sábado, setembro 24, 2005

Ornejar Paliativo

A coisa nefasta já começou e a hipocondria misantrópica já está de tal forma entranhada que a indolência apodera-se muitas vezes do meu corpo, e nem uma injecção de cafeína e adrenalina directamente no córtex nervoso me poriam agitado.

Hoje, depois de demorar pouco mais de uma hora a almoçar, expandi-me sobre a cama para ler mais um bocado d'um livro escrito por um guru da parvoíce.

Isto de me expandir sobre a cama é uma posição intermédia entre estar sentado e deitado. Uma posição tal que leva todos os músculos a relaxar e a encontrarem a plena descontracção (não comentarei piadas derivadas de mentes com o néctar da podridão humana lá alojado, que instantaneamente se perguntaram se nesta posição sofreria de flatulência incontrolada). Uma posição que nos sentimos atraídos e puxados pela cama, apesar de já estarmos em pleno contacto com ela, uma sensação tão forte que a cama mais parece um magneto gigante. Conseguimos vislumbrar, por breves instantes e na sua totalidade, a lei da atracção dos corpos, tal como explicada por Isaac Newton. Um conforto tal que, comportamentos que de outra forma pareceriam absurdos, irão parecer bastante plausíveis desde que não nos tenhamos que mexer. Entramos num estado fronteira entre estar acordado e estar a dormir, onde o tempo passa sem se dar por ele, uma máquina de aceleração temporal que faz com que tudo à nossa volta pareça estar parado. Mesmo que fosse baleado por 15 gangster munidos de Thompson M1928 (o célebre "Piano de Chicago") certamente não obteriam qualquer movimento da minha parte, todo o pedaço de mim já estava no local de energia potencial nula, muito menos tombaria ou saltaria, o que faria de mim um mau figurante para um filme de acção passado nos anos 30. Aliás... mesmo que os visse entrar no quarto a minha inércia só me permitiria pensar "também não me importa...".

Acordei uma hora depois, atordoado e em aflição porque uma empalhadora de feno dizimou, perto da minha casa, uma manada cães (do americano corrente "quem's manade"). Geralmente acordo com metade da cara mergulhada numa poça de baba e todo torcido sem me conseguir localizar no tempo, como quem acorda no hospital, sem se aperceber da sorte de ter sobrevivido, depois de ter levado a tareia da sua vida por ter não ter as contas saldadas com a máfia russa devido a uma dívida remetente à contrafacção de calendários eróticos. É comum usar-se o termo "matilha" ou bando de cães", mas, pelo barulho, eram mais de 850 e bem corpulentos, por isso o termo "manada". Levantei-me sem pensar no trauma que me poderia causar ver tamanha quantidade de carne cortada aos escalopes, e dirigi-me à cozinha. Só algum tempo depois consegui associar tal barulho à parte do programa, da máquina de lavar roupa, intitulado "Hidroextracção". Se houver algum projecto do Estado para fazer limpezas cerebrais de certo que usam máquinas de lavar roupa a funcionar ininterruptamente neste modo.
Aquele barulho conjugado com o de um aspirador leva à morte instantânea por derrame cerebral múltiplo, é que o ruído produzido tem a frequência exacta para todas as veias e artérias cefálicas colapsarem.


Seguindo para o tópico "férias - um oásis utópico para além do deserto", vou escrever, com a mesma brevidade do acontecimento, sobre o ter ido acampar a Monte Gordo.

Eu tinha algumas ideias pré-concebidas sobre ir acampar... não que alguma fez o tenha feito, mas estava com esperança que desta vez fosse diferente.


Era minha intensão levar uma pressão de ar para matar coelhos para o jantar. Esfolá-los em frente à tenda para atrair bichos e mete-los num espeto para os assar num enorme incêndio florestal. Se nada disto tivesse resultado com a mesma pressão de ar conquistava-se comida aos outros.

Antes de seguirmos viagem o Vencislis contou-me, em tom de quem conta uma lenda, de numa certa vez que foi acampar, ao invés das saladinhas típicas de malta de extrema-esquerda, tinha levado cabeças de borrego guisadas para uma das refeições e que, depois de terminado o festim, tinha empalado as caveiras à porta do avançado da tenda, para afastar o inimigo. Desta vez nem latas de atum a secar para serem reutilizadas como sapatos para anões, para pendurar no espelho central do carro ou mesmo para servirem de penico de algibeira (nunca se sabe quando a vontade aperta).

Tentei meter o fogareiro no meio da tenda para servir de aquecimento central, mas não foi preciso, o pelo do "esquilo humano" emanava calor animal suficiente. Por falar em fogareiro... eu a fazer lume! Não vejo, mais uma vez, que terror é que pode provocar uma pequena labareda de 2 metros num fogareiro de 15cm de raio. A caruma estar toda a arder nas imediações do fogareiro, faz parte do protocolo e está tudo mais que controlado, caso contrário a carne não fica assada como deve ser.

Uma outra actividade possível seria gritar de terror com os pulmões cheios, como quem encontra o frio da morte pela lâmina quente de um punhal espetado no estômago, às 5 da manhã e voltar a dormir como se nada se tivesse passado, é uma sensação muito libertadora e, para além do mais, revigora o sentido de alerta dos outros companheiros de campismo. Em alternativa, infelizmente só me lembrei uns dias depois aquando da companhia dos meus pais (e diga-se que tal presteza não foi de todo bem recebida) poderia ter imitado o ornejar azurzidado (que vem de "zurzido") de Primavera de um macho alfa de um bando de macacos narigudos de pelo curto e dorso dourado. Geralmente ecoa por mais de 70Km e atrai todas as fêmeas ao seu encontro, que, logo ao primeiro contacto auditivo, ficam com orvalho por entre os membros locomotores traseiros.

Não quis levar estacas para prender tenda para poupar no peso, mas já estavam dentro do saco da tenda e não tive para as tirar. É um desperdício de trabalho, há lá tanta estaca espalhada, quase todas atadas a cordas para estarem bem sinalizadas e não se perderem.

Também me deparei com a seguinte questão: ir urinar à retrete onde todos o fazem ou, de forma muito mais higiénica e natural, fazê-lo aos pequenos jactos (para poupar) para cima da tenda dos outros e marcar mais um pedacito de território.


Voltei a Ayamonte, desta vez à noite e acompanhado por amigos, e comemos tapas... o Tony Jezué (que sabe o que quer e é muito esperto) também o fez e com um especial pedido "Quiero tapas mas bien passadas! Ouvistésh?"

Sem saturar muito o tema da praia (que alguém muito específico me disse que já era um assunto muito batido e fácil de falar) vou só recordar um pequeno episódio lá sucedido:
Eram umas duas da tarde e, sob um tórrido sol, uma pequena sombrinha, propriedade alheia, albergou 3 forasteiros que se meteram em posição de etíope em campo de refugiados (agachados de cócoras quase sentados no chão, cabeça esticada para a frente para apoiarem os queixos nos joelhos, olhar vazio, ar apático e boca semi-aberta a cuspir moscas, braços ao longo do corpo e com as costas das mãos no chão) que estavam perto de alcançar uma insolação, o que vale é que os donos tinham ido almoçar (segundos os nossos rigorosos cálculos), bom... a rigor estavam a 1.30 metros da sua propriedade e não tinham ido almoçar. Mas tudo são pormenores que em nada tiram a sua simpatia. Tiveram pena dos indígenas que pareciam tão inofensivos e era nitido que padeciam de um mal enfermo por excesso de sol na cabeça...


Visto que o outro post estava, segundo alguns, demasiado grande (sublinhe-se o "demasiado"), tentei fazer este mais rápido e curto.

Aqui poderia haver dois tipos de piadas grosseiras e francamente ordinárias: o da "voz off" (que nem sei se é isto, mas parece um termo técnico sonante) - "tira, tira quero ir fazer não sei quê!", "Uiii... qu'isso não cabe tudo cá dentro" ou ainda remeter para o estudo científico, que me contaram, sobre o sentimento de inferioridade que os espectadores de vídeos de luta greco-romana mista sentem ao verem a sobrante virilidade do "artista" masculino.

Optei, como sempre o faço, por não dizer nenhuma das duas.

sexta-feira, setembro 16, 2005

Marasmos Escolativos - Monte Gordo

Finalmente, ao fim de algum tempo, decidi actualizar esta vala de letras. Mais para contrariar o enfraquecimento das forças morais que se vai apoderando de mim, à medida que o início d'"aquilo" vai consumindo a minha pessoa, do que por disponibilidade psíquica (a verdadeira explicação está disponível já adiante).

Já vários sábios afirmaram que quando se tem que fazer algo potencialmente importante é que temos disponibilidade para coisas destas... e é verdade!
Por isso cá estou eu a actualizar o meu blog. Poderia ao menos tentar disfarçar, mas não... foi logo no primeiro dia d'"aquilo" que comecei a escrever isto. Desta vez até tive alguns leitores que se mostraram insatisfeitos pela demora e reivindicaram por mais posts. A eles agradeço a árdua espera e todo o incentivo que me deram tal como chamadas anónimas com ameaças de morte e várias tentativas de atentados bombistas.

Não estou particularmente contente por recomeçar as aulas, mas vou sobrevivendo, isto lá para meados de Julho já me passa.
Ainda tentei convencer os meus pais a comprarem-me uma mochila com rodinhas do filme Madagascar, 23 canetas de cor com cheiros todos diferentes, 5 lapiseiras com cores diferentes e com cheiro, borrachas dos Morangos com Açúcar, e um estojo dos DZRT (tive um grande desgosto nestas férias ao descobrir que o baterista deste fenómeno para massas alienadas é meu vizinho... felizmente não é nenhum dos cromos repetidos (sendo portanto mais vulgares e menos valiosos) dos vocalistas, mas mesmo assim deixei de lhe falar (nunca lhe ter falado é um pormenor técnico totalmente desnecessário)) entre outro material que de certo me traria um bom começo de aulas. Claro que os meus pais não gostam o suficiente de mim para me comprarem estas magníficas coisas (se calhar gostam de mais para me comprarem destas coisas, mas isso já seria demasiado óbvio e custa a acreditar).
Refira-se que gosto do filme Madagascar apesar de não o ter visto (há gente assim... afirma ferozmente que gosta ou detesta algo que nunca viu), só que é dos últimos filmes infantis (apesar de ser melhor, de longe, que filmes para o escalão a seguir... filmes para adultos contaram-me que é outra coisa estranha que envolve karaté alentejano) que saiu e as mochilas com rodinhas têm que ter temas relativos aos últimos filmes infantis. (Às vezes não corresponde exactamente ao último desenho animado porque os chineses ainda não tiveram tempo de as fazer).

Sempre me podia alegrar por poder fazer novas amizades e ficar entusiasmado por encontrar novos professores... mas isso de querer fazer muitas novas amizades é para alegres e o Benfica (o cão) também fica entusiasmado quando vê o Tó Zé (nome fictício e que em nada está relacionado com outro Tó Zé referenciado neste blog) e isso não é necessariamente bom sinal.
Safou-se a comida da cantina que tinha muito e levava batatas fritas, menos mau. Infelizmente o sumo já não tinha aquele travo avinagrado/alixiviado que lhe conferia as tais propriedades shamanes. (Entratanto já passaram uns dias aquando da escrita da linha anterior e a comida está ligeiramente abaixo da menos má do ano passado. O primeiro dia foi para enganar e aliciar o pagode).


Estive, neste fim de semana passado, a tentar mentalizar-me para o recomeço do castigo e receber a benção divina na mítica terra de Almoster, mas nem os figos desta sagrada terra, com propriedades druidas, me safaram... curam muita coisa (desde infecções urinárias, maus humores e borbulhas, até queda de cabelo, pedra no rins e diversas maleitas no figado), mas os espíritos não previram mal tão funesto e trágico.
Só acrescentar que a figueira está encostada a um muro do cemitério e que as raízes estão mais do lado de lá do que do de cá, daí advêm os poderes destes figos. Os anciãos dizem que tais propriedades sucedem do facto das raízes captarem os ácidos dos mortos. Mortos esses que encontram os seus corpos em avançada fase de fermentação. Isto em conjunção com o mau olhado que as viúvas nos lançam, enquanto apanhamos os figos à ganância, só realça não só o sabor mas também o carácter extraordinário dos figos.

Continuando que já me estou a desviar...

Embora as portas das férias ainda não se tenham fechado por completo (oficialmente já acabaram, mas a malta é jovem e quando este facto se alia à teimosia, muitas certezas se têm, bom... é mais para não me dar por derrotado) e ainda hajam alguns projectos, faz bem recordar alguns dos momentos vividos (regra geral só há vida no Verão) nestas férias.
Fui escrevendo pequenos pormenores que se cruzavam comigo, em papeis de algibeira e acabei por acumular um considerável número de acontecimentos presenciados.


Por esta altura o que já escrevi já dava para encher um post mais brejeiro.

Vou tentar começar de forma mais ou menos cronológica, ou seja, se há um post primeiro que este, e esse foi lido primeiro que este, o caro leitor estará a retroceder no tempo o que poderá, só por si, trazer-lhe enormes problemas por estar a interferir no tecido espacio-temporal. Não se admire portanto se voltar para a barriga da sua mãe. (Acredito que algumas mentes decadentes tenham pensado: "ou até antes disso")

Vou iniciar as festividades com um pequeno relato do vivido este ano em Monte Gordo, terra da água quente (por vezes era mais que morna), o que, por si, justifica a quantidade de gente que por lá se encontra nesta época, isso, os gelados e ter Ayamonte perto.
Ayamonte... os portugueses vão a Ayamonte fazer compras, os espanhóis vêm a Vila Real de Santo António fazer compras. Cada localidade destas, está cheia de gente dos seus países vizinhos respectivamente. Ambos o fazem porque sai mais barato. Deve ser por causa do valor da peseta ter estado a oscilar muito nos últimos meses.
Não quero ligar aos chicos-espertos que dizem que depende do que se compra, "que lá, a gasolina está mais barata 40 paus e não sei quê pardais ao ninho" e que "jogos de lençóis para a cama cá são muito mais baratos e em conta e que não tem comparação já o meu tio-avô, quando era alferes (...), dizia (...) que sim. Mas nas Canárias (...) era um pouco mais barato (...) mas também se apanhavam grandes barretes, nunca mais me esqueço do que aconteceu ao Ti' Chico Zé (...)".

Mas Monte Gordo não é conhecida pelo mercantilismo (eu sei que esta palavra está meio deslocada... mas soa bem) com Ayamonte, é sim conhecida pelo fenómeno "praia".

Mal cheguei e avistei logo 87231 mamíferos na praia de Monte Gordo, 12854 dos quais dentro de água que nem uma praga de flamingos (na cor e tudo). Palavra, perdi um dia inteiro a contá-los com os dedos de uma mão. Tudo isto só à frente da minha toalha. Todo este fenómeno leva a situações muito incomodativas. Eu no meio de um enxame de gente, com a minha toalha a 25cm da toalha de gente desconhecida. Imaginem só o importuno e inquietante que é ter dum lado duas moças com vestimenta muito diminuta a cobrir (poderia meter aqui um qualquer trocadilho ordinário com a expressão "o que eu cobria sei eu" mas jamais o farei) dois pares de nalgas bem redondas, com uma fracção irredutível de lycra na parte furnica (que vem de furna), em frente um veleiro de mastro único feito de um tronco de uma Sequoia Sempervirens. Veleiro esse que teimava em desaparecer repentinamente cada vez que entrava no meu perímetro de visão bordas que transbordavam de uma cadeira de uma senhora de idade que fazia um napron para oferecer à nora. Tal extremismo oscilatório provocava-me um enervante desconforto e ânsia que já nem sabia o que fazer sem ir preso, nem como estar. Asseguro-vos que foi uma experiência diabólica.
Não sei se pior que a que experimentei quando, a meio de um dia de praia, denotei que tinha um semi-rígido no Cabo Canaveral a dar-me suores frios e a bloquear-me a visão com cegueira e agonizantes alucinações. Era tal o arrepio na espinha que me originava perda total de força nas pernas. Não procurei cura atrás das dunas, mas sim no conforto do lar, após ter percorrido quilómetros até ter lá chegado... a rigor foram uma meia-dúzia de metros, mas o avançar das tropas foi penoso. Mudando de assunto que este já está a ter contornos um tanto ou quanto dúbios.

Voltando ao tema principal, mais uma vez.
Estar na praia, era o equivalente a estar no meio de uma imensa colónia de leões marinhos, todos com algum porte, que emigrou toda para a mesma praia dos Galapagos.
A praia mais parecia um deserto... o que um tem de areia tem a outra de pigmeus deitados ao sol ou em outras actividades, como a comer galinha corada em manteiga, ou arroz de coelho, ou bacalhau cozido com grão, tudo isto em sande, claro. De salientar que tudo é empurrado com vinho tinto que está num garrafão, garrafão esse que se encontra na rebentação para ficar mais fresco, preso por uma guita para se saber a quem pertence.

Podem também ser encontrados a jogar às raquetas (ia jurar que era "raquetes" que se dizia), mas geralmente são vistos a revelar o seu lado de Figo ou de Cristiano Rrrónaldo, "o Puto Maravilha", (nem imaginam o quanto estas duas definições "cocegajam" a minha mente) que há em si, dando grandes cartadas com prodigiosos toques na coroa esférica (tentei fazer uma analogia com "desporto rei" mas nestes dias paciência é coisa que não flui nas minhas veias e tenho ódio a todos os que afirmaram que para escrever este post já tive muita paciênca) saudando os outros banhistas com estupendas boladas surpresa e areia com fartura para cima, "oh chefe, sinceramente... não está a ver que se joga futebol? Santa paciência" ao que, geralmente, se responde, com as pálpebras a rasgar a retina com areia e com um profundo pesar de quem toma consciência e se lamenta do seu erro: "desculpe lá... não reparei!".

Mas não só de Homo Salafrarius Labregus devoradores de sandes (reler algures um post meu sobre uma viagem de camioneta que fiz) era a praia povoada. Muito boa gente e culta frequenta a praia, muitos franceses... Que melódico e encantador era ouvir:
"Jean Pierre, oici! Jean Pierre, allez! Écute Jean Pierre! Jean Pierre! Anda cá filha da puta senão levas uma arroxada por esses cornos abaixo!"
Muy belo... tenho que admitir que era "dificíllimo" adivinhar que eram portugueses, muito menos emigrantes em França. A criança, com a fronha toda esfolada de cair, passava grande parte do dia a comer areia, a mãe... essa tinha um fato de banho até aos tornozelos e não saiu da cadeira não dobrável e em madeira que se encontrava debaixo do chapéu de sol. Por seu turno, o pai era o que passava mais despercebido... com a sua barriga de gémeos em fim de gestação, um magnífico bigode com farelos de sopa de nabo, embora saiba o que é "comer bem", exibia com orgulho um boné do F. C. Porto ainda com o patrocínio da Revigrés, que lhe adornava a moleirinha.
Já para não falar do homem, que presumo ser português, com uma t-shirt com o slogan "Amora a concelho" .


Outra grande atracção em Monte Gordo é a Maria's Tasca.
A caminho, pela praia e com passo meio corrido à Mitch, da Maria's Tasca deparei-me com uma marafona gorda com ar de fina e muito importante (do género esquisita "é que nem nos teus sonhos"), mas é que eu só olhei para ela por achei imensa piada e deveras curioso o facto dela ir com uma teta de fora do bikini e pela parte de baixo. Eu bem sei que nestes assuntos tenho muito que aprender, mas confesso que nunca tinha visto uma atitude daquelas. Uma iniciativa que, a continuar e a tornar-se hábito, recebe, desde já, o meu total apoio.

Eu chego lá despreocupadamente e dou logo duas bajocas a cada emprega e até à dona... claro que me convém omitir que duas são minhas vizinhas e a "patroa" é a irmã mais velha de uma, evidente que já as conhecia todas, mas mais uma vez são pequenos pormenores técnicos que não são necessários à conversa.
Mas foi o suficiente para muitos "pintas" que estavam a tentar bater couro, que friamente era descartado, sentirem todo o seu império a desmoronar-se... claro que quem lá esteve não viu nenhum destes pintas, muito menos gente com procedimentos daquela natureza, porque era um bar muito bem frequentado... mas precisei de os meter aqui para dar alguma tragédia poética.

(Por esta altura já me ardem os olhos de escrever isto no PC... um dia destes fui para comprar um monitor TFT de 17" por 150 aérios e cheguei lá "já só" tinham dos de 300 aérios para cima e acabei por comprar um DVD de Deep Purple por 4 aérios... a estratégia deles resultou comigo embora não tivesse trazido outro monitor mais caro. Vou portanto, tentar encurtar a exposição narrativa para poupar este preciso meio de contacto com o mundo exterior.)

Durante a noite, o poiso era outro, o passeio nocturno densamente utilizado. Estranho era que se seguisse a corrente de pessoas ia-se dar a um descampado sem nada nem ninguém.
Outro fenómeno em Monte Gordo eram os homens pintados de branco e vestidos de branco a imitar estátuas. Eu contei três na mesma avenida. Iam desde o que se mexia realmente devagar, de forma quase imperceptível, por forma a fazer coisas simples, ao profissionalismo de um, que para além de se estar sempre a rir e a tentar cumprimentar as pessoas, até coçava o nariz com o braço de forma irrequieta. É deste último que vou falar. Não é que o rapaz prega um "cagaço" quase de morte a duas pobres crianças... que depois do estalo de adrenalina que levaram, berravam desmedidamente agarradas aos braços do pai. O festim foi a ponto tal que, sempre com a subtileza que lhe era característica no seu número, o palhaço viu-se obrigado a desmontar o estaminé e a dar corda aos "calcantes". Também ninguém mandou os estafermos passarem perto de uma estátua que se estava mesmo a ver que era uma questão de tempo para se começar a mexer (como já o disse anteriormente, não mais que 1.5 segundos).

Para terminar... durante uns dias à noite foram lá tocar umas bandas para animar os veraneantes, mais do que os homens que pintam quadros a spray e que toda a gente batia palmas.

(Aqui admito que já estou farto de escrever para este post e que já se passaram uns dias desde que comecei a escrevê-lo)

Vou começar pelo primeiro dia:
Uma bandazita com uns elementos que tocavam menos mal o instrumento que a eles era atribuído. A moça tinha uma voz potente mas não sabia letra nenhuma e exagerava nos "wooow-oohh" para se fazer ouvir.
O desconhecimento das letras ia a ponto de estar com o caderno na mão enquanto cantava.
No, já considerado hino para muitos e cada vez há mais, YMCA o refrão vinha com voz arrastada e meio a fugir em que só coincidia com o publico na sigla "YMCA", de resto era um dialecto que em nada se aproximava com o refrão original.
Os músicos não deram nenhum "prego" (gíria que se usa no meio para descrever erro) digno de nota.

Mesmo assim teve critica positiva. Um "índibiduo" (dito com voz de GNR do norte) mal tinha acabado de chegar e disse logo, "mas atenção que a música tem cólidade, tá bem?"

Ainda houve tempo para um medley com músicas da Britney Spears que meteu a pequenada a correr de um lado para o outro e de forma aleatória (mais tarde ou mais cedo chocavam uns com os outros portanto) só de ouvir o nome.

No segundo dia (salientar de novo que foi no segundo dia que vi concerto) o cartaz tinha direito a duas bandas.
A primeira, como diria o meu amigo Uel Mig (Mig, Uel em americano) em tempos que já lá vão (deu um salto em frente, os meus votos que seja na direcção correcta), "ela tem talento". E não digo isto tanto por mim, mas sim pelo ar de contentamento que muito pai fazia por a rapariga ter optado por umas saias realmente curtas que expunham uma "perna rija" a acompanhar por um top branco e justinho. Infelizmente, cantar não era realmente o seu forte.
Para melhorar a performance da banda a rapariga fez a festa toda sozinha porque os outros pacóvios aparolados, era cada um por si, totalmente desnorteados pelo brilhar dos projectores que nem traças à volta de um candeeiro de rua. "Era cada prego, faxavouré".

Mas o que a audiência esperava era pela cabeça de cartaz, a Patrícia "não sei quê" (e o engraçado é que nem sei se é Patrícia) que ao que parece é vedeta da peçonha carbúnculosa que são os Morangos com Açúcar.
Só me apercebi no que me tinha metido quando à minha volta apareceram milhentas pré-adolescentes, quase no limiar do choro, a correr para se abeirarem do palco. Pareceu-me que aquilo até tinha a sua magnitude... mas passou-me tudo ao lado porque era um acontecimento para lá do meu panorama. Não me arrependi nem me chateei muito de lá ter ficado porque a moça até era simpática e bastante agradável à vista.
O que me chateia é que muitas vezes estas moças, de qualidade musical algo dúbia, fazem-se acompanhar por músicos notáveis sub-aproveitados em musiquinha da moda. Aquilo vende pela cara da moça, uma acção de marketing conjunta com a novela. Um ajuda o outro a vender.
Estes músicos só mostram parte do seu vasto potencial aquando da apresentação final dos elementos da banda em que nos presenteiam com um pequeno, mas saboroso, solo na sua especialidade. A moça mostrou apenas o seu sorriso (aposto que há leitores que fizeram logo a pergunta para o ar: "sorriso horizontal ou vertical...?" cambada de ordinarões) quando alguém a apresentou.

De notar que em todas as bandas com elementos femininos falharam os belos comentários gritados que muita felicidade e regozijo nos trazem:
- Oh boa/grossa
- Despe! Despe!
E a mais bela "parafernália" de palavras que até hoje ouvi, foi no primeiro concerto/festival a sério que fui, o T99 (um dos cabeças de cartaz de peso do festival eram os Metallica), em que a meio do concerto de Guano Apes, e sem ninguém o esperar, brota um:
- Partia-te esse tijolo todo oh minha grandá porca!

Desde então assisto com outra magia e beleza a estes festivais, sempre à espera destes imprevistos.

Cá me fico com um post maior que a celebração da passagem para o ano 1349. Espero ter posto material suficiente para me redimir pela demora na actualização do blog. Embora não me convença que os posts são poucos mas bons, são escritos com boa vontade e muito afago.