segunda-feira, abril 17, 2006

Um Campista Num Caguincha

Tanto faz serem iogurtes como deodorantes para maxú (escrevo maxú e não macho para evitar incorrectas interpretações, desde que começou a vertente "macho" (muitas vezes, nestas ocasiões, lê-se "mátchou" e só comem saladas e macrobiótica) que é crítico fazer a separação para não se confundir o inconfundível), as velhas e as "pretas" (geralmente ambas são mais maxú que todos os outros machos) querem todos só para elas, nem que seja para ter mais que as outras e porque "isto pra hóme ou mulher é tudo a mêma coisa".

É pior que dar carne aos leões no seu estado selvagem. Há uns dias atrás estive a distribuir destes deodorantes Nívea para maxú, daqueles que os velhos usam. Velhos que, no Parque de Campismo da Costa da Caparica (e digo isto porque sei por experiência própria), se levantam as 5 da manhã para se irem arranjar ao bloco sanitário para em seguida irem ao Mercado do Monte da Caparica (vão de camioneta apesar de terem um Morris Marina vermelho, o qual passam grande parte da tarde a limpar e tem um papel colado no volante a dizer: "Meter o sinto" e não "cinto") comprar sardinhas, hortaliça fresca (que é como quem diz: cultivada em quintais localizados na parte de trás de uma paragem da rodoviária ou nas traseiras de uma obra particular (para fazer um "anexo") e colhida a caminho da praça) e variado material chinês aos ciganos.

Fazem a barba com lâminas da Bic, saem de lá com a cara toda dilacerada, com falta de enormes bocados de pele (como quem cai e raspa os queixos (apesar de só se ter um) no cimento) e cheia de papelinhos na cara (não sei qual a justificação para esta atitude), duas bolsas de gel de barbear penduradas por detrás das orelhas e claro, o tresandar a deodorant do já referido anteriormente.

De salientar que acordam toda a gente das tendas vizinhas com os seus repenicados assobios matinais e sucessivas descargas de autoclismo que geralmente são precedidas de enormes e sufocados gritos de esforço e agonia física em tudo semelhantes aos libertados pelos tenistas profissionais mas mais roucos, duas oitavas abaixo e bastante mais distendidos no tempo.

Na grande grande maioria das vezes, no espaço temporal intercalar entre estes dois acontecimentos (sopro sonoro vindo do fundo dos pulmões e o repetido descarregar de autoclismo), é ouvido um som que em tudo se assemelha a um murro na porta mergulhado de costas e com bastantes salpicos na área circundante. Não se sabe o que poderá causar tamanho estrondo decibélico (que recorda vagamente, aos veteranos da Segunda Guerra Mundial, a explosão de uma carga de profundidade, solta na tentativa de afundar os já afundados submarinos), mas o silêncio cortante que o acompanha em seguida é uma certeza (tal como o era nas grandes guerras a seguir a explosões que se davam perigosamente perto, apenas um pequeníssimo e distante silvo alimentava a desorientação no vazio).

Seguem-se as tais descargas de autoclismo.

Como almoçam sempre às 11.32, quem até aqui se tinha aguentado a dormir pensando que era resistente o suficiente, ou morre sufocado ou acaba mesmo por acordar com a fumarada que sai de um minúsculo e rasteiro fogareiro (não é um taxista, nem tinha sentido no contexto). Eu consigo fazer uma pequena chama com pouco mais de um metro de altura com uma fornalha destas, mas nem um décimo do fumo.
Talvez com um pouco mais de caruma...

Se for um "companheiro" à altura, avisa os demais da zona que vai "fazer má vizinhança".

Neste caso, o companheiro é também dos mais cavalheiros quando há bailarico no campo da bola (dentro do parque de campismo). Paga sempre uma bifana ou uma bola de berlim e um "small" de laranja ao neto da viúva com quem quer dançar em seguida.

Ao contrário "dos outros bêbados que não saem do pé da kermesse das rifas que também vende vinho a copo e outros comes", são os que se bailam com mais safanões e os mais soltos da festa. Aguentam a noite toda a dançar mas as 9.30 já estão na caravana a dormir.
A fatiota é sempre constituída, entre diversos adereços, por uma camisinha muito leve de cetim ou seda sintética feita p'los amarelos e vendida pelos ciganos no mercado. Estão sempre com grandes manchas de suor nas costas e nas axilas não pela ineficácia do prestigiado deodorant, mas pela medíocre qualidade do tecido.

São homens modernos segundo eles mesmo (o que talvez justifique por que a quase todos lhes foram metidas orelhas de osso) mas não gostam desta música moderna, "é só barulho! Esta malta jovem de hoje em dia já não se sabe divertir" e começa a descrição dos seus saudosos tempos de meninice, das brincadeiras inocentes e dos cachaços, que lhes tiravam os sentidos, dados pelos pais das meninas que andavam a cortejar... "alguma vez se dizia uma alguma coisa um ao outro? Quanto mais beijos... era só troca de olhares e já se gozava a vida".

Os putos gracejados por estes "magníficos" acabam sempre a noite com o cabelo, na parte da moleirinha, alisado e gorduroso de tanta festa que levam. São gozados e apelidados de maricas pelos da mesma idade e vulneráveis a ataques de pedófilos porque pensam que são todos como os velhos do deodorant.


Amanhã vou dar chocolates...