usado nos treinos.

Duas vezes por semana apanho a carreira, com escala no Pragal, para Covas de Coina para ver bom futebol.


Carreira que parte da Torre das Argolas com destino ao Pragal.

Admirar a ascensão do "Profeta do Esférico" como é conhecido o Márinho, a estrela do Grupo Desportivo Das Covas De Coina.

terça-feira, junho 26, 2007

Qualitate Di Vita

Nestas épocas é comum adormecer a pensar "tudo isto para um dia ter uma vida melhor". É algo muito subjectivo e influenciado pelo panorama de vivências de cada um. Uma coisa é certa, não há história de ninguém que tenha alcançado todos os seus objectivos. A ambição não nos permite ficar só com o que temos.

Recentemente, dei por mim a sonhar que era um turra. "Uéte?", questionei-me ainda a dormir julgando que coçava a carapinha com o dedo anelar esquerdo . Sonhei que vivia na margem de um dos grandes lagos africanos. Ou era o Tanganika, ou o Malawi. Não me lembro... a minha memória pós-sonhos não é muito eficaz em pormenores, como se pode confirmar já de seguida.


Eu na piroga.

Apesar de turra, tinha qualidade de vida. Tinha tudo o que era preciso para ser feliz: uma piroga (com um relógio despertador digital na proa que levou a viagem toda a tocar) para pescar podendo, mais tarde, trocar o peixe por carne, por milho ou por missangas e conchas para fazer colares muito bonitos.


Os colares em missangas e conchas.

Também possuía uma acolhedora cabana com as minhas três mulheres (uma para cada testículo segundo os princípios da tribo local), uns poucos filhos e, acima de tudo, um tambor de três metros de diâmetro para os rituais de lua cheia. Não percebi porque tinha tanto orgulho no relógio despertador digital mas, pode estar explicado o motivo de ter adormeci no dia do sonho.




As minhas três lindas mulheres na nossa cabana.




Os meus rebentos todos juntos para a fotografia tirada pelos senhores que vieram fazer um documentário sobre qualquer coisa sem importância.


Era uma vida em perfeita harmonia com a Natureza e sem inimigos. Apesar da vastidão das terras, não havia espaço para desentendimentos. Tinha feito as pazes com os poucos inimigos que tive. A melhor forma que encontrei para ficar tudo resolvido, foi dar-lhes onze (quem diz onze... também diz doze, não era por aí que não ficávamos todos amigos outra vez) catanadas à traição, atirando-os de seguida aos crocodilos que também têm direito a comer.



Crocodilos saciam a fominha.

Um outro vizinho menos harmónico com os demais, acabou harmonizado (para apanharem a simplicidade desta piada, harmónica é um acordeão pequeno e atarracado (apesar de também poder ser uma gaita de beiços, sem duplo sentido)) ao ser atropelado por dois elefante (que foram soltos sem querer e apedrejados e chibatados para correrem desgovernados naquela direcção). O pobre Maló, durante a trágica mas curta fuga, ainda tentou dar uma moeda a um elefante para o ver tocar no sino com a tromba mas, este não tinha sido ensinado.

Os dois elefantes e o Maló no meio.


O homem do barro foi devorado por sete hienas que estavam de passagem e, ao ver uma presa inerte e balofa, o confundiram com a carcaça inchada de um gnu deixada ali pelos leões.


Hienas devoram os restos do "barroso".

O único com quem tive alguma dificuldade em fazer as pazes foi com o mais sub-nutrido e esquizofrénico de todos os habitantes da nossa sossegada aldeia de pescadores. Era conhecido por "O Fininho" por a magreza se destacar dos demais. Irei omitir a fotografia para não chocar os mais sensíveis. Em alternativa meto a do meu primo Vergílio que está bem na vida, comprou uma piroga com motor. Ele é motivo de orgulho de toda a comunidade.


Primo Vergílio na sua piroga a motor.


Com o fininho foi uma carga de trabalhos.

O fininho era um bocado paranóico por estar sozinho na cabana, mas as regras eram bastante claras e eram para todos. Ao longo dos anos, nunca teve direito a uma única mulher no "Dia Da Sagrada Apalpação", mesmo aguentando-se até ao fim sem exprimir qualquer dor (não tinha nada para aleijar, é óbvio que aguentava a dor que não podia ter).


Este dia cheio de rituais, para todos aqueles que não o sabem, é o dia da atribuição, ou renovação, da quota anual de mulheres por homem.


Os mais jovens no ritual de iniciação.

É um dia que começa bem cedo para todos na aldeia. Os homens que se submetem ao apurado exame procuram canas de bambu junto ao rio, para protegem o seu talo do mau olhado. Perfuram transversalmente a cana numa das pontas, por onde fazem passar uma guita e, depois de colocado o tarolo na protecção a partir da ponta contrária, ata-se a guita à volta da cintura.


Eu já preparado para a cerimónia.


A partir daqui só nos resta esperar as restantes horas em pé, de braços até aos cotovelos (que estão dobrados num ângulo de 90 graus) ao longo do corpo , punhos serrados com as costas das mãos voltadas para o chão, pés afastados em paralelo, joelhos semi-flectidos e, de tomates descaídos, fitamos com enorme concentração, com uma das vistas palpitantes, o horizonte longínquo (há quem coloque uma fita à Rambo na testa para ver se ajuda a conter o sangue na moleirinha) em busca de inspiração e força.


A malta reunida em amena cavaqueira.


Como é algo muito sagrado, só me é permitir mostrar fotografias nossas momentos antes do importante acontecer.



E aqui reunidos antes de cumprir o nosso dever para com a aldeia mas sem conseguir esconder algum nervosismo.

Este ritual efectuado pelas mulheres mais velhas e de mãos mais calejadas e brutas de tanto arremessarem o malho contra o balde para amassarem mandioca, era executado com a seriedade e precisão de um artista de circo. Sobre a supervisão do feiticeiro, massajam, como quem tempera um quilo de febras para assar ou espreme limões, uma pomada na bolsa da fertilidade do homem. Tem como finalidade contar o números de tâmaras que cada homem tem. A pomada, à base de banha, alho, uma folha de louro e muito sal grosso, é feita pelo curandeiro da tribo. Muitos são aqueles que, devido à natureza violenta do procedimento e por estarem na mesma posição há demasiado tempo, lhes fraquejam as pernas e desmaiam de imediato como quem tem um ataque epiléptico fulminante. Caiem no chão totalmente desamparados e com todas as dobras esqueléticas totalmente torcidas em dor.


Os sacerdotes encontram-se reunidos a encetar a cerimónia.


Nunca foi encontrado nenhum "motivo" no fininho para ter direito a uma mulher que fosse. Acabou queimado acusado de bruxaria numa tribo pouco permeável a outros ritos que não a feitiçaria. Isto apesar de não ter feito o quer que fosse para tal, mas dizer-se homem sem nada para o provar, é porque a criatura é do mais falso que há. Mais vale queimar que remediar.


Preparação da fogueira para imolar o fininho.


Finalmente a minha terra era pacata. A única preocupação que nos assombrava eram os hipopótamos. Mas graças aos ensinamentos do Ah-Hremindo, senhor do Além Tejo, não era problema de maior. Ele sabe que os hipopótamos só atacam se não conhecerem a pessoa, ora como nós éramos todos iguais, desde que não variássemos muito o padrão do pano para cortinados usado nas nossas vestimentas, não havia problema.

O Ah-Hremindo faz criação de hipopótamos para contrabando.


A cultura de hipopótamos do Ah-Hremindo.

Vende-os aos amarelos como se fossem carne de baleia. Isto tudo através de Espanha. Assim não só foge ao penoso imposto português como ainda recebe o subsídio espanhol para jovens criadores de paquidermes aquáticos (ou seja, um cetáceo) de pequeno porte para fins alimentícios. Os espanhóis têm subsídios para tudo, nós temos impostos para tudo... estamos em pé de igualdade em termos de desenvolvimento.






É-nos difícil voltar a viver em mundos tão simples e puros.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Κολοσσού της Ρόδου - Colosso de Rodes


Acabrunha-me a ignorância e cultura de muitos que se dizem "gnurantes" e cultos. Para melhorar o Mundo (eu penso sempre através da grandiosa Dimensão Benfica), sinto-me obrigado a preencher certas lacunas (salvo seja), com bens tão preciosos como o conhecimento e a sabedoria.

Solto duas simples perguntas para agitar um pouco a inércia mental daqueles para quem a Natureza foi madrasta:

Quem ou o que foi o "Colosso de Rodes"? Como seria realmente chamado pela população e qual a sua verdadeira função?

Começo por recordar as voluptuosas figuras femininas que se colocavam na proa das embarcações. Segundo muitos, era para dar sorte aos navegantes, servir de aríete para afundar navios inimigos ou, entre muitas outras hipóteses, para os marinheiros, longe do conforto e abrigo dos telhados das suas casas, terem com que contar telhas durante as viagens mais longas e desgastantes, evitando assim o contratempo de atracarem (aonde tivesse que ser, isto de hormonas com escorbuto é uma mistura extremamente perigosa que leva muitos à loucura) ou terem que ir a terra para cronometrarem a sua prestação com uma clepsidra.

Tirando a última das possibilidades, a de comburente para remar com a batuta, todas as outras não poderiam estar mais erradas.

Para quem não sabe, clepsidra é um relógio de água. A sua origem remonta (aqui o termo "remonta" pode ter vários sentidos, todos eles válidos, tendo em conta o assunto em questão/debate) aos tempos babilónicos (a Babilónia nada tem a ver com isto, mas o termo soa bem) em que uma rameira grega de nome Klepsýdra, com vista a rentabilizar o seu negócio, inventou este simples mas engenhoso dispositivo para contabilizar eficazmente o tempo de "serviço" dos seus clientes. As primeiras versões não passavam de um copo com um pequeno buraco no fundo, posto a flutuar numa terrina com água (a mesma que era usada para rociar as partes decadentes após o banquete). Assim que a água engolisse o copo, a franquia a cobrar passava para o escalão seguinte, mais caro no total, mas com uma relação preço tempo de "utilização" mais em conta para atletas de fundo.

Os que tentavam fazer render os sestércios ou tinham o cobre à mingua, eram agora obrigados a vazar sem demora. Dando lugar a um dos muitos que aguardavam impacientemente um atendimento que, segundo o slogan iluminado com lamparinas de azeite, colocado à porta de entrada do estabelecimento, era de máxima discrição e sigilo.

Klepsýdra não ganhou nenhum prémio com o seu invento, mas facturou (nos vários sentidos da palavra) a dobrar. O seu nome, como "profissional" que era no seu ramo, certamente seria esquecido. Segundo consta nas escritas, aquela geringonça não caiu muito bem no meio dos seus frequentadores. Tratando-se de uma profissão que nunca se extinguiu, existe desde o início do Início, a invenção tem passado pelas gerações de "profissional" em "profissional". Algumas permitiram uma fuga de informação e o segredo passou também para alguns homens, geralmente os filhos. Alguns, sem terem mais nada para fazer, acabaram por ser meus professores.


Por explicar fica o facto histórico de os franceses não terem figura feminina nos barcos e davam-se muito bem com longas estadias em mar alto. Como satisfaziam qualquer necessidade hormonal que viesse para atrapalhar?


Agora, que mais de metade dos leitores (como se isto fosse lido por todos ao mesmo tempo) já se dispersou e foi À procura de pornografia na Internet, é a altura pertinente de perguntar qual a relação existente entre o Colosso de Rodes e as figuras femininas nos barcos?

Pois bem, as tais imagens eram a senha de entrada para o porto da ilha grega Rodes. Era essa mesma senha que "activava" o Rodes.

Rodes, de costas meio arqueadas, mãos nas ancas e de águia ao peito, ao ver as reluzentes e bordajonas figuras femininas nos barcos, ficava entusiasmado que nem King Kong para Ann Darrow.

Um escamartilhão em cobre com núcleo em aço de tamanho tenebroso, parte submerso parte exposto, era a barreira intransponível que fazia a filtragem dos navios que entrariam no porto.

Um ininterrupto guinchar ensurdecedor do metal a vergar vindo da verga metálica, dava início à abertura da entrada no porto

Uma palpitante e assombrosa trave ficava em riste, autorizando a entrada na baía portuária. A sombra originada era tão vasta e extensa que diminuía a temperatura da água a ponto de provocar a migração das espécies da região cada vez que o porto se abria..


Quando o portal estava "armado" era um poleiro de luxo para muitos pássaros, quando estava em "guarda" era algo impossível de trepar (a escolha desta palavra não é de todo inocente), até para o mais arisco e teimoso dos esquilos.

Muitos, pelo fraco potencial da figura que transportavam (falsificações na maioria dos casos), viam as suas embarcações afundadas por não aguentarem a sebe fálica no ar o tempo suficiente para conseguirem passar. Ora morriam esmagados pelo cair do malho em cima, ora eram afundados pela onda de choque provocada pelo impacto na água do rápido decaimento daquela barreira levadiça.


Porque motivo Rodes ruiu? A versão do terramoto que vem na História não passa de uma pequena invenção para encobrir a civilização "grega" do escândalo a que estaria sujeita, anos mais tarde, com o aparecimento da inquisição. Assim o abalo sísmico era como que um castigo dos Divinos (na altura eram todos politeísta, até os ateus o eram).
Entendidos na matéria dizem que o seu desaparecimento se deveu a um Inverno mais rigoroso que permeabilizou a invasão romana. Um corrente de água fria permitiu que a entrada do porto ficasse a descoberto, reduzindo o "colosso" a uma mera coluna do estilo jónico.

Nem a mais fogosa das figuras de um barco conseguia meter Rodes operacional. Os romanos, cientes da oportunidade, aproveitaram e fizeram História.

Com a sua virilidade reduzida a tão pouco, Rodes encontrou o desequilíbrio, tombando de costas. A sua hegemonia durou 56 anos.

Findo assim mais um post que não podia ser curto dada a matéria abordada. Tira-se a conclusão que o verdadeiro nome, foi durante muito tempo, "O Colosso do Rodes", por o "colosso" ser o dínamo do Rodes.

segunda-feira, janeiro 01, 2007

Persona Mundu

Perguntei-me a mim mesmo várias vezes e ao longo de uma ternidade (só não foi durante uma eternidade porque não sou eterno, logo foi durante uma ternidade, não tenho culpa que os dicionários ainda não tenham a palavra), qual será o homem mais culto do Mundo? Que entidade terá um tão vasto e profundo conhecimento das coisas e do Universo que lhe confira este título?

Pois bem, se vos inquieta a mesma dúvida, não se chaguem mais na busca da resposta... só pode ser um o escolhido: Eládio Clímaco

Este homem narrou tantas horas de documentários televisivos que seriam precisas duas vidas inteiras para os conseguir ver a todos de seguida. Tem uma sapiência tal que nem o mais instruído e marrão dos catedráticos o poderia superar.
É poético o contraste entre a violência visual explícita do festim sexual de uma numerosa "sociedade" de Bonobos com a delicadeza e romantismo do discurso do orador.

Chamo-lhe homem no sentido figurativo porque está muito para além disso, é um cavalheiro à antiga, de uma extrema cortesia e educação. Quem nunca se inspirou na sua galante lábia para abordar a elegida? Eu já e nunca resultou...


Mas ainda há uma arma secreta para arrasar a concorrência (os que arrumam livros nas bibliotecas ou os tipógrafos podem ser um exemplo válido). Um trunfo com poder de fogo inigualável, o Eládio Clímaco possui um curriculum invejável (diria mesmo inalcançável) de anos a apresentar os Jogos Sem Fronteiras.

Que saudades de ter a família toda reunida a assistir aos Jogos Sem Fronteiras que até tinham direito ao Hino da Eurovisão?

Momentos de pura magia e arte vinham daquela caixa que naquela altura ainda transmitia (apesar da "culpa" ser do tuvisor) a preto e branco em muitos lares portugueses...

Isto da televisão a preto e branco tem várias implicações: a mais óbvia é que sou um ser já meio antigo e datado a ponto de ainda ser do tempo da televisão a preto e branco (é uma Era perigosamente perto da Era pré-electricidade) e a menos proeminente (porque muitas vezes não se dava por isso) era estarmos a torcer pelos espanhóis e a festejar quando um português se escalavrava todo nas bordas de uma piscina convencidos que estávamos que era de um espanhol que se tratava.

Mesmo assim Portugal é o segundo país com mais vitórias nos Jogos Sem Fronteiras com 5, precedidos da Alemanha com 6. Os espanhóis, até mesmo com alguns portugueses a torcer por eles, apenas conseguiram uma vitória. E depois Espanha é mais desenvolvida que Portugal... haja paciência.

Lembro-me do nome dos Juízes Internacionais, o Gennaro Olivieri e o Guido Pancaldi, mas não me lembro do "homem do apito": "Atoncion! Demi, pré?" e o homem lá dava início à prova.


Claro está que ser o mais culto do Mundo não faz dele o mais respeitado e admirado do Mundo. Refiro ao nosso tão querido Júlio Isidro. E digo nosso porque todos nós temos um cantinho especial no nosso coração guardado para o Júlio Isidro (desde que descobri que ele é meu vizinho em Almoster que vou para lá sempre com a esperança de me encontrar com Sua Magnanimidade).

Se houvesse um combate entre o Júlio Isidro e Eládio Clímaco, apostaria toda a minha fortuna no primeiro... o juiz desta partida única seria certamente o Nicolau Breyner e a menina da placa com o número do round só poderia ser a grande Rosa Mota. E digo única não só pela singularidade dos atletas de elite em causa, mas por ser um combate até à morte, como os gladiadores no Circus Maximus. Não pela mera crueldade do espectáculo, mas por imposição da lei da sobrevivência imposta pela cruel Natureza. A Terra é pequena para a coexistência destes dois titãs.

O hino de entrada na arena ainda não está dado como certo, mas possivelmente será um épico do Avô Cantigas ou dos compositores da música da Rua Sésamo.