sábado, janeiro 05, 2008

Lisboa - Dakar 2008

Este ano não há Dakar. Que imensa frustração, revolta e que desilusão amarga. Estou de luto.


O Mosteiro dos Jerónimos na hora do desengano.

Eu e o meu camarada Zé o Grandalhão, já tínhamos tudo preparado para assistir ao Dakar.
Com a devida antecedência arranjámos transporte para nos levar a Canha para assistir a um troço cronometrado. Fomos na Quinta-Feira de madrugada, à Praça do Monte da Caparica, roubar uma Ford Transit a uma família cigana que vendia droga dissimulada em caixas de peixe.


Ford Transit requisitada para nos levar a Canha.

De salientar os elevados índices de maxú: fazer as coisas pela fresquinha da madrugada, Praça no Monte da Caparica, ir ver o Dakar numa Ford Transit, que era roubada, era de ciganos, era roubada a ciganos e serviu para transportar droga e peixe.


Caixa de sardinha com cocaína escondida.

A anulação do Dakar foi motivada pelas preocupações de segurança na Mauritânia, referiram mesmo «ameaças directas lançadas contra a prova por movimentos terroristas».


Terrorista tenta avistar participantes do Lisboa-Dakar.
Repare-se na posição de guarda do camelo para permanecer despercebido no meio da densa vegetação.


São franceses... o que se pode fazer? Nem nas guerras mundiais participaram... tiveram que ser os outros a lá ir combater uns contra os outros para dar algum ânimo ao país.
Devem ter gasto toda a virilidade com o Napoleão Bonaparte. Até o Maximilien Robespierre era maricas, em vez de andar à tareia com os inimigos até um morrer, mandava-os para a guilhotina. Qual é o gozo?

Enfim, adiante.


Quais são os pilotos (e suas equipas) que fazem um Dakar (a prova) pela segurança?

"Não gosto de corridas nem de automóveis, para mim são todos iguais. Vou participar num Dakar só mesmo pela segurança".

A súcia vai é à procura da emoção de tourear a morte de perto. Quer atravessar um campo minado a 200 km/h, quer atravessar Marrocos solteiro sem chegar à outra ponta casado com três mulheres. Quantas mais variações e surpresas existirem pela cruzada, mais alvoroço e adrenalina a alma sente.


Afinal, quem representa mais perigo a quem?
A Elisabete Jacinto aos comandos de um MAN ou uma barricada de terroristas magrebinos?


Bandido a interceptar Elisabete Jacinto.

Vou refazer a pergunta, uma mulher a conduzir um camião de 5 toneladas de aço num piso sem aderência, ou três homens indefesos que, para intimidar, têm duas espingardas de carregar pela boca (sendo uma delas de imitação), com um lama (com mais dentes na boca que os três homens) a cortar caminho e que está assustado por estar em África sendo ele da América Central?


Lama em aflição, habilmente disfarçado de camelo.

"Olhe... como é que esta geringonça se trava para eu dar um autógrafo a estes queridos que vieram de tão longe para me ver".


Elisabete Jacinto abranda o andamento.

A meio desta frase, e enquanto a Elisabete olhava para os pedais, já os desgraçados tinham sido atropelados sem ninguém dar por nada.

"Olhe... parece que desistiram da ideia. A poeira deve-os ter afugentado".

Diria ela com muita manha por saber exactamente o que acabou de fazer. Tinha que ser assim, não haveria outra maneira senão avançar, literalmente, pelo problema. No Dakar o relógio não pára.


Últimos momentos dos terroristas aquando da passagem da Elisabete Jacinto.

Outro exemplo:


"Não o conseguia ver no meio de tanta areia".
Quem é que acredita nesta cara de malandro?

O Carlos Sousa, num VolksWagen Touareg, que no ano passado deixou o co-piloto alemão durante uma hora, algures no deserto no meio de uma tempestade de areia só para mostrar quem manda, ou um desgraçado com um turbante, a cavalo num camelo (não sei como se diz e "a montar um camelo" soa a esquisito) com uma cimitarra na mão e a gritar em vibratto feito Tarzan?



"Alto e pára o baile!"
Grita o terrorista tentando travar o Carlos Sousa.


Digo mais, qualquer medida de segurança devia ser abolida do Dakar.

Só piora a prestação dos pilotos, que vão a medo, e dos próprios carros que ficam mais pesados.

Se alguém ficasse marcado para o resto da vida, era beneficiado em tempo. Se o Cyrril Després chegasse primeiro, mas o Hélder Rodrigues chegasse em segundo lugar com 20 minutos de atraso, porque caiu e ficou sem uma das pernas, o Hélder ganhava a prova. Nas novas regras cada perna perdida daria um bónus de 30 minutos. Aliás, aprecio bastante a perseverança e intrepidez do Hélder Rodrigues. É um piloto à antiga. Prova disso foi o Rally da Patagónia-Atacama em Setembro de 2007, quando, a 160 km/h, foi ao chão.


Hélder "Cabeça Heterogénea" Rodrigues pronto para outra.

Entrou no hospital com várias costelas partidas, uma ferida na zona do tórax, uma hemorragia pulmonar, uma anemia por ter perdido muito sangue (tinha dois litros e meio de sangue na região abdominal) e ainda com o baço afectado. Esteve em coma e ligado ao ventilador durante uns dias. Que é feito dele? Estava ansioso por partir para o Dakar até hoje de manhã, quando os franceses o decidiram cancelar por motivos de segurança... apenas três meses foi o que ele demorou para lograr a própria morte, recuperar, preparar e estar pronto para o Dakar, para apenas numa manhã ver tudo cancelado. É como se lhe negassem a própria vida. Quem se julgam eles para falar "de segurança" ao Hélder? Quem se julgam eles para nos tirarem um Lisboa-Dakar?


Franceses reunidos onde ninguém lhes podia chegar e "contestar" a decisão.

Piloto que morresse no Dakar, era consagrado campeão. Se morresse mais que um, que ganhasse o que tivesse o acidente mais espectacular e aparatoso.


Não é justo que alguém que dê tudo na arena, não ganhe só porque morreu. Os mariquinhas deviam ser penalizados.


É como um veterano de guerra não ter nenhuma marca para mostrar. Provar que esteve lá. Se não tiver meia cabeça reconstituída e uma perna em acrílico, quem é que acredita nas façanhas que eles relatam? Ninguém, só os parolos. A ideia com que se fica é que era um daqueles que ficava a fazer-se de morto na trincheira enquanto os outros entregavam o peito às balas (como eu hoje no exame de Instrumentação e Medidas. Deviam diagnosticar cancro nas testículos do professor mais gordo que lá estava, fazerem-lhe uma castração total e, no fim, o médico ter-se enganado e ele não ter nada (literalmente) só para ver se ele continuava a ridicularizar os erros dos outros). Ou então nem do Quartel saiam porque se faziam de doentes ou, pior ainda, tinham cunhas.

Enfim... não fosse irmos todos presos, sugeria a união popular para irmos todos atrás dos franceses. Uma turba com bastantes forquilhas, tochas e paus a erguerem-se pelo meio da multidão. Um tumulto popular lançador de pedras. De salientar que as tochas não servem para iluminar as ruas, que se ilumimam por si com o pavor vindo das caras do inimigo, servem sim para puxar fogo às coisas.


Representação da boa justiça popular.

Vamos lá ver o que nos espera para o ano. Para este, ficam só algumas fotografias para recordar edições anteriores do Lisboa-Dakar. Fotografias essas que roubei ao Zé Narciso, o Grandalhão, e que estão presentes ao longo deste post.