sexta-feira, outubro 10, 2008

A Guilhotina

Nos dias que correm, é cada vez é mais perigoso ir ao baeta. Para terem uma ideia de um dia a correr, imaginem-no vestido como um maratonista dos anos 80, com uma fita da naique na cabeça, calções curtos e t-shirt curta para se ver o umbigo, a correr ao ritmo da música "I Need A Hero" de Bonnie Tyler perto dos terrenos da CUF no Barreiro.

Hoje mesmo fui ao mestre Abílio aparar o cabelo. Como bom estabelecimento que é, tem sempre o jornal do dia disponível para a clientela ler enquanto espera. Com a casa cheia, sinónimo que o serviço é bom e procurado, sentei-me, aguardando a minha vez. Para ajudar a passar a delonga, comecei a ler o jornal.

Foi então que senti uma presença estranha. A princípio tentei ignorar, pensei tratar-se dum sintoma relativo à notícia que lia, referente à votação na Assembleia da República sobre o casamento gay. Qual não é o meu espanto que, essa mesma sensação paranóica, persistiu mesmo depois de mudar para a secção desportiva.

Foi então que constatei que uma figura de ar esgazeado me fitava ininterruptamente do outro extremo do "atelier". Continuei como se estivesse a ler o jornal mas desta vez, tentei controlar de soslaio o individuo. Nem meio minuto tinha passado e ele levantou-se, dirigindo-se a mim de mão esticada para me cumprimentar "Boua Tard' ", disse-me enquanto se sentava ao meu lado. Retribui de igual forma o cumprimento, receando alguma acção violenta se o contrariasse.

Se antes estava incomodado agora, com ele sentado ao meu lado e com o seu prolongado nariz a um palmo e dois dedos da minha orelha esquerda, estava em pânico.

"Se é para morrer... certamente será agora", pensei eu enquanto tentava adivinhar qual seria a sensação de ser atravessado repetidamente pela faca que certamente se aproximava. Pousei o jornal no ombro da cadeira enquanto olhei para o espelho pela última vez. Nesse mesmo instante, o jornal é surrilampado na mais curta fracção de tempo que a ciência moderna é capaz de medir. A criatura esgueirou-se igualmente rápido para um canto, quem nem uma cobra num amontoado de pedras, afastando-se da minha cadeira com ar ávido e ganancioso.

Afinal, o pobre animal, só queria o raio do jornal.


sábado, agosto 23, 2008

Aquila Olympus

Benfica - Três Medalhas nos Jogos Olímpicos: Duas Medalhas de Ouro e Uma de Prata.
Portugal - duas medalhas olímpicas.

Não adianta falar dos que nada ganharam...

Águia com uma pequena presa.

Fica assim exposto o que é óbvio para todos, a verdadeira grandeza das nações. A Nação Benfiquista em oposição à Nação Portuguesa.

Visita relâmpago do relâmpago Michael Phelps a Portugal, para breve contacto com os dirigentes Benfiquistas, garante a sua contratação pelo Benfica até 2020. Para o incrível nadador, visivelmente feliz, é apenas uma evolução natural.

Michael Phelps na sua apresentação ao Benfica

Declaração fácil de entender se se comparar os meios de locomoção de eleição do Michael Phelps e o de uma Águia. É um erro grosseiro chamar-lhe mariposa, o nome verdadeiro do estilo é: Aquila, que significa Águia em latim.

Braçada de Phelps para mais um recorde mundial.
"Vou buscar inspiração ao voar da Águia Vitória", diz Phelps.


Majestoso voar da Águia que dá nome a um estilo de natação.

Com efeito, para os próximos Jogos Olímpicos, o Benfica ultrapassará o número de medalhas de ouro que Portugal tem.

Aliás, que seria de Portugal sem um Benfica dinamizador e motivador para o sustentar? Que boas notícias teriam os telejornais para divulgar senão as notícias relativas ao nosso Benfica?

Quando se fala de Portugal, fala-se do aumento da criminalidade violenta, do aumento do preço dos combustíveis e do aumento de crianças nascidas em veículos dos bombeiros. Do Benfica fala-se das suas proezas épicas, dos seus feitos como semi-Deuses e das suas conquistas e sucessos.

Basta analisar a performance dos atletas para se ter essa percepção. O Nelson Évora, sabia que apenas tinha que saltar livremente, sem pressões, apenas com motivações. Sabia que a Nação Benfiquista estava com ele para o apoiar e não para se apoiar nele.

Nelson Évora voa mais alto.

Como o Nelson se sente na primeira chamada do seu triplo salto.

A Naíde Gomes... para além da pressão e das desmotivações que o país lhe dá, tinha um bando de abutres apoiados nela a fazer peso na hora de saltar. Tem um governo em férias há já largos meses, um presidente do Comité Olímpico que não sabe o que diz nem o que disse e, o melhor, é nem falar no clube que representa...

Di Maria marca o golo que nos valeu o Ouro Olímpico.

Em qualquer altura do ano e do Tempo Universal há sempre Benfica. Há chama imensa que nos ilumina e aquece a Alma.

Se tal não sucedesse, por um momento mais indivisível que fosse, a Existência em si, deixaria de existir.

Não é à toa que se lhe chama Clube da Luz ao nosso Benfica. O Benfica é a Luz. É a energia de todas as galáxias juntas e em constante movimento. É o limite superior da Velocidade Absoluta, relativizando o Tempo e a Distância.

domingo, junho 22, 2008

Um Passeio em Madrid

Existem no Mundo inteiro, dois grupos não disjuntos de pessoas:

- Os que não gostam de espanhóis;
- Os espanhóis;

Digo não disjuntos porque existem espanhóis com ódio de morte a espanhóis. Ora como não pertenço ao segundo grupo, forçosamente pertenço ao primeiro.


Em Março, fui a Madrid com esse profundo e marcado sentimento dentro de mim:

"Não gosto de espanhóis e não é agora que vou mudar de opinião."

Aliás, mais que uma opinião, era uma certeza irrefutável. Este blog não é de opiniões, como se poderá acreditar pela generalização dada pela comunicação social aos blogs. Aqui só encontraram certezas inegáveis e verdades absolutas. Claro está que poderá implicar que os outros estão todos errados. Mas, ao escrever estas humildes linhas, estou a dar-lhes a oportunidade de corrigirem o seu conhecimento. Isso de se ter opinião é dar a possibilidade de se estar errado e de se poder voltar atrás na palavra. Eu tudo o que penso, sei que é assim e que estou certo. Que sentido faz pensar-se errado? Já que tenho que pensar, que o faça bem e à primeira.


O problema com os espanhóis é que sabem dar-nos a volta. Se durante o fim de semana em que cheguei, ainda defendia as minhas convicções com a fé que nada as ia mudar, durante a semana o inabalável sofreu um abalo dantesco e nem me cheguei a render, fiz-me logo amigo do inimigo.

Viriato: O meu estado de espírito à partida.

Se em Guantanamo usam a tortura física e psíquica, em Madrid recorrem ao seu inverso para nos maniatar e manipular. Cheguei a ficar desiludido comigo mesmo logo no primeiro dia em que fui almoçar à cantina da faculdade. Garanto-vos que lutei com tudo o que tinha. Mas, mal olhei para a quantidade e qualidade da comida, deixei as resistências combativas perderem o folgo. Filetes de linguado e uma carne estufada suculenta. Para sobremesa comi sempre leite creme com uma bolacha em cima. Tinha uma substância qualquer altamente energética e aditiva. Até os copos eram do tamanho de jarros de água como se pode ver pela fotografia colocada imediatamente abaixo.

Alarves enchem o bucho de forma desmedida.

Entreguei-me por completo. Ao segundo dia já nem me lembrava que no dia anterior tinha ficado desiludido comigo. Já estava totalmente convertido. Não subestimem os espanhóis na arte de nos dar volta à cabeça, eles são bons.

Lamento dizer-vos mas, se fosse obrigado (para não parecer que fui para o covil inimigo de boa vontade) a estar lá mais uma semana e se o nosso Benfica fosse espanhol, também eu me tornava espanhol por completo. Eles bem tentaram a sorte ao enviarem o Quique Flores. Sacanas... fazem jogo sujo mas não ganharam.


Quique Flores na Catedral da Luz.

Fosse só a comida da cantina. Deviam ver os meus aposentos. A casa de banho era mais do que uma simples retrete fria, húmida e escura com um bacio e uma tina com água para se lavar a cara, os sovacos e as partes pecaminosas. Era uma réplica da casa de banho do Rei D. Juan Carlos.

Vista exterior da minha casa de banho.

Era tão grande que, ao longo do percurso, tinha cerca de cinco plantas com indicações para as saídas de emergência e uma circunferência a assinalar o local onde me encontrava. Não percorri toda a casa de banho por isso julgo que existiam mais que cinco mapas.

Vastidão faraónica (reparem na toalha para os pés à entrada da banheira).

A sanita estava sempre impecavelmente limpa a ponto de eu acreditar que os outros nunca a usaram. E que agradável era sentar-me no trono de porcelana de pernas totalmente esticadas enquanto ouvia Julio Iglesias em versão "pan pipes", que passava repetidamente como música ambiente (sim, a casa de banho tinha música ambiente).

Duplo lava caras em mármore e toalhas duplas.

Nada melhor para exorcizar mentalmente o quotidiano madrileno. Bastante relaxante. Isto de ter as pernas esticadas tem um significado especial.

A minha repousante poltrona de porcelana.

Os colegas que, ou por serem feios ou por se terem portado mal, ficaram noutros alojamentos, para se conseguirem sentar na sanita, ou tinham que ficar de lado, ou se sentavam de pé (devo confessar que nunca tentei mas deve ser coisa para sujar as pernas todas até aos calcanhares) ou então, só lhes restava enterrar os joelhos e a testa na porta.

A parede em contraplacado, apresenta uma depressão para apoiar a testa durante o esforço (pormenor não visível na foto).

Tal como toda a minha casa de banho imperial, também a banheira era em pedra mármore e tinha um botão para regular o tipo de água e outro para a temperatura. Eu dei-me bem com a combinação "queda de água nas Honduras" a "23.5ºC", muito agradável e revigorante.

Botão de regulação do chuveiro.

E o quarto onde eu estava? Eram tão vasto que era imperativo recorrer ao telemóvel para se conseguir saber se estava mais alguém lá dentro. Se alguém de outra cama estivesse a morrer e gritasse por ajuda, ninguém o conseguia ouvir. O que era bom, se aquele estava a morrer, era certo que a Morte, carregada com a foice, vestimentas pesadas e sei lá que mais, não se ia dar ao trabalho de ir correr meia maratona para ir ter comigo. Se algum colega de quarto fosse "esquisito" (estava lá um francês por acaso, mas pareceu-me bom rapaz) e me quisesse violar durante a noite, quando chegasse ao pé da minha cama, já era hora de almoço do dia a seguir e eu já não estava lá, estava na cantina por essa hora. Eu sabia que podia dormir descansado, e era isso mesmo que fazia.

Cama isolada das demais para evitar "mal entendidos".

Consta-se que noutros "hotéis" que não o meu, as camas estavam tão próximas umas das outras que se alguém estivesse a esfogachar no quarto, se sentia a coisa tão de perto que chegava a amplificar as oscilações à escala de um tremor de terra. Disse-me-o um turco de confiança que acordou em sobressalto a meio da noite, que por instinto protegeu a cabeça para evitar que lhe caísse uma telha de amianto em cima.

Como o chão era almofadado andávamos sempre descalços com medo de o estragar. Também o quarto tinha regulação de ambiente. O botão ia desde "verão na Somália" a "inverno na Escandinávia". A opção "tempestade árctica" estava bloqueada e era apenas disponibilizada a entendidos. Fomos a votos e acabou por se regular para "fim da primavera nas Ilhas Fiji". Empregadas curvilíneas de roupa apertada (um número abaixo do justo), faziam-nos a cama e dobravam-me o pijama. Mais que isto não faziam porque apenas tínhamos pago o pacote "student basic". O que vinha a seguir, o "student luxurius" permitia-nos tocar nas empregadas. Assim só dava para as cheirar ao de leve.

O quarto em si tinha uma enorme varanda com vista para o Parque del Oeste.


Vista da varanda sobre o Parque del Oeste.

Era um belo jardim habitado por animais exóticos em liberdade. Vi algumas águias reais, um ninho de bufos carecas, um pequeno grupo de sagüins gritadores de cauda laranja e um lagarto de bossas marroquino entre outras espécies invulgares. Os únicos animais que alguma vez estiveram enjaulados foram anões alimentados a maçãs e amendoins que, em tempos já idos, conseguiram fugir e agora são uma praga invasora na cidade de Madrid que tem devorado outras espécies endémicas.

Saguim gritador de cauda laranja e bigode à mestre de Kung-Fu.

Convido os colegas de outras hospedarias a descrever os seus aposentos. Quem dizer que os seus quartos não tinham janelas nem serviço de quartos, que dormiam todos em beliches e que o espaço total era mais pequeno e abafado que a minha casa de banho... mente e deve ser severamente castigado.

Eu até tinha maçãs frescas colocadas todos os dias no local dos rebuçados e rebuçados no local da publicidade.

"Ah e coiso e tal mas nós tínhamos internet à borla...". Que mania essa de impor as coisas às pessoas. Era como se estivesse a chover dentro dos quartos, levavam sempre com água em cima mesmo não sendo essa a sua vontade. Nós não, se nos quisemos molhar, íamos à esplendorosa casa de banho. Tal como noutro qualquer de qualidade, se quiséssemos internet, pagávamos e tínhamos internet. Isto para não falar no "pequeno-almoço" que eram obrigados a comer a horas impostas, tudo ao género dos presidiários. Eu era livre de fazer as minhas escolhas, com um frigorífico e microondas no quarto, as combinações possíveis são infinitas.


No entretanto já voltei a casa e, consequentemente, à "minha" cantina, que me recebeu com o tratamento de choque que seria de esperar para me lembrar de como são feitos os maxús (explicação para não confundir com os machos dada algures neste blog).

Fiquei triste. Quando cheguei a Madrid a festa de recepção foi um acontecimento inesperado. Tinha o PSOE em força, com o seu recém-eleito primeiro ministro espanhol, com uma magnifica parada para me receber. Com champanhe e televisão em directo. Aliás, o Zapatero adiou o acto de ser eleito para que a sua primeira acção como presidente, fosse saudar e agradecer a minha chegada. Eu é que agradeço tamanha hospitalidade, simpatia e amabilidade.

Zapatero dirigindo-se a mim no seu discurso de boas vindas.

Quando cheguei a Portugal nem um Jorge Sampaio, nem um Carmona Rodrigues, nem um Paulo Portas e nem mesmo um Gilberto Madaíl estavam presentes para me acolher. Nem o Arthur Albarran apareceu para fazer uma reportagem exterior. Em suma, nenhuma figura do poder em Portugal esteve disponível para assistir ao meu regresso.

E eu que estive este tempo todo convencido que a única coisa boa que o nosso país vizinho alguma vez teve foi a Inquisição...

terça-feira, fevereiro 05, 2008

Circus Maximus - Palhaçæ Inutilis

Heis algumas das manchetes dos jornais da semana passada:

"Tigres fogem de carrinha do circo. Trânsito cortado na Nacional nº 3.".

"Tigres à solta na Azambuja atormentam locais."

"Recessão económica Norte-Americana provoca descida de tigres à Azambuja".

"Tigres devoram idoso deficiente na Azambuja. Ver para crer!"

"Forcados do Sport Lisboa e Cartaxo pegam 2 tigres na Azambuja. Paulo Bento vai ao bruxo."



O alarmismo aumenta o galope conforme o jornal em questão e cada um distorce a realidade à sua maneira.

Não era questão para tanto berreiro. Não havia necessidade de chamar a GNR, ainda por cima em horário de almoço. Eles não estão preparados para este tipo de serviço. Bastava mandar dois anões, carecas e peludos de dorso, intervir no local e o assunto era resolvido com a maior das serenidades. Ocorrem-me, assim escolhidos totalmente ao acaso, estes dois nomes:

Mal-Oh Machado e Arthur Lopez Ribeiro.

É mesmo este o nome deles, não fui eu que os alterei com medo que os ditos, recorrendo a um motor de busca, dessem com este texto.


Tigre vai ao banho no rio Tejo com o intento de se refrescar.

A sua preparação para a obra era do mais simples que pode ser concebido. Besuntavam-se um ao outro, evitando assim o envolvimento de terceiros, com o molho resultante de assar pernil de cabrito no forno. Seguidamente disfarçavam-se de ovelhas (da mesma forma que o mais sano dos imperadores, o imperador Calígula, filho de Germanicus e sobrinho de Tiberius, obrigava os cristãos aprontarem-se antes de os mandar para a arena). Para eles encararem com maior seriedade o seu papel de ovelhas, antes da entrada em cena, eram levados ao local, com o intuito de cobrir os dois heróis, dois carneiros de grande porte. Tal como os cães que dão dentadinhas de amizade no pescoço das cadelas (ou nos braços dos donos), os carneiros em cada investida, davam-lhes uma marradinha de afecto na nuca.


Um dos carneiros observa potenciais rivais ou pares.
Uma análise mais cuidada da fotografia, permite concluir que ele olha na direcção do
espectador
.

Depois deste ligeiro procedimento, o Mal-Oh e o Arthur eram instigados contra os tigres.


Se os nossos (nossos uma porra) intrépidos guerreiros não se safassem, garanto-vos que não se perdia nada. Aliás, ganhava-se com a poupança da alimentação dos animais.

O Lopez Ribeiro não serve para nada. Até eu, que estou há menos tempo neste mundo, disfarço melhor quando não sei fazer nada, pelo menos sempre me esforço um bocadinho. Quantas vezes dei por mim a tentar copiar pelo colega do lado, ou pelo da frente, ou mesmo pelo de três mesas atrás, mal o exame tinha começado. É uma coisa do instinto, algo involuntário que assim o é programado para a nossa própria sobrevivência. Ele nem para isso presta, nem para medíocre está qualificado.

Durante uma revisão de prova de uma disciplina na qual ele era o regente e leccionava as aulas teóricas (lia os acetatos... eu também sei ler e, de qualquer das maneiras, não é a ouvir o serviço meteorológico que se aprende Meteorologia), esteve a olhar para o monitor do computador durante o penoso tempo que lá estive. Enquanto isso, o outro professor, que só tinha turnos de laboratório apesar de ser o único que mostrava saber do que se tratava na cadeira, atendia os alunos. Certamente que o regente lia um artigo científico de elevada importância e interesse.


Arthur ao computador é um cenário de fundo constante.
Aluno pisado mentalmente até ao desespero.

Até que começou a abanar a cabeça na vertical de uma tal forma que me levou a crer que algo mais se "passava" naquele monitor. Julguei mesmo que ele estava a ver este vídeo:



Qual não é o meu assombro, quando me aproximo esquivamente, e dou com ele especado a olhar para o monitor onde apenas se encontravam os ícones normais num ambiente de trabalho em Windows: a "Reciclagem" e "O meu computador".


Já que não queria sair do computador, para desmontar um osciloscópio só para ter que montá-lo outra vez e mostrar que estava ocupado, ao menos que visse qualquer coisa com sentido. Qualquer coisa que justificasse esta postura em frente ao computador:


Arthur Ribeiro refastelado na cadeira.

Se ele estivesse a ver o vídeo que se segue, por exemplo, teria a nossa total compreensão. Nas mesmas condições em que o docente se encontrava, qualquer homem teria feito o mesmo ou pior. Mas na altura em que ele se tinha arrimado para trás, já o monitor estava desligado há muito como se pode observar pela fotografia anterior. Porque continuava ele a olhar para lá? Será que ainda acreditava que nos enganava? Ou será que já nem se dava a esse trabalho?





O outro professor que aparece na fotografia, que era o único que percebia alguma coisa do assunto, ao falar com os alunos utilizava uma linguagem polida que fica bem em qualquer engenheiro. Tão polida que já nem tinha verniz, era só o rude ferro com a pintura toda estragada.

"Eu demoro mais tempo porque esta merda está toda baralhada..."

Escapou-lhe - pensei, enquanto o professor procurava o meu exame. O exame estava dividido em molhos separados por grupos. Um colega tinha um número parecido com o meu, com o qual o professor me confundiu. O professor vasculhando já no segundo grupo de exame, voltou a escolher o exame do meu colega pensando tratar-se do meu:

"Ah fouda-se... este é o do outro cabraum..."

Disse ele com um discurso sonante e pausado por forma a garantir que todas as silabas fossem bem interpretadas. De salientar que se aquele era o "outro" há mais daqueles entre nós alunos.


Quanto ao Mal-Oh, que aparece descaracterizado na fotografia abaixo colocada, também não há muito mais a fazer por ele.



O Mal-Oh, com o seu molestante bafo, embacia-me a lente da máquina de forma irremediável.

Cada vez que o Mal-Oh abre a boca para falar, na minha mente projectam-se imagens do circo Atlas. Não tanto por o Mal-Oh ser um palhaço a falar, mas sim pelo cheiro característico dos bastidores da tenda do maior espectáculo de variedades do mundo que é emanado da goela dele. É uma mistura de difícil separação mas aonde ainda é possível discernir a presença de estrumes de vários e variados animais. Entre eles: os elefantes, os burros, os dromedários, os macacos e os palhaços e anões (como os dois valentes aqui tratados neste texto) que, tal como as outras feras, também deviam guardados em jaulas.

sábado, janeiro 05, 2008

Lisboa - Dakar 2008

Este ano não há Dakar. Que imensa frustração, revolta e que desilusão amarga. Estou de luto.


O Mosteiro dos Jerónimos na hora do desengano.

Eu e o meu camarada Zé o Grandalhão, já tínhamos tudo preparado para assistir ao Dakar.
Com a devida antecedência arranjámos transporte para nos levar a Canha para assistir a um troço cronometrado. Fomos na Quinta-Feira de madrugada, à Praça do Monte da Caparica, roubar uma Ford Transit a uma família cigana que vendia droga dissimulada em caixas de peixe.


Ford Transit requisitada para nos levar a Canha.

De salientar os elevados índices de maxú: fazer as coisas pela fresquinha da madrugada, Praça no Monte da Caparica, ir ver o Dakar numa Ford Transit, que era roubada, era de ciganos, era roubada a ciganos e serviu para transportar droga e peixe.


Caixa de sardinha com cocaína escondida.

A anulação do Dakar foi motivada pelas preocupações de segurança na Mauritânia, referiram mesmo «ameaças directas lançadas contra a prova por movimentos terroristas».


Terrorista tenta avistar participantes do Lisboa-Dakar.
Repare-se na posição de guarda do camelo para permanecer despercebido no meio da densa vegetação.


São franceses... o que se pode fazer? Nem nas guerras mundiais participaram... tiveram que ser os outros a lá ir combater uns contra os outros para dar algum ânimo ao país.
Devem ter gasto toda a virilidade com o Napoleão Bonaparte. Até o Maximilien Robespierre era maricas, em vez de andar à tareia com os inimigos até um morrer, mandava-os para a guilhotina. Qual é o gozo?

Enfim, adiante.


Quais são os pilotos (e suas equipas) que fazem um Dakar (a prova) pela segurança?

"Não gosto de corridas nem de automóveis, para mim são todos iguais. Vou participar num Dakar só mesmo pela segurança".

A súcia vai é à procura da emoção de tourear a morte de perto. Quer atravessar um campo minado a 200 km/h, quer atravessar Marrocos solteiro sem chegar à outra ponta casado com três mulheres. Quantas mais variações e surpresas existirem pela cruzada, mais alvoroço e adrenalina a alma sente.


Afinal, quem representa mais perigo a quem?
A Elisabete Jacinto aos comandos de um MAN ou uma barricada de terroristas magrebinos?


Bandido a interceptar Elisabete Jacinto.

Vou refazer a pergunta, uma mulher a conduzir um camião de 5 toneladas de aço num piso sem aderência, ou três homens indefesos que, para intimidar, têm duas espingardas de carregar pela boca (sendo uma delas de imitação), com um lama (com mais dentes na boca que os três homens) a cortar caminho e que está assustado por estar em África sendo ele da América Central?


Lama em aflição, habilmente disfarçado de camelo.

"Olhe... como é que esta geringonça se trava para eu dar um autógrafo a estes queridos que vieram de tão longe para me ver".


Elisabete Jacinto abranda o andamento.

A meio desta frase, e enquanto a Elisabete olhava para os pedais, já os desgraçados tinham sido atropelados sem ninguém dar por nada.

"Olhe... parece que desistiram da ideia. A poeira deve-os ter afugentado".

Diria ela com muita manha por saber exactamente o que acabou de fazer. Tinha que ser assim, não haveria outra maneira senão avançar, literalmente, pelo problema. No Dakar o relógio não pára.


Últimos momentos dos terroristas aquando da passagem da Elisabete Jacinto.

Outro exemplo:


"Não o conseguia ver no meio de tanta areia".
Quem é que acredita nesta cara de malandro?

O Carlos Sousa, num VolksWagen Touareg, que no ano passado deixou o co-piloto alemão durante uma hora, algures no deserto no meio de uma tempestade de areia só para mostrar quem manda, ou um desgraçado com um turbante, a cavalo num camelo (não sei como se diz e "a montar um camelo" soa a esquisito) com uma cimitarra na mão e a gritar em vibratto feito Tarzan?



"Alto e pára o baile!"
Grita o terrorista tentando travar o Carlos Sousa.


Digo mais, qualquer medida de segurança devia ser abolida do Dakar.

Só piora a prestação dos pilotos, que vão a medo, e dos próprios carros que ficam mais pesados.

Se alguém ficasse marcado para o resto da vida, era beneficiado em tempo. Se o Cyrril Després chegasse primeiro, mas o Hélder Rodrigues chegasse em segundo lugar com 20 minutos de atraso, porque caiu e ficou sem uma das pernas, o Hélder ganhava a prova. Nas novas regras cada perna perdida daria um bónus de 30 minutos. Aliás, aprecio bastante a perseverança e intrepidez do Hélder Rodrigues. É um piloto à antiga. Prova disso foi o Rally da Patagónia-Atacama em Setembro de 2007, quando, a 160 km/h, foi ao chão.


Hélder "Cabeça Heterogénea" Rodrigues pronto para outra.

Entrou no hospital com várias costelas partidas, uma ferida na zona do tórax, uma hemorragia pulmonar, uma anemia por ter perdido muito sangue (tinha dois litros e meio de sangue na região abdominal) e ainda com o baço afectado. Esteve em coma e ligado ao ventilador durante uns dias. Que é feito dele? Estava ansioso por partir para o Dakar até hoje de manhã, quando os franceses o decidiram cancelar por motivos de segurança... apenas três meses foi o que ele demorou para lograr a própria morte, recuperar, preparar e estar pronto para o Dakar, para apenas numa manhã ver tudo cancelado. É como se lhe negassem a própria vida. Quem se julgam eles para falar "de segurança" ao Hélder? Quem se julgam eles para nos tirarem um Lisboa-Dakar?


Franceses reunidos onde ninguém lhes podia chegar e "contestar" a decisão.

Piloto que morresse no Dakar, era consagrado campeão. Se morresse mais que um, que ganhasse o que tivesse o acidente mais espectacular e aparatoso.


Não é justo que alguém que dê tudo na arena, não ganhe só porque morreu. Os mariquinhas deviam ser penalizados.


É como um veterano de guerra não ter nenhuma marca para mostrar. Provar que esteve lá. Se não tiver meia cabeça reconstituída e uma perna em acrílico, quem é que acredita nas façanhas que eles relatam? Ninguém, só os parolos. A ideia com que se fica é que era um daqueles que ficava a fazer-se de morto na trincheira enquanto os outros entregavam o peito às balas (como eu hoje no exame de Instrumentação e Medidas. Deviam diagnosticar cancro nas testículos do professor mais gordo que lá estava, fazerem-lhe uma castração total e, no fim, o médico ter-se enganado e ele não ter nada (literalmente) só para ver se ele continuava a ridicularizar os erros dos outros). Ou então nem do Quartel saiam porque se faziam de doentes ou, pior ainda, tinham cunhas.

Enfim... não fosse irmos todos presos, sugeria a união popular para irmos todos atrás dos franceses. Uma turba com bastantes forquilhas, tochas e paus a erguerem-se pelo meio da multidão. Um tumulto popular lançador de pedras. De salientar que as tochas não servem para iluminar as ruas, que se ilumimam por si com o pavor vindo das caras do inimigo, servem sim para puxar fogo às coisas.


Representação da boa justiça popular.

Vamos lá ver o que nos espera para o ano. Para este, ficam só algumas fotografias para recordar edições anteriores do Lisboa-Dakar. Fotografias essas que roubei ao Zé Narciso, o Grandalhão, e que estão presentes ao longo deste post.