sábado, novembro 26, 2005

Natatione Foras d'Aqua

Porque raio é que quando uma máquina, que geralmente aceita moedas em troca de produtos ou serviços, não as recebe com agrado, o operador público pega na mesma moeda rejeitada e, sem remorsos, esfrega-a numa parte plana da máquina (de preferência perto da ranhura de admissão de moedas) e a tenta meter outra vez? Será o inicio de algum ritual ou é alguma promessa? Será devido a alguma praga que a nós foi rogada ou terá fundamento científico? Será que depois ela entra graças ao processo curandeiro ou apenas por mera sorte, ou azar por não ter sido aceite à primeira?

Alguns fabricantes já se precaveram e instalaram uma chapa "especial" para raspar a moeda recusada, caso de algumas máquinas de comida perto dos serviços de urgência nos hospitais (já se sabe como estão as pessoas que esperam por notícias dos doentes, geralmente estas máquinas, para além da chapa, também são blindadas e o vidro é à prova de bala) e das de matraquilhos (altar de sacrifício a um deus muito poderoso, onde me martirizei durante largas temporadas). Estas últimas contam ainda muitas vezes com uma chapa extra para bater a bola antes de a atirar para dentro do campo.

Outras máquinas não preparadas estão completamente mutiladas, basta andar de metro e reparar nas bilheteiras da estação. Têm sempre uma parte com o metal exposto, sem qualquer tinta e completamente polido de tanta vez que foi roçado.

Depois desta introdução que não passou de uma mera manobra de diversão (que em adição ao texto que está para vir, tornará o post relativamente grande, afastando já muito pagão de o ler até ao fim sobre o pretexto que já está farto).
Irei reavivar um outro assunto. Vou falar um pouco da natação.

Esta Quinta-feira passada, fui para a pista dos grandes. Não que eles sejam maiores que eu, mas nadam melhor que eu. Tal como os da pista dos putos não são mais novos que eu, porque até são todos mais velhos, apenas nadam pior que eu.

Esta é a parte aonde ainda estou a pensar como irei abordar o assunto. Em Português, nas "composições", o que usualmente me era mais difícil era começar (há quem recite um outro provérbio relativamente à dificuldade de começar, digo qual é apenas a pedido), mas nesses tempos era alérgico à escrita... agora parece que estou a querer compensar, somente em tamanho claro.

Não que tivesse já à altura dos grandes (não em tamanho ou idade mas sim em técnica, velocidade e resistência), mas pelo menos já não me dão um avanço tão escandaloso. Daí não ter conseguido identificar a Cassandra (nome fictício como é evidente, escolhi este apenas para gesticular um pouco a imaginação)... para além de ela estar na pista dos grandes (ela é "A Grande" porque vai sempre à frente (salvo seja, embora desta vez não esteja a ver qualquer conotação, mas esta gente que lê o meu blog costuma ter mentes traiçoeiras) e chega sempre em primeiro lugar, sinónimo da sua boa forma) cada vez que ela passava por mim (e não foram poucas as vezes, antes pelo contrário) eu era sacudido para a pista do lado pela onda de arrasto (quando não era cuspido para o pavimento exterior à piscina), o que me desorientava a ponto de pensar que ainda estava na mesma pista ou dentro de água. Óbvio que quando olhava para ver o que tinha atingido, não via nada.

Não cheguei a aplicar a técnica Komodo, mas descobri e facilmente conclui, que não se tratava de produção diluível em água, mas sim, falta de aptidões físicas da minha parte.

É que isto de nadar em pista de 50 metros tem muito que se lhe diga.
Para começar são mesmo 50 metros, não como nas pistas de 25 metros. Nada-se mais nadando 50 metros numa piscina de 50 metros do que 75 metros numa pista de 25 metros (e digo 75 metros para não dizer 100 ou 150 metros... preferi dizer só 75 metros para não me chamarem racista ou de extrema direita com já tem vindo a ser hábito).

Uma comparação análoga é a comparação entre colunas ou amplificadores áudio europeus e os seus correspondentes chineses. Se as colunas europeias têm escrito no catálogo que têm 75 Watt, é porque têm 75 Watt RMS. Se as chinesas têm num autocolante prateado e com letras a vermelho, rodeadas de caracteres em mandarim, que têm 800 Watt, na realidade tem que se dividir por 50 e obtém-se assim a potência real (que já inclui a larga banda de disturção), ou seja 16 Watt.

E pergunta o leitor que não abrange a totalidade desta relação de semelhanças entre coisas diferentes:
Coa breca... que tem uma coisa a ver com a outra?


Em pista de 25 metros, "nadar 75 metros", é o mesmo que dizer "nadar 75 metros chineses".

É de admirar a piscina ter mesmo 25 metros europeus... estas criaturas aldrabam tanto e em tudo de uma maneira tão escandalosa que qualquer coisa é possível. Há mesmo quem afirme e imponha a sua certeza, que para as provas internacionais (que para as nacionais usam todos o mesmo método quer em treino quer em prova) é comum recorrerem a piscinas de salão para o treino (daí os maus resultados finais). Se há ténis de salão, o ping-pong, se há futebol de salão, o futsal ou mesmo os matraquilhos (duas referências no mesmo post... é um sinal divino), não é de admirar que exista piscina de salão.
Estas piscinas de salão, que ainda não foram divulgadas para o mundo ocidental por uma questão de estratégia desportiva, consistem:

- numa tina com água para meter a cabeça;
- uma semi-bicicleta, para dar às pernas (como é evidente (que vem do irlandês "heavy dent", "dente pesado")), e adicionar um pequeno gerador que dá luz para toda a casa ou piso do complexo urbano altamente lotado (conforme a qualidade do atleta, há quem só se aguente a pedalar para uma lâmpada na sala enquanto os 17 irmãos fazem os trabalhos de casa, contrafazendo roupa de marca ocidental);
- os braços puxam 25 metros de corda que se encontra pendurada numa janela, encontrando-se atado à outra extremidade da corda um balde com 5 Kg de arroz (se for em treino é recorrente meter-se um dos filhos, se cair também já não fazia falta). Em competições oficiais, o que "nadar" primeiro fica com o arroz todo do balde e pode alimentar a família durante um ano. Aos que perdem é dado o direito (e ainda dizem que na China não existem direitos) à escolha (e agora uma lista dentro de uma lista):
- são fuzilados em plena cerimónia de entrega de prémios e em directo para a televisão local;
- cortam-se-lhes os braços e vazam-se-lhes os olhos;
- ou podem optar por um treino especializado que inclui um pequeno estágio de 25 anos num dos campos de trabalhos forçados localizados perto da fronteira com a Mongólia.

Grande parte dos atletas vê-se obrigado a optar pela primeira opção, por não terem dinheiro suficiente para pagar o transporte para o complexo "desportivo" e as refeições durante a estadia, porque, à que relembrar, o treino é voluntário e não remunerado.


Retomando a pergunta original que está orfã de resposta há já algumas linhas e tentado explicar de forma sucinta e breve a coisa.

Na piscina de 25 metros há sempre uma grande parte onde se tem pé... nessa parte não se nada, anda-se. Na piscina de 50 metros nunca há pé, nem o degrauzinho nas extremidades latitudinárias da piscina. Numa piscina de 25 metros a cada 25 metros, dá-se balanço contra a parede. Quando passamos os primeiros 25 metros numa piscina de 50 metros europeus, se tentarmos dar o dito balanço, tal acto irá assemelhar-se à inexperiência de um golfinho fêmea aquando da primeira vez que dá à luz e se tenta libertar da cria recém-nascida, isto sem relembrar que não saímos do mesmo sítio ou acabamos mesmo por ir para trás. Na piscina de 25 metros sempre se vai puxando a corda de vez em quando para dar velocidade. Na piscina de 50 metros aquilo está feito de maneira a que quando se tenta puxar as argolas da corda, estas deslizam com forças de arrasto e de atrito nulas, ou seja, um brusco movimento a seco, não só não se sai do mesmo sítio, como frustra a mente. A partir das bandeirinhas de sinalização já não se nada, ou porque já se estava a andar (porque já havia pé) ou porque já se vai puxando a corda. Na de 50 metros somos obrigados a nadar até ao fim.

Tudo descontado, 75 metros em piscina de 25 metros equivale a 33 metros europeus (basta dividir por 2.5 e somar ao resultado 10% deste valor obtido inicialmente).


E para não falar que nas piscinas europeias, como não se tem pé, quando se está à espera de instruções (onde geralmente se descansava) é para estar a dar à perninha se não queremos ir ao fundo ou engolir pirulitos (palavra muito buliçosa).

Amanhã tenho uma insignificante prova de natação, 30 minutos a nadar sem parar. Não sei ao que vou, mas a minha eventual falta de preparação é compensada por uma inabalável convicção na vitória. Tal crença irá manter-se inalterável mesmo que não seja uma competição. Ouxalá não se oiça nenhum "De profundis" por mim depois da prova.

E assim termino mais um post deixando uma pequena dúvida: será que o frio contrai a bexiga, dilata as águas régias (relembrar que o gelo tem maior volume que a água em estado líquido) ou será uma junção das duas que nos provoca uma necessidade fisiológica de carácter líquido induzida aquando da descida repentina de temperatura?

sexta-feira, novembro 25, 2005

Faruk - O Ultra Macho

Como não estou com "vontade" de escrever sobre o resto da história, vou dar-vos o exemplo do que é ser-se Ultra-Macho. Vou falar-vos da criatura mas máscula com que alguma vez me cruzei (salvo seja... apre! (aqui está uma palavra bonita)). Vou falar-vos do Faruk.

O Faruk e o seu carácter varonil vieram com o Uel Mig (que faz arroz à toa e sai bem... eis a receita: vazar meio frasco de arroz directamente para dentro de um tacho que tinha água equivalente ao peso máximo que ele suportou enquanto enchia o mesmo, meter uma cebola quase descascada (a terra que estava agarrada temperava o arroz) e meter tudo ao lume. Servir no intervalo de um filme) e sua respectiva patroa.

Tentei meter conversa com o Faruk, para tentar aprender alguma coisa com ele, mas a sua frieza e indiferença foram constantes.

"Oh Faruk... não me digas que se a Lassie tivesse menos 25 anos em cima que não a fazias..." Com o seu extremo ego não teve qualquer reacção. "Este gajo é muito duro!", pensei.

"Mas e a que fez os 101 Dálmatas, já lhe davas um jeito, hein?" tentei eu novamente com o entusiasmo que é característico àqueles que, sendo inexperientes nestas coisas, se vêm diante d'um guru da masculinidade. Obtive a mesma resposta.
Estranhei no entanto os latidos baixos quando apareceu o Rex no tuvisor... "deve ser preciso ser-se muito macho para se conseguir estar à altura de um Faruk". (Há quem diga que os cães não vêm tuvisor, mas ficou provado o contrário).

A patroa do Uel Mig é muito simpática mas via-se nitidamente que não percebe nada de animais e muito menos do que é ser-se macho:

"Porra! É uma cadela e chama-se Farrusca!"

Arregalei os olhos, desviei o olhar lentamente e remeti-me ao silêncio para ver se a crise lhe passava. Comentei com o Faruk: "A tua dona (que não é dona porque o Faruk não é pertence de ninguém. É macho... não tem sentido ter dona) não bate lá muito bem, pois não?
Como é que um cão com o temperamento do Faruk poderia ser alguma vez fêmea?

Era o esplendor do que é ser-se macho e a fulgência da masculinidade.

O Uel Mig apertou os berlindes sem querer (como é que se aperta a "fruta" a alguém sem querer é algo que me ultrapassa) ao Faruk, claro que o animal se ressentiu e teve que mostrar os dentes. Já não bastava estarem no seu território exclusivo como ainda brincaram daquela forma com a sua virilidade.

Aliás, bastava tocar com uma mão ou na cachola, ou na omoplata da fera, para esta meter as orelhas para a frente em posição de ataque, mostrar bem os dentes e tremer com o seu poderoso rosnar.

É que os machos não toleram a presença de outros do mesmo sexo por perto (apesar de, em relação ao Faruk, serem todos de uma classe inferior de masculinidade), muito menos serem tocados por estes.

Um especialista (em quê não sei) holandês explicou esta reacção como uma certa insegurança na orientação sexual nestes indivíduos. Daí o seu comportamento exageradamente teatral e artificial, empenhando-se a fundo para dar uma imagem de uma masculinidade que não existente. Tentam a todo custo parecerem aberrantemente homens, porque no fundo temem deixar-se ir pelos impulsos reprimidos que os perturbam. Nunca suportam brincadeiras entre homens porque sentem que o seu ponto de ruptura está no limite e não sabem reagir naturalmente sem resvalar, sem retorno, para o outro lado. Nunca excepto no caso de a brincadeira vir de algum homem que eles venerem, porque com esses jamais perdem a esperança que um dia se unam. Deixam-se ir para ver até onde o outro está disposto a avançar. É comum verificar que a Madonna seria a única mulher que os faria mudar de ideias, a única mulher que os levaria ao altar.

Sei de um caso destes mas estou crente, ao contrário deste, caso todo ele coberto de plumas, que não é o caso do Faruk.

Tudo o que o Faruk diz é verdade, ter estado sempre em silêncio só mostra o quão sábio é! Contrarimante à outra facção, àqueles que se fazem passar por super-macho quando a realidade é bem mais alternativa e moderna, que inventam compulsiva e descaradamente para terem razão... desde quando é que um doutoramento em Enfermagem, a exister, tem a duração de 5 anos? O curso em si, que é magnífico e mesmo não estando concluído salva inúmeras vidas todos os dias, tem 4 anos de duração... tem todo o sentido o hipotético doutoramento ser em 5 anos. Faz-se uma tese e defende-se essa tese, não é bem doutoramento, é a criação de saberes e de práticas de intervenção especializada. Mas não... d'isso sabe ele com a maior das certezas! (mas já se reparou que certezas é coisa que não tem).

Quanto ao doutoramento em Medicina... existe um doutoramento mas é mais uma especialização que depois confer ao médico o título de Doutor, ao invés do Dr. que vulgarmente aparecem nas cartas para pagar a água, a electricidade ou o gás. Torna-se doutor e vai para investigação ou acaba a dar aulas. É diferente do douturamento de cursos como as engenharias, por mero exemplo.

Tirar o doutoramento na macabra instituição que frequento em 5 anos? 5 anos só se for com mestrado e trabalho final de curso incluidos.

O que interessa é que em ambas as situações afirmou algo que, não só não tinha a certeza, como não sabia o que estava a afirmar.

Basta analisar o que me disse para se ter uma melhor percepção das coisas:

"Tu por exemplo não conheces... mas eu gosto muito do Wagner" que é o mesmo que dizer "tu por exemplo és estúpido mas eu sou muito intelectual".

Eu que até tive alguma, embora pouca, educação musical mas pronto, o perito é ele e o inculto e atrasado sou eu. Claro que foi encavado com gravilha de sílex, para fazer faísca, quando lhe perguntei qual a obra que mais gostava de Wagner, já que é um tão grande apreciador. Era vergonhosamente fácil... bastava dizer "Die Walküre" (ou "A Valquíria" se quisermos traduzir à letra), que é a que toda a gente conhece ou gosta por ser uma música meio épica e porque faz parte da banda sonora do Apocalypse Now, para eu ficar convencido que ao menos tinha ouvido pelo menos uma vez Wagner. Faltou dizer que comprou "este último CD que ele lançou há pouco tempo". Na realidade, esta criatura a gostar do Wagner, e não a obra do mesmo, só confirma o que tenho vindo a dizer, visto que o Wagner tinha uma inquietante atracção para com os do mesmo sexo.

Só se se estava a referir ao Wagner Love... aí está bem, o caso muda de figura e tem todo o sentido a sua declaração.