sábado, dezembro 31, 2005

Monstro - Um Ensaio

Há coisa de umas duas semanas, pela primeira vez em toda a minha vida, senti o que é o verdadeiro medo.

Como é possível algo ou alguém (não consigo distinguir qual dos dois pronomes deverei usar) meter-me medo? Nem eu sabia até ter passado por aquela experiência aterradora...


Tentarei explicar o sucedido de uma forma que não me lembre, muito intensamente, o que se passou, para não ter que recordar tudo outra vez. Para que essas memórias não voltem a estar presentes no meu pensamento nem no meu consciente.

Estava eu sozinho numa sala a estudar (a qual vou ter omitir para não se tornar em mais um canil municipal como ocorreu com outras) quando me começo a sentir observado. Quando julgava que era resultado da música que estava a ouvir naquele momento, heis que se abre a porta e me deparo com uma criatura medonha que ficou especada a olhar para mim, de um modo pálido, frio e implacável.

Fiquei de tal forma imóvel que o ponteiro dos minutos de um relógio tinham mais movimento que todo o meu eu. Quando me decidi a fitá-la, em forma de teste para ver qual a sua reacção, ela desviou lentamente o olhar e começou a espreitar-me por debaixo das mesas como se uma busca por algo perdido no chão se tratasse. Mas sempre a olhar-me com obliquidade, fixando-me de soslaio.


Foi então que me enchi de coragem para tomar atitudes mais dramáticas. Na altura, com a aflicção, pareceu-me perfeitamente razoável pegar no apontador de madeira e atravessá-lo várias vezes, trespassando o assombro de um lado ao outro continuamente. Era o que tinha que ser feito, era o que o animalesco prodígio da cruel Natureza merecia. Tinha que sofrer, tinha que pagar pelos seus actos pecadores e profanos. Era a sua penitência e não o seu castigo.

O matreiro esgueirou-se sorrateiramente, de dorso marreco, com os braços formando um ângulo recto com as pernas e rodando lentamente sobre ele próprio, evadiu-se para fora da sala.

Deixou no entanto a porta aberta em jeito de provocação. Gelei sem saber o que fazer. Seria uma armadilha ardilosa ou simples fruto do acaso de uma fuga imprevista?

O pânico lá me levantou para fechar a porta, na esperança que tudo isto acabasse sem mais inquietações.

Mal as minhas duas bimbas tinham entrado em contacto, paralelamente, com o assento da cadeira já tinha voltado a inquietante sensação de me estar a sentir observado. Sabia que estava ali alguém por perto com intenções impróprias para comigo, intenções ditas indecorosas na nossa sociedade. Olhei para a janela que dava para o interior do edifício e por entre as estrias do estore lá estava o monstro imóvel e de olhos bem abertos a controlar-me. Arfei de ódio e terror extremos. O que mais me arrepiava era a besta não olhar directamente para mim, era o seu estrábico desvio angular que me induzia calafrios.

Quando se apercebeu que já tinha dado nas vistas e que a sua presença havia sido denotada, apressou-se a entrar na sala repetindo o ritual pavoroso.

Desta vez atreveu-se a aproximar-se mais da minha individualidade. Felizmente entraram pessoas na sala nesse mesmo instante: "ah, gente!" gritei para comigo. E como um vampiro, sequioso e ávido por sangue fresco, que vê a cruz, emitiu um guincho insonoro e fugiu galinaciando vigorosamente os braços com os cotovelos dobrados na sua possível totalidade física.

Desta vez safei-me... forças do destino zelaram por mim.

sábado, dezembro 24, 2005

Felice Natale!

Caro(a) amigo/colega/conhecido/estranho (1):
_______________________________ (2)


É certo que este ano posso não ter estado muito tempo com todos vós, ou que não vos tenha visto as vezes suficientes ou mesmo que não vos tenha chegado a ver. Poderá haver vários motivos para tal, um deles, certamente, é ter querido que tal acontecesse. Outras razões poderão ser a distância física que nos separa ou a falta de tempo, mas é muito verosímil que o seu caso se encontre na primeira hipótese.

Nesta altura muitos já devem ter uma ligeira noção de como me encontro e outros, dentro destes, dizem que se deve ao facto de eu ter cada vez menos prendas com o decorrer dos anos, a estes últimos enfio-lhes um dedo na cavidade ocular para não serem espertinhos nem pretensiosos. Há ainda uma pequena elite que tem a certeza que tudo isto é fruto da fúria de, mais uma vez, não receber uma pista de carros SCX com 20 metros de tamanho, que estava numa grande superfície comercial. Ainda experimentei a maravilha um bocado... virei-me com toda a simpatia para um miúdo e disse-lhe "sai daí estúpido..." enquanto lhe pregava um caldo na moleirinha. Depois cedi o meu comando de boa vontade a outro enquanto o primeiro vinha na minha direcção a choramingar e, apontando para mim, dizia à mãe: "foi aquele...". Era ver os pais vidrados a olhar para a pista e os "otários" dos miúdos a quererem bonecos do Nody e do Harry Potter. A mim dizem-me que não porque nem sou uma criança nem sou pai. Haviam de levar todos, desde os putos a quem diz destas baboseiras, sopa de grão e vinagre como prenda de Natal que é por causa das tosses.

Natal... o Natal! Esta época é uma contradição a tudo aquilo que se deseja nas muitas carradas (vêm às golfadas impetuosas) de mensagens genéricas de telemóvel e emails de linha branca, ao contrário deste post personalizável, que se recebem nesta altura. Muitos deles vêm de gente que só nos "comunica" nesta época, não sabemos nada deles durante todo o ano, mesmo que tentemos entrar em contacto com eles. Vai "beijinhos e abraços" para quase toda a lista de contactos, incluindo o mecânico, o homem que nos vendeu o carro há 3 anos, o "estafeta" da mercearia, o homem que arranja os estores e, entre outros, duas ou três senhoras de idade que, infelizmente, morreram no Verão passado.

Por mera sorte (ou por simples azar meu), ninguém recebeu o email que mandei no Natal de há uns anos atrás, era só alterar a data, que ninguém notava nada.

Também temos a troca de prendas... tudo a gastar dinheiro nos centros comerciais (que passam ininterruptamente música de Natal em versão Orbital/hidroginástica e que a cada 24 minutos se repete tudo de início) e eu próprio estou incluído neste grupo.
Para além das prendas habituais que se dão por obséquio ou das que se dão com gosto, há que manter (mais no caso dos meus pais) um montinho de prendas de custo variável, para todos os "sem-nome" que não aparecem todos os anos (ninguém sabe deles durante o ano, mais uma vez) e que decidem surgir do nada. Por fim, e analisando toda esta coisa muito superficialmente, o delicado processo de reencaminhamento de prendas, tendo o cuidado de não haver qualquer tipo de ligação entre os novos "prendados" e quem ofereceu inicialmente. Mesmo assim já cá apareceu um bibelot da Feira da Luz, que já tinha sido entregue a alguém um ano antes. Houve alguma imprudência ou então são novatos. Os bombons da madama que está sempre com desejos são o exlibris das prendas reencaminháveis, com um enorme factor de aceitação sem desconfiança de que já tinham sido oferecidos ("trocados") várias vezes anteriormente, não é raro serem guardados de um ano para o outro.

Lembro-me quando era mais pequeno e me davam roupa: "roupa? não quero roupa!" e estava certo... nu posso andar sempre e em qualquer lugar, os brinquedos é que fazem falta. O Natal é a festa megalómana das crianças. Recebem muitas prendas mas querem o mínimo de interacção com os avós, primos, tios, amigos dos pais, pais dos amigos, etc. porque, aos olhos delas, são uns "empecilhos" meio chatos.

Neste momento inclino-me bastante sobre os ideais de um dos meus avós: o Natal é o cabrito e o bacalhau. Está o ano todo a pensar no assunto e em Outubro começa logo a perguntar se o cabrito já está comprado e avisa que o cabrito pode ser guardado no congelador dele não vá alguém levar por engano.
Isso da Família, Paz e Amor já não são bem uns princípios que a Humanidade goste de seguir, mas fica muito bem falar nelas.

Outra coisa que me faz confusão é como é que há gente que come broas castelares de livre vontade. Só me chegam à boca (salvo seja) quando vou a casa de alguém e sou obrigado a fazê-lo porque pensam que digo que "não gosto disso" porque sou tímido, envergonhado e, acima de tudo, bem educado. Por ter tão boas qualidades não só tenho que comer uma de castigo, como ainda tenho que enfardar mais quatro para a viagem. As convulsões estomacais são um claro sinal de que estou a gostar.

Para concluir este post salobro, peço que apresentem o vosso preenchimento pessoal ao post, nos comentários, para eu sortear, entre os candidatos, um pacote de amêndoas com a mensagem "Boa Páscoa 1998" que encontrei em casa do meu avô mais conservador. Tem tendência a guardar tudo porque pode "fazer falta" um dia. É preciso um pacote de amêndoas de 1998 para safar uma situação aonde é que se consegue arranjá-las se não as tivermos em casa bem guardadas? Pois é, é muito bonito criticar mas depois a verdade acaba por vir ao de cima na forma mais implacável.

Eu pessoalmente confesso que tenho algum receio de as comer por isso prefiro dá-las a que se estraguem sem necessidade. É uma pena...

Feliz Natal para todos até mesmo para os que agoiram contra mim, o que inclui muitos conhecidos e, na sua maioria, professores. Mas não vou responder na mesma moeda, desejo-lhes sim, a fortuna e vida longa. Evidentemente que nem tudo são rosas porque até estas têm espinhos. A tragédia, contrariamente ao que se diz por aí e que muita senhora se lamenta, é algo totalmente aleatório (embora Deus Nosso Senhor não durma). Pode-se dar sempre o infortúnio... ao ver que os números das bolas do Euromilhões coincidem com os números do seu boletim de jogo, o coração pode não resistir e um enfarte é coisa para deixar uma pessoa entrevada numa cama para o resto da vida, que como já se sabe era douradora.

Muito ficou por falar sobre o actual estado do Natal... fica para a próxima. Apreciem a música (a tender para uma versão "marcha-fúnebre").

(1) - risque as opções incorrectas e deixe a ligação que pensa que mantém com o autor, por riscar. Na eventualidade de não ser o mesmo que o autor sinta por si, a sua entrada será anulada.
(2) - escreva o seu primeiro e último nome em maiúsculas e a caneta de tinta preta caso contrário o seu processo poderá ser diferido ou cancelado.

domingo, dezembro 04, 2005

Campione Sonhatore

Vou escrever sobre algo antes que esteja fora do seu tempo e porque já se sabe que a memória é volátil (hoje ter comido de rajada uma caixa de 12 ouriços da Ericeira (na verdade comi uma caixa de 8, mas assim não é um feito tão grande, qualquer um consegue) não ajuda em nada).

A prova de natação em que participei no Domingo passado? Ganhei!

Agora estou indeciso como hei de amplificar a coisa? Irei relatá-la como uma prova hercúlea ou fui para a vitória e outra coisa não seria de esperar?
Vou tentar misturar ambas, cabe no entanto ao leitor discernir sobre qual das duas opostas variantes estarei mais inclinado a cada momento.

Era uma prova de resistência, 30 minutos a nadar e fiquei em primeiro lugar (do nível II, mas são promenores técnicos irrelevantes). Agora, de seguida, irei ser medalhado com o ouro nos jogos olímpicos e depois, já que estou a sonhar, vou ser campeão de Formula 1 e arrebatar o título mundial de rallies com um Lancia Delta ECV2 (quem não sabe qual é, basta perguntar-me ou investigar, uma pista: os que existem estão em garagens árabes), tudo isto no mesmo ano.


Não escrevi nada no próprio dia do triunfo porque tinha estado a tarde toda a acabrunhar fechado numa sala de estudo e estava meio irritadiço. Felizmente para serenar a tensão, quando voltei a casa, estava um "chicvs espertvs", que se for mesmo esperto não incorrerá no mesmo erro outra vez (pelo menos nunca mais o vi lá por perto), com o carro estacionado mesmo em frente ao portão da minha garagem. Para ajudar à minha manobra, que já era apertada (salvo seja), se fosse mesmo um estacionamento, estaria a ocupar dois lugares de atravessado que estava. Após ter tangenciado dois carros, com alguma ginástica de caixa e volante (relembro que poderia ter os braços meio cansados na altura da ocorrência e que direcção leve não é um atributo do meu veículo automóvel), para conseguir passar e enquanto o portão se abria automaticamente, fui sorrateiramente e, sem querer, como é costume nestas coisas, entortei-lhe os limpa pára-brisas. O desagradável é que do lado do condutor aquela geringonça manhosa, para além de ter ficado a apontar para ar, ficou "meio" solta e em equilíbrio para a força de impulsão causada pela haste, igualar a força gravítica provocada pela lei da atracção entre corpos, que é como quem diz em linguagem popular, "para aquela merda não cair". Vai-se lá compreender que mistério ocorreu. (Ar de Toninho) "Quando lá cheguei já estava assim, só estava a ver como estava, realmente vi três "drógados" a correr para os lados da Musgueira, e estranhei, até fui a correr atrás deles com pedras e tudo, mas eles eram três e portantos corriam mais."


Bom... seguindo para a prova de natação que é o durame deste post.

Durante o aquecimento já se denotava uma certa pressão nos concorrentes, provavelmente por não encontrarem motivos para estarem ali, quase em pelota com um frio considerável na rua (segundo o boletim meteorológico porque pessoalmente não ligo a essas coisas), num Domingo às 9 da manhã, ou por não terem ido à missa (e não receberem aquelas bolachinhas em troca do "nosso segredinho...", cortesia do padre da igreja lá do bairro) ou talvez porque se esqueceram de um tacho com carne guisada com esparguete ao lume.

Estava lá uma mocita, chamemos-lhe Irene, um nadinha perturbada com a coisa, logo no aquecimento, pimba... 50 metros mariposa com a testa fora de água que até estalou. Toda a gente sabe que mariposa é do melhor que há para aquecer, não é nada violento nem cansa, longe disso. Tive que parar porque me estava a dar algo parecido a vergonha alheia misturado com gargalhadas incontroláveis, o que dificultava bastante a respiração dentro de água.
A Cassandra (nome fictício como de costume, só o facto de eu fazer referências a esta figura da mitologia grega anda a enlear muita gente) a ter ido e dava uma tareia à maneira antiga à Irene.

No começo da prova, talvez graças ao meu aspecto idêntico ao de um dos mais temíveis vilões de sempre, o Skeletor, inimigo do He-Man, fui nomeado para ir à frente na minha pista. Ao que parece inquietou bastante um moço, o Sandro Emanuel (nome que acho que era o verdadeiro ao julgar pelas suas feições), que estava na minha pista:
- Tu no ensaio nadaste quanto?
- Não tive nenhum ensaio, ou às tantas não fui.
- Mas nadas mais ou menos quanto?
- Não tenho noção... sei lá, uns 1000 ou 1200 metros.
- É porque senão ia à frente e escusava de te ultrapassar já...
- Mô amigo... Faça o obséquio de seguir à minha frente!

Fiz 1510 metros europeus (se fosse em piscina chinesa ou no sistema métrico chinês teria certamente ultrapassado os 20 Km) e logo nos primeiros 25 metros já estava à frente dele. No decorrer dos 30 minutos dei-lhe corda (gíria automobilística) de pelo menos 350metros (passei por ele três vezes). Assim que acabou, nunca mais o vi...

Repare-se que estes 10 metros extra para lá dos 1500, foi mais para a média dar menos de 1 minuto por cada 50 metros e o suficiente para ficar à frente do Davi Dê, que se desculpa de ter tido ainda mais atletas de fim de semana (soa bem) a "comer sabão" (expressão de jargão do mundo do desporto automóvel) na pista dele que eu na minha. Eu só não passei por baixo de um não fosse o cabrão ser vingativo (vingança, um dos sete pecados mortais que eu abomino e que jamais, como já se reparou neste mesmo post, irei cometer, juntamente com a preguiça, a gula, a ira e mais um bocado de todos os outros (que por motivos técnicos não poderei aplicar-me mais). Acho que vou na "Highway to Hell") ou não fosse ele gostar de me ver as costas comigo em pleno esforço físico, nunca fiando, preferi não facilitar.


Estava lá um jovem de ar determinado muito concentrado que usava um daqueles fatos de corpo inteiro, feitos em bigode de foca e com umas aplicações em chato de colhão de baleia, para deslizar melhor na água. Gostava de saber quanto é que ele nadou (nadou certamente menos do que eu, outro resultado estará obviamente fora de hipótese), pergunta que quero acreditar que foi a mesma que ocorreu ao Davi Dê quando desabafou: "Curtia ver o melhor homem".


Na prova dos 15 minutos, numa das pistas estavam uns moços com uma largada semelhante às míticas partidas de Formula 1 na sua era dourada. Muito contacto físico, enorme confusão sem se compreender bem quem ia na frente, muita água pelo ar (em vez de fumo, ou peças, ou mesmo um motor que acabe por varrer da bancada uma quantidade de espectadores suficiente para ser considerada uma tragédia de proporções inigualáveis). Só mais tarde constatei que estava errado e que, afinal, se tratava de natação sincronizada. Muito bonito de se ver diga-se, não só por nadarem de mãos fechadas contra a cara uns dos outros, mas pela coreografia em si que estava muito bem estudada. Ora era formação em delta, ora em T, ora era em diagonal, ou o difícilimo estilo abstracto. O importante era irem todos ao molho num grupo bastante compacto, mesmo que os da pista ao lado já tivessem nadado o dobro, e ganhar vantagem nas viragens, indo de cabeça contra os que vinham um pouco mais atrás, e aplicar com melhor eficácia uma braçada de mariposa na sua variante "nós dos dedos no focinho do inimigo". Engraçado é que a competição estava confinada aos últimos lugares. Todos sem excepção, se acusaram mutuamente pelos seus maus resultados por terem "à frente um gajo muita lento que não me deixava ultrapassar e que me empurrou por uma ribanceira abaixo e eu caí e aleijei-me mas continuei a correr porque foi para isso que tive a trénar (...)".

sábado, novembro 26, 2005

Natatione Foras d'Aqua

Porque raio é que quando uma máquina, que geralmente aceita moedas em troca de produtos ou serviços, não as recebe com agrado, o operador público pega na mesma moeda rejeitada e, sem remorsos, esfrega-a numa parte plana da máquina (de preferência perto da ranhura de admissão de moedas) e a tenta meter outra vez? Será o inicio de algum ritual ou é alguma promessa? Será devido a alguma praga que a nós foi rogada ou terá fundamento científico? Será que depois ela entra graças ao processo curandeiro ou apenas por mera sorte, ou azar por não ter sido aceite à primeira?

Alguns fabricantes já se precaveram e instalaram uma chapa "especial" para raspar a moeda recusada, caso de algumas máquinas de comida perto dos serviços de urgência nos hospitais (já se sabe como estão as pessoas que esperam por notícias dos doentes, geralmente estas máquinas, para além da chapa, também são blindadas e o vidro é à prova de bala) e das de matraquilhos (altar de sacrifício a um deus muito poderoso, onde me martirizei durante largas temporadas). Estas últimas contam ainda muitas vezes com uma chapa extra para bater a bola antes de a atirar para dentro do campo.

Outras máquinas não preparadas estão completamente mutiladas, basta andar de metro e reparar nas bilheteiras da estação. Têm sempre uma parte com o metal exposto, sem qualquer tinta e completamente polido de tanta vez que foi roçado.

Depois desta introdução que não passou de uma mera manobra de diversão (que em adição ao texto que está para vir, tornará o post relativamente grande, afastando já muito pagão de o ler até ao fim sobre o pretexto que já está farto).
Irei reavivar um outro assunto. Vou falar um pouco da natação.

Esta Quinta-feira passada, fui para a pista dos grandes. Não que eles sejam maiores que eu, mas nadam melhor que eu. Tal como os da pista dos putos não são mais novos que eu, porque até são todos mais velhos, apenas nadam pior que eu.

Esta é a parte aonde ainda estou a pensar como irei abordar o assunto. Em Português, nas "composições", o que usualmente me era mais difícil era começar (há quem recite um outro provérbio relativamente à dificuldade de começar, digo qual é apenas a pedido), mas nesses tempos era alérgico à escrita... agora parece que estou a querer compensar, somente em tamanho claro.

Não que tivesse já à altura dos grandes (não em tamanho ou idade mas sim em técnica, velocidade e resistência), mas pelo menos já não me dão um avanço tão escandaloso. Daí não ter conseguido identificar a Cassandra (nome fictício como é evidente, escolhi este apenas para gesticular um pouco a imaginação)... para além de ela estar na pista dos grandes (ela é "A Grande" porque vai sempre à frente (salvo seja, embora desta vez não esteja a ver qualquer conotação, mas esta gente que lê o meu blog costuma ter mentes traiçoeiras) e chega sempre em primeiro lugar, sinónimo da sua boa forma) cada vez que ela passava por mim (e não foram poucas as vezes, antes pelo contrário) eu era sacudido para a pista do lado pela onda de arrasto (quando não era cuspido para o pavimento exterior à piscina), o que me desorientava a ponto de pensar que ainda estava na mesma pista ou dentro de água. Óbvio que quando olhava para ver o que tinha atingido, não via nada.

Não cheguei a aplicar a técnica Komodo, mas descobri e facilmente conclui, que não se tratava de produção diluível em água, mas sim, falta de aptidões físicas da minha parte.

É que isto de nadar em pista de 50 metros tem muito que se lhe diga.
Para começar são mesmo 50 metros, não como nas pistas de 25 metros. Nada-se mais nadando 50 metros numa piscina de 50 metros do que 75 metros numa pista de 25 metros (e digo 75 metros para não dizer 100 ou 150 metros... preferi dizer só 75 metros para não me chamarem racista ou de extrema direita com já tem vindo a ser hábito).

Uma comparação análoga é a comparação entre colunas ou amplificadores áudio europeus e os seus correspondentes chineses. Se as colunas europeias têm escrito no catálogo que têm 75 Watt, é porque têm 75 Watt RMS. Se as chinesas têm num autocolante prateado e com letras a vermelho, rodeadas de caracteres em mandarim, que têm 800 Watt, na realidade tem que se dividir por 50 e obtém-se assim a potência real (que já inclui a larga banda de disturção), ou seja 16 Watt.

E pergunta o leitor que não abrange a totalidade desta relação de semelhanças entre coisas diferentes:
Coa breca... que tem uma coisa a ver com a outra?


Em pista de 25 metros, "nadar 75 metros", é o mesmo que dizer "nadar 75 metros chineses".

É de admirar a piscina ter mesmo 25 metros europeus... estas criaturas aldrabam tanto e em tudo de uma maneira tão escandalosa que qualquer coisa é possível. Há mesmo quem afirme e imponha a sua certeza, que para as provas internacionais (que para as nacionais usam todos o mesmo método quer em treino quer em prova) é comum recorrerem a piscinas de salão para o treino (daí os maus resultados finais). Se há ténis de salão, o ping-pong, se há futebol de salão, o futsal ou mesmo os matraquilhos (duas referências no mesmo post... é um sinal divino), não é de admirar que exista piscina de salão.
Estas piscinas de salão, que ainda não foram divulgadas para o mundo ocidental por uma questão de estratégia desportiva, consistem:

- numa tina com água para meter a cabeça;
- uma semi-bicicleta, para dar às pernas (como é evidente (que vem do irlandês "heavy dent", "dente pesado")), e adicionar um pequeno gerador que dá luz para toda a casa ou piso do complexo urbano altamente lotado (conforme a qualidade do atleta, há quem só se aguente a pedalar para uma lâmpada na sala enquanto os 17 irmãos fazem os trabalhos de casa, contrafazendo roupa de marca ocidental);
- os braços puxam 25 metros de corda que se encontra pendurada numa janela, encontrando-se atado à outra extremidade da corda um balde com 5 Kg de arroz (se for em treino é recorrente meter-se um dos filhos, se cair também já não fazia falta). Em competições oficiais, o que "nadar" primeiro fica com o arroz todo do balde e pode alimentar a família durante um ano. Aos que perdem é dado o direito (e ainda dizem que na China não existem direitos) à escolha (e agora uma lista dentro de uma lista):
- são fuzilados em plena cerimónia de entrega de prémios e em directo para a televisão local;
- cortam-se-lhes os braços e vazam-se-lhes os olhos;
- ou podem optar por um treino especializado que inclui um pequeno estágio de 25 anos num dos campos de trabalhos forçados localizados perto da fronteira com a Mongólia.

Grande parte dos atletas vê-se obrigado a optar pela primeira opção, por não terem dinheiro suficiente para pagar o transporte para o complexo "desportivo" e as refeições durante a estadia, porque, à que relembrar, o treino é voluntário e não remunerado.


Retomando a pergunta original que está orfã de resposta há já algumas linhas e tentado explicar de forma sucinta e breve a coisa.

Na piscina de 25 metros há sempre uma grande parte onde se tem pé... nessa parte não se nada, anda-se. Na piscina de 50 metros nunca há pé, nem o degrauzinho nas extremidades latitudinárias da piscina. Numa piscina de 25 metros a cada 25 metros, dá-se balanço contra a parede. Quando passamos os primeiros 25 metros numa piscina de 50 metros europeus, se tentarmos dar o dito balanço, tal acto irá assemelhar-se à inexperiência de um golfinho fêmea aquando da primeira vez que dá à luz e se tenta libertar da cria recém-nascida, isto sem relembrar que não saímos do mesmo sítio ou acabamos mesmo por ir para trás. Na piscina de 25 metros sempre se vai puxando a corda de vez em quando para dar velocidade. Na piscina de 50 metros aquilo está feito de maneira a que quando se tenta puxar as argolas da corda, estas deslizam com forças de arrasto e de atrito nulas, ou seja, um brusco movimento a seco, não só não se sai do mesmo sítio, como frustra a mente. A partir das bandeirinhas de sinalização já não se nada, ou porque já se estava a andar (porque já havia pé) ou porque já se vai puxando a corda. Na de 50 metros somos obrigados a nadar até ao fim.

Tudo descontado, 75 metros em piscina de 25 metros equivale a 33 metros europeus (basta dividir por 2.5 e somar ao resultado 10% deste valor obtido inicialmente).


E para não falar que nas piscinas europeias, como não se tem pé, quando se está à espera de instruções (onde geralmente se descansava) é para estar a dar à perninha se não queremos ir ao fundo ou engolir pirulitos (palavra muito buliçosa).

Amanhã tenho uma insignificante prova de natação, 30 minutos a nadar sem parar. Não sei ao que vou, mas a minha eventual falta de preparação é compensada por uma inabalável convicção na vitória. Tal crença irá manter-se inalterável mesmo que não seja uma competição. Ouxalá não se oiça nenhum "De profundis" por mim depois da prova.

E assim termino mais um post deixando uma pequena dúvida: será que o frio contrai a bexiga, dilata as águas régias (relembrar que o gelo tem maior volume que a água em estado líquido) ou será uma junção das duas que nos provoca uma necessidade fisiológica de carácter líquido induzida aquando da descida repentina de temperatura?

sexta-feira, novembro 25, 2005

Faruk - O Ultra Macho

Como não estou com "vontade" de escrever sobre o resto da história, vou dar-vos o exemplo do que é ser-se Ultra-Macho. Vou falar-vos da criatura mas máscula com que alguma vez me cruzei (salvo seja... apre! (aqui está uma palavra bonita)). Vou falar-vos do Faruk.

O Faruk e o seu carácter varonil vieram com o Uel Mig (que faz arroz à toa e sai bem... eis a receita: vazar meio frasco de arroz directamente para dentro de um tacho que tinha água equivalente ao peso máximo que ele suportou enquanto enchia o mesmo, meter uma cebola quase descascada (a terra que estava agarrada temperava o arroz) e meter tudo ao lume. Servir no intervalo de um filme) e sua respectiva patroa.

Tentei meter conversa com o Faruk, para tentar aprender alguma coisa com ele, mas a sua frieza e indiferença foram constantes.

"Oh Faruk... não me digas que se a Lassie tivesse menos 25 anos em cima que não a fazias..." Com o seu extremo ego não teve qualquer reacção. "Este gajo é muito duro!", pensei.

"Mas e a que fez os 101 Dálmatas, já lhe davas um jeito, hein?" tentei eu novamente com o entusiasmo que é característico àqueles que, sendo inexperientes nestas coisas, se vêm diante d'um guru da masculinidade. Obtive a mesma resposta.
Estranhei no entanto os latidos baixos quando apareceu o Rex no tuvisor... "deve ser preciso ser-se muito macho para se conseguir estar à altura de um Faruk". (Há quem diga que os cães não vêm tuvisor, mas ficou provado o contrário).

A patroa do Uel Mig é muito simpática mas via-se nitidamente que não percebe nada de animais e muito menos do que é ser-se macho:

"Porra! É uma cadela e chama-se Farrusca!"

Arregalei os olhos, desviei o olhar lentamente e remeti-me ao silêncio para ver se a crise lhe passava. Comentei com o Faruk: "A tua dona (que não é dona porque o Faruk não é pertence de ninguém. É macho... não tem sentido ter dona) não bate lá muito bem, pois não?
Como é que um cão com o temperamento do Faruk poderia ser alguma vez fêmea?

Era o esplendor do que é ser-se macho e a fulgência da masculinidade.

O Uel Mig apertou os berlindes sem querer (como é que se aperta a "fruta" a alguém sem querer é algo que me ultrapassa) ao Faruk, claro que o animal se ressentiu e teve que mostrar os dentes. Já não bastava estarem no seu território exclusivo como ainda brincaram daquela forma com a sua virilidade.

Aliás, bastava tocar com uma mão ou na cachola, ou na omoplata da fera, para esta meter as orelhas para a frente em posição de ataque, mostrar bem os dentes e tremer com o seu poderoso rosnar.

É que os machos não toleram a presença de outros do mesmo sexo por perto (apesar de, em relação ao Faruk, serem todos de uma classe inferior de masculinidade), muito menos serem tocados por estes.

Um especialista (em quê não sei) holandês explicou esta reacção como uma certa insegurança na orientação sexual nestes indivíduos. Daí o seu comportamento exageradamente teatral e artificial, empenhando-se a fundo para dar uma imagem de uma masculinidade que não existente. Tentam a todo custo parecerem aberrantemente homens, porque no fundo temem deixar-se ir pelos impulsos reprimidos que os perturbam. Nunca suportam brincadeiras entre homens porque sentem que o seu ponto de ruptura está no limite e não sabem reagir naturalmente sem resvalar, sem retorno, para o outro lado. Nunca excepto no caso de a brincadeira vir de algum homem que eles venerem, porque com esses jamais perdem a esperança que um dia se unam. Deixam-se ir para ver até onde o outro está disposto a avançar. É comum verificar que a Madonna seria a única mulher que os faria mudar de ideias, a única mulher que os levaria ao altar.

Sei de um caso destes mas estou crente, ao contrário deste, caso todo ele coberto de plumas, que não é o caso do Faruk.

Tudo o que o Faruk diz é verdade, ter estado sempre em silêncio só mostra o quão sábio é! Contrarimante à outra facção, àqueles que se fazem passar por super-macho quando a realidade é bem mais alternativa e moderna, que inventam compulsiva e descaradamente para terem razão... desde quando é que um doutoramento em Enfermagem, a exister, tem a duração de 5 anos? O curso em si, que é magnífico e mesmo não estando concluído salva inúmeras vidas todos os dias, tem 4 anos de duração... tem todo o sentido o hipotético doutoramento ser em 5 anos. Faz-se uma tese e defende-se essa tese, não é bem doutoramento, é a criação de saberes e de práticas de intervenção especializada. Mas não... d'isso sabe ele com a maior das certezas! (mas já se reparou que certezas é coisa que não tem).

Quanto ao doutoramento em Medicina... existe um doutoramento mas é mais uma especialização que depois confer ao médico o título de Doutor, ao invés do Dr. que vulgarmente aparecem nas cartas para pagar a água, a electricidade ou o gás. Torna-se doutor e vai para investigação ou acaba a dar aulas. É diferente do douturamento de cursos como as engenharias, por mero exemplo.

Tirar o doutoramento na macabra instituição que frequento em 5 anos? 5 anos só se for com mestrado e trabalho final de curso incluidos.

O que interessa é que em ambas as situações afirmou algo que, não só não tinha a certeza, como não sabia o que estava a afirmar.

Basta analisar o que me disse para se ter uma melhor percepção das coisas:

"Tu por exemplo não conheces... mas eu gosto muito do Wagner" que é o mesmo que dizer "tu por exemplo és estúpido mas eu sou muito intelectual".

Eu que até tive alguma, embora pouca, educação musical mas pronto, o perito é ele e o inculto e atrasado sou eu. Claro que foi encavado com gravilha de sílex, para fazer faísca, quando lhe perguntei qual a obra que mais gostava de Wagner, já que é um tão grande apreciador. Era vergonhosamente fácil... bastava dizer "Die Walküre" (ou "A Valquíria" se quisermos traduzir à letra), que é a que toda a gente conhece ou gosta por ser uma música meio épica e porque faz parte da banda sonora do Apocalypse Now, para eu ficar convencido que ao menos tinha ouvido pelo menos uma vez Wagner. Faltou dizer que comprou "este último CD que ele lançou há pouco tempo". Na realidade, esta criatura a gostar do Wagner, e não a obra do mesmo, só confirma o que tenho vindo a dizer, visto que o Wagner tinha uma inquietante atracção para com os do mesmo sexo.

Só se se estava a referir ao Wagner Love... aí está bem, o caso muda de figura e tem todo o sentido a sua declaração.

segunda-feira, outubro 31, 2005

Procrastinatore Proficientis

Eu ficar sozinho em casa e mentalizar-me que fico para estudar é o equivalente (que vem de equídeo valente -> cavalo intrépido e tudo o que lhe é inerente) a meter uma criança dentro de uma sala apinhada de brinquedos e dizer-lhe que não pode tocar em nenhum porque senão vem lá o velho (que é uma figura genérica para meter medo às crianças, mas o contrário é que ocorre... os velhos é que têm medo delas) e faz-lhes mal. "Que se lixe, com factor F, o cabra macho do velho" e nem quinze segundos se aguentam, que é o tempo que demoram a escolher com qual querem brincar primeiro (geralmente nestas situações as crianças, se forem como eu, querem brincar com todos, nem que isso implique desarrumar por desarrumar).

Assuntos relativos à procrastinação já foram inúmeras vezes abordados e discutidos, eu mesmo temo já estar a repetir-me ou a repetir palavras de outrem, mas é impossível. Parece boa altura para fazer tudo com um entusiasmo doentio, nunca me preocupei tanto em cortar as unhas e, mesmo não as tendo grandes, tive que as ir cortar com todo o primor e asseio.

Uma cascata rejubilante de imaginações alucinogéneas e visões psicadélicas brota dentro da minha cabeça. Desde ideias para o blog, argumentos para filmes, projectos de músicas, viagens infinitas pelo interior da minha mente a todos os locais impossíveis e extravagantes, muito para além desta caixa que gira em torno do Sol, mundos fantásticos todos ao meu alcance até ao... raio da doença do cubo de Rubik. (Apenas conseguir fazê-lo está longe de deixar alguém satisfeito, há que fazê-lo bem depressa. Fazê-lo em menos de 1 minuto parecia algo distante de início. Agora que passei essa barreira, 1 minuto ainda está demasiado perto, apesar de ter reduzido 20 segundos a esse marco. Já tentei esconder o cubo de mim, mas sempre sem sucesso. Posso demorar o meu tempo, mas acabo sempre por descobri-lo.)

Neste momento acabei de preencher uma página A4 com textos para o blog quando esta mesma folha devia ser uma folha de rascunho com um formulário para o teste (não sei o quero dizer com esta última frase... mas ser apanhado com papeis pequenos num teste é o mesmo que ser judeu e ser surpreendido em flagrante a roubar um oficial alemão num campo de concentração. Na face oposta, ninguém é suficientemente estúpido para ter cábulas de tamanho A4 e usá-las descaradamente, é ridículo só de pensar.)


Como disse em primeira mão ao meu Amigo Kaiser, é lavar a cara com água fria e acreditar que se vai estudar e trabalhar de seguida... sempre são 10 a 15 minutos que se perdem no entretanto.


Já agora... não compreendo o alarido de alguns relativamente ao último post, não me parece que seja faccioso com o Benfica, tudo o que disse são axiomas. É verdade que me custa ver o Benfica como um todo pela sua dimensão... é tão grande que com ele se tem uma noção do infinito melhor que a lobrigar o próprio infinito.
A Ferrari ter escolhido o vermelho em honra ao Benfica para mim é um facto, não invencionices megalómanas da minha parte.


O Uel Mig, felizmente, já está em fase de recuperação. Levou três pontos na moleirinha porque a morsa lhe mastigou e roeu a cabeça em sinal de carinho e afecto, enquanto o conservava imóvel debaixo de 800 Kg de gordura e pele áspera com poucos pêlos mas daqueles que "picam", para o manter protegido, durante o acto em si, do extremo frio polar. Mas nada de grave. A enfermeira chefe do hospital onde ele foi, uma ucraniana que ganhou por 6 vezes o ouro em duas edições dos Jogos Olímpicos, onde se distinguiu nas modalidades do lançamento do disco, do martelo e do peso, todas na categoria mais pesada, fez-lhe o toque rectal (aprendi o termo e apenas o termo, com o meu Amigo Vencislis) e disse que estava tudo bem.
Aqui tenho duas coisas a assinalar... salientar o hipotético tamanho dos dedos da enfermeira ("talochas" com a grossura de dois dedos (provocando assim uma série infinita.. dedos com a grossura de dois dedos, cada um com a grossura de dois dedos, etc.. foi comprovado que tendia para infinito pelo próprio Uel Mig que, mais uma vez, se sacrificou em prol do bom nome da Ciência)) e explicar que o toque rectal, nestes casos, é quase como ligar um computador à centralina de um automóvel, aqui em específico, como já foi dito, era um cabo com uma tomada algo grossa.


E para terminar, um pouco de humor negro, que não pode estar logo no início do post.

Estava eu numa sala de estudo quando à minha frente se senta, de costas para mim, um moço de tez bastante torrada.
Montou o seu estaminé mas não estava a vender artesanato da Serra Leoa, como poderia levar a crer a qualquer cidadão respeitável, estava ali, ao que me pareceu, para estudar.

Na vez seguinte que olhei para ele, coçava lentamente a carapinha com os três dedos mais exteriores da mão (o polegar estava dobrado para dentro e o curvado indicador erguido para cima), aparentava estar a tentar olhar sorrateiramente por cima dos ombros em jeito de visão periférica. Numa atitude que se confundia entre acanhamento e entusiasmo.

Intrigado por tamanho constrangimento, olhei para o monitor do portátil do moço de cútis acentuada (num momento estão a esbagalhoar maçaroca no meio do mato, no outro já têm portátil).

Constatei que estava a ver a sua caixa de email... e também reparei que grande parte dos emails lá contidos tinham como assunto: "BUNDAS DO BRASIL".

Com estas palavras escritas no meu blog, vou ter algumas visitas extra, cortesia de alguns motores de busca. Se acrescentar ainda a palavra "GRÁTIS", garanto que ainda mais visitas terei... não irei no entanto meter "FREE DOWNLOAD", nem "MPEG" ou "AVI" porque iria desvirtuar o número real de visitas.

Continuando...

Embora tenha "clickado" e aberto ainda um dos emails, ao qual apareceu um enorme "pandeio" bronzeado, coberto com gotas de água, em bikini curto e que ocupava todo o ecrã de lado a lado, o rapaz de epiderme maculada, apesar de se encontrar num enorme estado de euforia interior (com isto digo "euforia de espírito" e não outra coisa qualquer), viu que estava muita gente na sala e, assustado que nem um númida quando viu os primeiros colonos julgando que era a chegada da Morte, mudou rapidamente para uma outra página de carácter documental sobre o que passa no seio da Natureza, mudou para uma página de nome AngoNotícias e logo de seguida para o Angola Acontece.

segunda-feira, outubro 24, 2005

Avé Benfica!

Lei Universal da Cosmologia
Benfica é quanto mede o Universo de uma ponta à outra.

Primeiro Corolário
Se ninguém pára o Benfica e se este é uma medida absoluta, então o Benfica está em expansão.

Segundo Corolário
Se o Benfica se expande permanentemente, então também o Universo está em expansão.



Aforismo Dogmático
Segundo o Novo Testamento (conjunto dos livros bíblicos posteriores ao nascimento de Jesus Cristo), Jesus Cristo não esverdeou e muito menos azulou, Ele encarnou, logo Benfica é Deus.

Primeiro Corolário
Benfica é tudo, Deus está em todo o lado, logo Deus e Benfica são Um e Um só todo.

quarta-feira, outubro 19, 2005

Pertinácia Anuária

Já se passaram dois anos desde o primeiro post. Dois anos desde que criei um blog sem saber que raio era um blog. Dois anos a tentar vender a banha da cobra sem ter banha da cobra, vendo sebo de coelho que é bastante mais hediondo.

Ultimamente, tal como o clima global, tenho oscilado entre a seca de letras e palavras ao dilúvio de vocábulos, provocando assim um enorme descontentamento entre os nativos, eles não gostam de extremos. Tem-me sido difícil fazer o contrário.


Se por um lado não tenho tempo para escrever, por outro, quando o faço, não poderei meter meia dúzia de frases porque já acumulei uma quantidade razoável de ideias.


Nesta altura do ano é-me sempre difícil dissertar sobre o abstracto (ainda para mais com os meus propiciadores de ideias longe do meu paradeiro habitual. Finalmente descobri o que se passou com o Uel Mig (que em americano clássico se lê Mig, Uel) para nunca mais ter dado notícias... foi brutalizado sexualmente por uma morsa macho e encontra-se em recuperação. Que recupere rapidamente e que fique pronto para outra (nem que isso requeira treino ou alguma operação delicada) são os meus sinceros desejos). Para não falar na bofetada de angústia que recebi quando vesti uma camisola e senti frio nos pés, ambos pela primeira vez depois destas férias, depois desse ínfimo período de tempo pelo qual levo o resto da minha vida a ansiar "agora vida... só d'aqui a 10 espinhosos meses".

É que é este o procedimento que oficialmente fecha a época de praia e dá por iniciada a sessão da enfermidade. Vem aí a chuva e com elas as mesmas notícias de telejornal de sempre:

- colheitas perdidas pela chuva;
- inundações na América Central, não há vitimas portuguesas (entrevistam um português e ele responde sempre em espanhol com algumas palavras em português com sotaque espanhol);
- desavença conjugal manda cunhado para a esquadra por posse de 536 doses individuais de estupefacientes e cerca de 1400 euros em material roubado;
- vampiro é esquartejado no seu quarto em Odivelas por populares romenos;
- desabamento numa mina de carvão na Europa de Leste (ao que parece é um país) tira a vida a um número primo de dezenas de trabalhadores kozovares e afegãos;
- excursão pedestre de testemunhas de Jeová é colhida por um comboio;


Comecei a trabalhar num pequeno part-time. Ando a distribuir amostras de iogurtes e cereais aos pigmeus à porta do metro ou do comboio (embora nos dias em que estive na estação do comboio ninguém tenha caído à linha).

Poderia dissertar sobre a ganância e o comportamento macabro das senhoras de idade e das de etnia diferente da minha ("lá vem este com o racismo... estares a falar em "preto" ou em "cigano" é estares a ser racista") que me obrigava a recolher cinco pés para trás por cada mão de amostras que dava. A única vez que hesitei, arrancaram-me um bocado de carne do dedo, foi como estar a alimentar os leões sem ser a atirar a comida para dentro da jaula.

Vou antes falar de um pequeníssimo e peculiar episódio. Então não é que, num certo dia, tive como colega uma daquelas moças lá do iéxetê, que olho poucas vezes para ela? Tal acontece porque, assim que ela entra no meu alcance visual, fito-a continuamente até ser impossível de o continuar a fazer, ou porque se meteu atrás/dentro de algum edifício, ou porque comecei a chorar por não pestanejar ou ainda porque ela desapareceu na linha do horizonte.


Tudo correu bem nesse dia à parte de uma coisa. Encontrava-se ela dentro da caixa frigorífica da carrinha e eu à porta, quando, subitamente, ela se baixa para apanhar iogurtes... tal foi a sorte ou infortúnio que tive que nada me aconteceu. Para além da paragem cardio-respiratório, senti uma vibração intensa que me provocou uma gelada paralisia que me apanhou o corpo todo. Apenas soltei um breve latido, esbugalhei os olhos desmedidamente e tremi os queixos. Tal deveu-se ao facto de o meu cérebro ter tido duas reacções instantâneas distintas, sobre a forma de um só impulso. Os músculos ficaram tensos e inertes e sem acção por não saberem a qual dos estímulos obedecer.

Um ímpeto levava-me a dar-lhe uma dentada, o outro a dar-lhe uma palmada, ambos numa nalga carnuda.
Acabou por nada acontecer... não consigo no entanto se isso foi bom ou mau.


Agora sou um magnata... com os primeiros cobres estive para comprar metade do império do Abramovic (todo não para não deixar o rapaz na miséria), mas depois pensei naquilo e vi que era capaz de dar algum trabalho... "não, não é p'ra mim!".
Logo a seguir ocorreu-me: "Boa! vou comprar um iate!". Mas aonde o meto? Deixo-o cá fora para apanhar cáca de gaivota ou os outros meninos mexerem nele e depois se estragar? E com a falta de água que há para aí em que local ia passear com ele? Ir para o Oceano Atlântico e riscar o casco no fundo do leito? Acabei por desistir da ideia. Por impulso e sem pensar muito na coisa, acompanhado por uma despressurização abrupta da tripa: "Porra...! Só se vive uma vez! e no fim dei comigo a comprar quatro pacotes de Sugus de morango a meias com o Davi D (lê-se "Dávi Dê").

Este meio amigo, não só é meu colega na malfadada instituição, como também o é na natação.

Natação... as aulas são a doer, mas fazem bem. Ainda há dias, no dia a seguir ao treino, acordei e senti-me apertado... tirei a t-shirt a custo para não a rasgar e dirigi-me para a retrete. Ao sair do quarto bati com ambos os ombros nas lombadas da porta - "Ouwa... tu queres ver que estou um autêntico couraçado humano? Que tenho as costas tão quadradas que nem uma caixa de fruta montada na traseira de uma Famel?" Bom... a rigor estava enrolado na camisola e o raio da porta está aberta a um terço e na realidade bati com um ombro na porta e o outro é que foi na lombada.

Adiante...

Na natação há lá uma moça que cá fora é gira, mas lá dentro já não a consigo encontrar... das duas uma, ou não anda na natação ou tenho que lhe dar uma dentada (vocês sabem onde) cá fora (esta estranha apetência anda-me a preocupar, será normal?) e depois tentar descobrir a referida marca dentro de água (parece-me a mim o método mais plausível, é a técnica Komodo, morde a presa e depois segue-a já fragilizada), ou então é muita perfídia produção.


Por aqui me fico... para o texto continuar curto. Espero que o conteúdo comemorativo do segundo aniversário tenho agradado ao leitor. Obrigado por continuarem com paciência e perseverança para lerem o meu blog.

sábado, setembro 24, 2005

Ornejar Paliativo

A coisa nefasta já começou e a hipocondria misantrópica já está de tal forma entranhada que a indolência apodera-se muitas vezes do meu corpo, e nem uma injecção de cafeína e adrenalina directamente no córtex nervoso me poriam agitado.

Hoje, depois de demorar pouco mais de uma hora a almoçar, expandi-me sobre a cama para ler mais um bocado d'um livro escrito por um guru da parvoíce.

Isto de me expandir sobre a cama é uma posição intermédia entre estar sentado e deitado. Uma posição tal que leva todos os músculos a relaxar e a encontrarem a plena descontracção (não comentarei piadas derivadas de mentes com o néctar da podridão humana lá alojado, que instantaneamente se perguntaram se nesta posição sofreria de flatulência incontrolada). Uma posição que nos sentimos atraídos e puxados pela cama, apesar de já estarmos em pleno contacto com ela, uma sensação tão forte que a cama mais parece um magneto gigante. Conseguimos vislumbrar, por breves instantes e na sua totalidade, a lei da atracção dos corpos, tal como explicada por Isaac Newton. Um conforto tal que, comportamentos que de outra forma pareceriam absurdos, irão parecer bastante plausíveis desde que não nos tenhamos que mexer. Entramos num estado fronteira entre estar acordado e estar a dormir, onde o tempo passa sem se dar por ele, uma máquina de aceleração temporal que faz com que tudo à nossa volta pareça estar parado. Mesmo que fosse baleado por 15 gangster munidos de Thompson M1928 (o célebre "Piano de Chicago") certamente não obteriam qualquer movimento da minha parte, todo o pedaço de mim já estava no local de energia potencial nula, muito menos tombaria ou saltaria, o que faria de mim um mau figurante para um filme de acção passado nos anos 30. Aliás... mesmo que os visse entrar no quarto a minha inércia só me permitiria pensar "também não me importa...".

Acordei uma hora depois, atordoado e em aflição porque uma empalhadora de feno dizimou, perto da minha casa, uma manada cães (do americano corrente "quem's manade"). Geralmente acordo com metade da cara mergulhada numa poça de baba e todo torcido sem me conseguir localizar no tempo, como quem acorda no hospital, sem se aperceber da sorte de ter sobrevivido, depois de ter levado a tareia da sua vida por ter não ter as contas saldadas com a máfia russa devido a uma dívida remetente à contrafacção de calendários eróticos. É comum usar-se o termo "matilha" ou bando de cães", mas, pelo barulho, eram mais de 850 e bem corpulentos, por isso o termo "manada". Levantei-me sem pensar no trauma que me poderia causar ver tamanha quantidade de carne cortada aos escalopes, e dirigi-me à cozinha. Só algum tempo depois consegui associar tal barulho à parte do programa, da máquina de lavar roupa, intitulado "Hidroextracção". Se houver algum projecto do Estado para fazer limpezas cerebrais de certo que usam máquinas de lavar roupa a funcionar ininterruptamente neste modo.
Aquele barulho conjugado com o de um aspirador leva à morte instantânea por derrame cerebral múltiplo, é que o ruído produzido tem a frequência exacta para todas as veias e artérias cefálicas colapsarem.


Seguindo para o tópico "férias - um oásis utópico para além do deserto", vou escrever, com a mesma brevidade do acontecimento, sobre o ter ido acampar a Monte Gordo.

Eu tinha algumas ideias pré-concebidas sobre ir acampar... não que alguma fez o tenha feito, mas estava com esperança que desta vez fosse diferente.


Era minha intensão levar uma pressão de ar para matar coelhos para o jantar. Esfolá-los em frente à tenda para atrair bichos e mete-los num espeto para os assar num enorme incêndio florestal. Se nada disto tivesse resultado com a mesma pressão de ar conquistava-se comida aos outros.

Antes de seguirmos viagem o Vencislis contou-me, em tom de quem conta uma lenda, de numa certa vez que foi acampar, ao invés das saladinhas típicas de malta de extrema-esquerda, tinha levado cabeças de borrego guisadas para uma das refeições e que, depois de terminado o festim, tinha empalado as caveiras à porta do avançado da tenda, para afastar o inimigo. Desta vez nem latas de atum a secar para serem reutilizadas como sapatos para anões, para pendurar no espelho central do carro ou mesmo para servirem de penico de algibeira (nunca se sabe quando a vontade aperta).

Tentei meter o fogareiro no meio da tenda para servir de aquecimento central, mas não foi preciso, o pelo do "esquilo humano" emanava calor animal suficiente. Por falar em fogareiro... eu a fazer lume! Não vejo, mais uma vez, que terror é que pode provocar uma pequena labareda de 2 metros num fogareiro de 15cm de raio. A caruma estar toda a arder nas imediações do fogareiro, faz parte do protocolo e está tudo mais que controlado, caso contrário a carne não fica assada como deve ser.

Uma outra actividade possível seria gritar de terror com os pulmões cheios, como quem encontra o frio da morte pela lâmina quente de um punhal espetado no estômago, às 5 da manhã e voltar a dormir como se nada se tivesse passado, é uma sensação muito libertadora e, para além do mais, revigora o sentido de alerta dos outros companheiros de campismo. Em alternativa, infelizmente só me lembrei uns dias depois aquando da companhia dos meus pais (e diga-se que tal presteza não foi de todo bem recebida) poderia ter imitado o ornejar azurzidado (que vem de "zurzido") de Primavera de um macho alfa de um bando de macacos narigudos de pelo curto e dorso dourado. Geralmente ecoa por mais de 70Km e atrai todas as fêmeas ao seu encontro, que, logo ao primeiro contacto auditivo, ficam com orvalho por entre os membros locomotores traseiros.

Não quis levar estacas para prender tenda para poupar no peso, mas já estavam dentro do saco da tenda e não tive para as tirar. É um desperdício de trabalho, há lá tanta estaca espalhada, quase todas atadas a cordas para estarem bem sinalizadas e não se perderem.

Também me deparei com a seguinte questão: ir urinar à retrete onde todos o fazem ou, de forma muito mais higiénica e natural, fazê-lo aos pequenos jactos (para poupar) para cima da tenda dos outros e marcar mais um pedacito de território.


Voltei a Ayamonte, desta vez à noite e acompanhado por amigos, e comemos tapas... o Tony Jezué (que sabe o que quer e é muito esperto) também o fez e com um especial pedido "Quiero tapas mas bien passadas! Ouvistésh?"

Sem saturar muito o tema da praia (que alguém muito específico me disse que já era um assunto muito batido e fácil de falar) vou só recordar um pequeno episódio lá sucedido:
Eram umas duas da tarde e, sob um tórrido sol, uma pequena sombrinha, propriedade alheia, albergou 3 forasteiros que se meteram em posição de etíope em campo de refugiados (agachados de cócoras quase sentados no chão, cabeça esticada para a frente para apoiarem os queixos nos joelhos, olhar vazio, ar apático e boca semi-aberta a cuspir moscas, braços ao longo do corpo e com as costas das mãos no chão) que estavam perto de alcançar uma insolação, o que vale é que os donos tinham ido almoçar (segundos os nossos rigorosos cálculos), bom... a rigor estavam a 1.30 metros da sua propriedade e não tinham ido almoçar. Mas tudo são pormenores que em nada tiram a sua simpatia. Tiveram pena dos indígenas que pareciam tão inofensivos e era nitido que padeciam de um mal enfermo por excesso de sol na cabeça...


Visto que o outro post estava, segundo alguns, demasiado grande (sublinhe-se o "demasiado"), tentei fazer este mais rápido e curto.

Aqui poderia haver dois tipos de piadas grosseiras e francamente ordinárias: o da "voz off" (que nem sei se é isto, mas parece um termo técnico sonante) - "tira, tira quero ir fazer não sei quê!", "Uiii... qu'isso não cabe tudo cá dentro" ou ainda remeter para o estudo científico, que me contaram, sobre o sentimento de inferioridade que os espectadores de vídeos de luta greco-romana mista sentem ao verem a sobrante virilidade do "artista" masculino.

Optei, como sempre o faço, por não dizer nenhuma das duas.

sexta-feira, setembro 16, 2005

Marasmos Escolativos - Monte Gordo

Finalmente, ao fim de algum tempo, decidi actualizar esta vala de letras. Mais para contrariar o enfraquecimento das forças morais que se vai apoderando de mim, à medida que o início d'"aquilo" vai consumindo a minha pessoa, do que por disponibilidade psíquica (a verdadeira explicação está disponível já adiante).

Já vários sábios afirmaram que quando se tem que fazer algo potencialmente importante é que temos disponibilidade para coisas destas... e é verdade!
Por isso cá estou eu a actualizar o meu blog. Poderia ao menos tentar disfarçar, mas não... foi logo no primeiro dia d'"aquilo" que comecei a escrever isto. Desta vez até tive alguns leitores que se mostraram insatisfeitos pela demora e reivindicaram por mais posts. A eles agradeço a árdua espera e todo o incentivo que me deram tal como chamadas anónimas com ameaças de morte e várias tentativas de atentados bombistas.

Não estou particularmente contente por recomeçar as aulas, mas vou sobrevivendo, isto lá para meados de Julho já me passa.
Ainda tentei convencer os meus pais a comprarem-me uma mochila com rodinhas do filme Madagascar, 23 canetas de cor com cheiros todos diferentes, 5 lapiseiras com cores diferentes e com cheiro, borrachas dos Morangos com Açúcar, e um estojo dos DZRT (tive um grande desgosto nestas férias ao descobrir que o baterista deste fenómeno para massas alienadas é meu vizinho... felizmente não é nenhum dos cromos repetidos (sendo portanto mais vulgares e menos valiosos) dos vocalistas, mas mesmo assim deixei de lhe falar (nunca lhe ter falado é um pormenor técnico totalmente desnecessário)) entre outro material que de certo me traria um bom começo de aulas. Claro que os meus pais não gostam o suficiente de mim para me comprarem estas magníficas coisas (se calhar gostam de mais para me comprarem destas coisas, mas isso já seria demasiado óbvio e custa a acreditar).
Refira-se que gosto do filme Madagascar apesar de não o ter visto (há gente assim... afirma ferozmente que gosta ou detesta algo que nunca viu), só que é dos últimos filmes infantis (apesar de ser melhor, de longe, que filmes para o escalão a seguir... filmes para adultos contaram-me que é outra coisa estranha que envolve karaté alentejano) que saiu e as mochilas com rodinhas têm que ter temas relativos aos últimos filmes infantis. (Às vezes não corresponde exactamente ao último desenho animado porque os chineses ainda não tiveram tempo de as fazer).

Sempre me podia alegrar por poder fazer novas amizades e ficar entusiasmado por encontrar novos professores... mas isso de querer fazer muitas novas amizades é para alegres e o Benfica (o cão) também fica entusiasmado quando vê o Tó Zé (nome fictício e que em nada está relacionado com outro Tó Zé referenciado neste blog) e isso não é necessariamente bom sinal.
Safou-se a comida da cantina que tinha muito e levava batatas fritas, menos mau. Infelizmente o sumo já não tinha aquele travo avinagrado/alixiviado que lhe conferia as tais propriedades shamanes. (Entratanto já passaram uns dias aquando da escrita da linha anterior e a comida está ligeiramente abaixo da menos má do ano passado. O primeiro dia foi para enganar e aliciar o pagode).


Estive, neste fim de semana passado, a tentar mentalizar-me para o recomeço do castigo e receber a benção divina na mítica terra de Almoster, mas nem os figos desta sagrada terra, com propriedades druidas, me safaram... curam muita coisa (desde infecções urinárias, maus humores e borbulhas, até queda de cabelo, pedra no rins e diversas maleitas no figado), mas os espíritos não previram mal tão funesto e trágico.
Só acrescentar que a figueira está encostada a um muro do cemitério e que as raízes estão mais do lado de lá do que do de cá, daí advêm os poderes destes figos. Os anciãos dizem que tais propriedades sucedem do facto das raízes captarem os ácidos dos mortos. Mortos esses que encontram os seus corpos em avançada fase de fermentação. Isto em conjunção com o mau olhado que as viúvas nos lançam, enquanto apanhamos os figos à ganância, só realça não só o sabor mas também o carácter extraordinário dos figos.

Continuando que já me estou a desviar...

Embora as portas das férias ainda não se tenham fechado por completo (oficialmente já acabaram, mas a malta é jovem e quando este facto se alia à teimosia, muitas certezas se têm, bom... é mais para não me dar por derrotado) e ainda hajam alguns projectos, faz bem recordar alguns dos momentos vividos (regra geral só há vida no Verão) nestas férias.
Fui escrevendo pequenos pormenores que se cruzavam comigo, em papeis de algibeira e acabei por acumular um considerável número de acontecimentos presenciados.


Por esta altura o que já escrevi já dava para encher um post mais brejeiro.

Vou tentar começar de forma mais ou menos cronológica, ou seja, se há um post primeiro que este, e esse foi lido primeiro que este, o caro leitor estará a retroceder no tempo o que poderá, só por si, trazer-lhe enormes problemas por estar a interferir no tecido espacio-temporal. Não se admire portanto se voltar para a barriga da sua mãe. (Acredito que algumas mentes decadentes tenham pensado: "ou até antes disso")

Vou iniciar as festividades com um pequeno relato do vivido este ano em Monte Gordo, terra da água quente (por vezes era mais que morna), o que, por si, justifica a quantidade de gente que por lá se encontra nesta época, isso, os gelados e ter Ayamonte perto.
Ayamonte... os portugueses vão a Ayamonte fazer compras, os espanhóis vêm a Vila Real de Santo António fazer compras. Cada localidade destas, está cheia de gente dos seus países vizinhos respectivamente. Ambos o fazem porque sai mais barato. Deve ser por causa do valor da peseta ter estado a oscilar muito nos últimos meses.
Não quero ligar aos chicos-espertos que dizem que depende do que se compra, "que lá, a gasolina está mais barata 40 paus e não sei quê pardais ao ninho" e que "jogos de lençóis para a cama cá são muito mais baratos e em conta e que não tem comparação já o meu tio-avô, quando era alferes (...), dizia (...) que sim. Mas nas Canárias (...) era um pouco mais barato (...) mas também se apanhavam grandes barretes, nunca mais me esqueço do que aconteceu ao Ti' Chico Zé (...)".

Mas Monte Gordo não é conhecida pelo mercantilismo (eu sei que esta palavra está meio deslocada... mas soa bem) com Ayamonte, é sim conhecida pelo fenómeno "praia".

Mal cheguei e avistei logo 87231 mamíferos na praia de Monte Gordo, 12854 dos quais dentro de água que nem uma praga de flamingos (na cor e tudo). Palavra, perdi um dia inteiro a contá-los com os dedos de uma mão. Tudo isto só à frente da minha toalha. Todo este fenómeno leva a situações muito incomodativas. Eu no meio de um enxame de gente, com a minha toalha a 25cm da toalha de gente desconhecida. Imaginem só o importuno e inquietante que é ter dum lado duas moças com vestimenta muito diminuta a cobrir (poderia meter aqui um qualquer trocadilho ordinário com a expressão "o que eu cobria sei eu" mas jamais o farei) dois pares de nalgas bem redondas, com uma fracção irredutível de lycra na parte furnica (que vem de furna), em frente um veleiro de mastro único feito de um tronco de uma Sequoia Sempervirens. Veleiro esse que teimava em desaparecer repentinamente cada vez que entrava no meu perímetro de visão bordas que transbordavam de uma cadeira de uma senhora de idade que fazia um napron para oferecer à nora. Tal extremismo oscilatório provocava-me um enervante desconforto e ânsia que já nem sabia o que fazer sem ir preso, nem como estar. Asseguro-vos que foi uma experiência diabólica.
Não sei se pior que a que experimentei quando, a meio de um dia de praia, denotei que tinha um semi-rígido no Cabo Canaveral a dar-me suores frios e a bloquear-me a visão com cegueira e agonizantes alucinações. Era tal o arrepio na espinha que me originava perda total de força nas pernas. Não procurei cura atrás das dunas, mas sim no conforto do lar, após ter percorrido quilómetros até ter lá chegado... a rigor foram uma meia-dúzia de metros, mas o avançar das tropas foi penoso. Mudando de assunto que este já está a ter contornos um tanto ou quanto dúbios.

Voltando ao tema principal, mais uma vez.
Estar na praia, era o equivalente a estar no meio de uma imensa colónia de leões marinhos, todos com algum porte, que emigrou toda para a mesma praia dos Galapagos.
A praia mais parecia um deserto... o que um tem de areia tem a outra de pigmeus deitados ao sol ou em outras actividades, como a comer galinha corada em manteiga, ou arroz de coelho, ou bacalhau cozido com grão, tudo isto em sande, claro. De salientar que tudo é empurrado com vinho tinto que está num garrafão, garrafão esse que se encontra na rebentação para ficar mais fresco, preso por uma guita para se saber a quem pertence.

Podem também ser encontrados a jogar às raquetas (ia jurar que era "raquetes" que se dizia), mas geralmente são vistos a revelar o seu lado de Figo ou de Cristiano Rrrónaldo, "o Puto Maravilha", (nem imaginam o quanto estas duas definições "cocegajam" a minha mente) que há em si, dando grandes cartadas com prodigiosos toques na coroa esférica (tentei fazer uma analogia com "desporto rei" mas nestes dias paciência é coisa que não flui nas minhas veias e tenho ódio a todos os que afirmaram que para escrever este post já tive muita paciênca) saudando os outros banhistas com estupendas boladas surpresa e areia com fartura para cima, "oh chefe, sinceramente... não está a ver que se joga futebol? Santa paciência" ao que, geralmente, se responde, com as pálpebras a rasgar a retina com areia e com um profundo pesar de quem toma consciência e se lamenta do seu erro: "desculpe lá... não reparei!".

Mas não só de Homo Salafrarius Labregus devoradores de sandes (reler algures um post meu sobre uma viagem de camioneta que fiz) era a praia povoada. Muito boa gente e culta frequenta a praia, muitos franceses... Que melódico e encantador era ouvir:
"Jean Pierre, oici! Jean Pierre, allez! Écute Jean Pierre! Jean Pierre! Anda cá filha da puta senão levas uma arroxada por esses cornos abaixo!"
Muy belo... tenho que admitir que era "dificíllimo" adivinhar que eram portugueses, muito menos emigrantes em França. A criança, com a fronha toda esfolada de cair, passava grande parte do dia a comer areia, a mãe... essa tinha um fato de banho até aos tornozelos e não saiu da cadeira não dobrável e em madeira que se encontrava debaixo do chapéu de sol. Por seu turno, o pai era o que passava mais despercebido... com a sua barriga de gémeos em fim de gestação, um magnífico bigode com farelos de sopa de nabo, embora saiba o que é "comer bem", exibia com orgulho um boné do F. C. Porto ainda com o patrocínio da Revigrés, que lhe adornava a moleirinha.
Já para não falar do homem, que presumo ser português, com uma t-shirt com o slogan "Amora a concelho" .


Outra grande atracção em Monte Gordo é a Maria's Tasca.
A caminho, pela praia e com passo meio corrido à Mitch, da Maria's Tasca deparei-me com uma marafona gorda com ar de fina e muito importante (do género esquisita "é que nem nos teus sonhos"), mas é que eu só olhei para ela por achei imensa piada e deveras curioso o facto dela ir com uma teta de fora do bikini e pela parte de baixo. Eu bem sei que nestes assuntos tenho muito que aprender, mas confesso que nunca tinha visto uma atitude daquelas. Uma iniciativa que, a continuar e a tornar-se hábito, recebe, desde já, o meu total apoio.

Eu chego lá despreocupadamente e dou logo duas bajocas a cada emprega e até à dona... claro que me convém omitir que duas são minhas vizinhas e a "patroa" é a irmã mais velha de uma, evidente que já as conhecia todas, mas mais uma vez são pequenos pormenores técnicos que não são necessários à conversa.
Mas foi o suficiente para muitos "pintas" que estavam a tentar bater couro, que friamente era descartado, sentirem todo o seu império a desmoronar-se... claro que quem lá esteve não viu nenhum destes pintas, muito menos gente com procedimentos daquela natureza, porque era um bar muito bem frequentado... mas precisei de os meter aqui para dar alguma tragédia poética.

(Por esta altura já me ardem os olhos de escrever isto no PC... um dia destes fui para comprar um monitor TFT de 17" por 150 aérios e cheguei lá "já só" tinham dos de 300 aérios para cima e acabei por comprar um DVD de Deep Purple por 4 aérios... a estratégia deles resultou comigo embora não tivesse trazido outro monitor mais caro. Vou portanto, tentar encurtar a exposição narrativa para poupar este preciso meio de contacto com o mundo exterior.)

Durante a noite, o poiso era outro, o passeio nocturno densamente utilizado. Estranho era que se seguisse a corrente de pessoas ia-se dar a um descampado sem nada nem ninguém.
Outro fenómeno em Monte Gordo eram os homens pintados de branco e vestidos de branco a imitar estátuas. Eu contei três na mesma avenida. Iam desde o que se mexia realmente devagar, de forma quase imperceptível, por forma a fazer coisas simples, ao profissionalismo de um, que para além de se estar sempre a rir e a tentar cumprimentar as pessoas, até coçava o nariz com o braço de forma irrequieta. É deste último que vou falar. Não é que o rapaz prega um "cagaço" quase de morte a duas pobres crianças... que depois do estalo de adrenalina que levaram, berravam desmedidamente agarradas aos braços do pai. O festim foi a ponto tal que, sempre com a subtileza que lhe era característica no seu número, o palhaço viu-se obrigado a desmontar o estaminé e a dar corda aos "calcantes". Também ninguém mandou os estafermos passarem perto de uma estátua que se estava mesmo a ver que era uma questão de tempo para se começar a mexer (como já o disse anteriormente, não mais que 1.5 segundos).

Para terminar... durante uns dias à noite foram lá tocar umas bandas para animar os veraneantes, mais do que os homens que pintam quadros a spray e que toda a gente batia palmas.

(Aqui admito que já estou farto de escrever para este post e que já se passaram uns dias desde que comecei a escrevê-lo)

Vou começar pelo primeiro dia:
Uma bandazita com uns elementos que tocavam menos mal o instrumento que a eles era atribuído. A moça tinha uma voz potente mas não sabia letra nenhuma e exagerava nos "wooow-oohh" para se fazer ouvir.
O desconhecimento das letras ia a ponto de estar com o caderno na mão enquanto cantava.
No, já considerado hino para muitos e cada vez há mais, YMCA o refrão vinha com voz arrastada e meio a fugir em que só coincidia com o publico na sigla "YMCA", de resto era um dialecto que em nada se aproximava com o refrão original.
Os músicos não deram nenhum "prego" (gíria que se usa no meio para descrever erro) digno de nota.

Mesmo assim teve critica positiva. Um "índibiduo" (dito com voz de GNR do norte) mal tinha acabado de chegar e disse logo, "mas atenção que a música tem cólidade, tá bem?"

Ainda houve tempo para um medley com músicas da Britney Spears que meteu a pequenada a correr de um lado para o outro e de forma aleatória (mais tarde ou mais cedo chocavam uns com os outros portanto) só de ouvir o nome.

No segundo dia (salientar de novo que foi no segundo dia que vi concerto) o cartaz tinha direito a duas bandas.
A primeira, como diria o meu amigo Uel Mig (Mig, Uel em americano) em tempos que já lá vão (deu um salto em frente, os meus votos que seja na direcção correcta), "ela tem talento". E não digo isto tanto por mim, mas sim pelo ar de contentamento que muito pai fazia por a rapariga ter optado por umas saias realmente curtas que expunham uma "perna rija" a acompanhar por um top branco e justinho. Infelizmente, cantar não era realmente o seu forte.
Para melhorar a performance da banda a rapariga fez a festa toda sozinha porque os outros pacóvios aparolados, era cada um por si, totalmente desnorteados pelo brilhar dos projectores que nem traças à volta de um candeeiro de rua. "Era cada prego, faxavouré".

Mas o que a audiência esperava era pela cabeça de cartaz, a Patrícia "não sei quê" (e o engraçado é que nem sei se é Patrícia) que ao que parece é vedeta da peçonha carbúnculosa que são os Morangos com Açúcar.
Só me apercebi no que me tinha metido quando à minha volta apareceram milhentas pré-adolescentes, quase no limiar do choro, a correr para se abeirarem do palco. Pareceu-me que aquilo até tinha a sua magnitude... mas passou-me tudo ao lado porque era um acontecimento para lá do meu panorama. Não me arrependi nem me chateei muito de lá ter ficado porque a moça até era simpática e bastante agradável à vista.
O que me chateia é que muitas vezes estas moças, de qualidade musical algo dúbia, fazem-se acompanhar por músicos notáveis sub-aproveitados em musiquinha da moda. Aquilo vende pela cara da moça, uma acção de marketing conjunta com a novela. Um ajuda o outro a vender.
Estes músicos só mostram parte do seu vasto potencial aquando da apresentação final dos elementos da banda em que nos presenteiam com um pequeno, mas saboroso, solo na sua especialidade. A moça mostrou apenas o seu sorriso (aposto que há leitores que fizeram logo a pergunta para o ar: "sorriso horizontal ou vertical...?" cambada de ordinarões) quando alguém a apresentou.

De notar que em todas as bandas com elementos femininos falharam os belos comentários gritados que muita felicidade e regozijo nos trazem:
- Oh boa/grossa
- Despe! Despe!
E a mais bela "parafernália" de palavras que até hoje ouvi, foi no primeiro concerto/festival a sério que fui, o T99 (um dos cabeças de cartaz de peso do festival eram os Metallica), em que a meio do concerto de Guano Apes, e sem ninguém o esperar, brota um:
- Partia-te esse tijolo todo oh minha grandá porca!

Desde então assisto com outra magia e beleza a estes festivais, sempre à espera destes imprevistos.

Cá me fico com um post maior que a celebração da passagem para o ano 1349. Espero ter posto material suficiente para me redimir pela demora na actualização do blog. Embora não me convença que os posts são poucos mas bons, são escritos com boa vontade e muito afago.

sexta-feira, junho 24, 2005

Auto(Cata)clismo Visceral

Hoje (na realidade não foi hoje... mas como não me lembro quando foi, facilita muito a coisa dizer que foi hoje), pela única vez (forma bastante sucinta de dizer "pela primeira e última vez"), "almocei" na macrobiótica da cantina. Porquê? Porque as alternativas eram, ao que eu julgava antes de me meter nesta suicida aventura de privação de alimento, piores que o aspecto apetitoso que "aquilo" aparentava apresentar.

O prato de "carne" era jardineira polvilhada com carne e o peixe eram filetes. É que para mim a verdadeira macrobiótica era isto mesmo: filetes, frango, coelho, lulas, rissóis, etc. (um parêntesis... que era suficiente meter só o caracter "(" mas fica bem dizer a palavra, para mim o bacalhau não é peixe, é bacalhau, tal como a sardinha é sardinha e não peixe ou outra sub-género qualquer) não é aquela coisa. E eu que me perguntava como era possível comer todos dias macrobiótica sem ficar saturado... agora pergunto-me, como é possível comer todos os dias? Quero dizer... ainda estarem vivos? Ou pelos menos não andarem sem o cabide do soro atrás e ligado directamente ao cérebro?
Continuando...
Acabei por ser seduzido por vários amigos (salvo seja...), que julgava se preocuparem comigo, com promessas falazes das maravilhas que a macrobiótica oferece, a experimentar ingerir daquelas substâncias enganadoras.

Estava com fome mas, à medida que o prato se ia esvaziando, os meus sentidos alertavam-me para uma sensação de fraqueza contínua. Apesar de mastigar e engolir o milagroso alimento, o roncar e a dor no estômago eram uma constante e em quase tudo semelhante à que teimava em fazer-se sentir antes da refeição.

Fartei-me de tanto comer ao ponto de ficar cansado, doerem-me os maxilares e, mesmo assim, a única impressão que tinha, para a além da miséria de sustento alimentar que se mantinha, era que tinha o estômago inflado com ar.

Mal por mal, penso que era mais aceitável beber dois litros de água como se fosse um penalti de tinto para encher o estômago e contornar a fome, sempre enganava melhor, sempre se ficava mais pesado e o desconforto era outro... apenas as eructações eram acompanhadas de "água-à-boca" que estava acumulada no esófago.


Durante a "Hora do Rájá" (que por minha vontade tinha sido logo instantaneamente a seguir ao poisar do tabuleiro na passadeira rolante), e ainda aborrecido com a coisa, revelei o sucedido a um amigo e colega, chamemos-lhe Uel Mig (que em americano se escreveria Mig, Uel). Assim não só preservo o seu anonimato (anonimato este que se vai mostrar muito importante), como também, poderei contar a coisa como ela realmente aconteceu, mas que o próprio teima e irá teimar que não foi nada disto que se passou, tal foi a tragédia que ele sofreu que forçou o córtex a apagar-lhe esta memória da cabeça. Felizmente eu sei o que se passou, sei a verdade (porque muito que lhe custe a aceitar) e irei expor a coisa com enorme objectividade e clareza (como se quer em casos choque como este). Jamais será fruto do meu imaginário quimérico.


Vendo-me perturbado com o sucedido, decidiu desabafar, contar a sua história, desvendar o seu segredo relativo a uma experiência aterrorizante com macrobiótica. Terei eu ficado mais descansado a saber este seu capítulo da sua vida?


Tudo ocorreu num pequeno festival de Verão (posso afirmar com plena certeza, como sempre o faço em tudo o que digo, que este festival não dava direito a uma pulseirinha (não confundir com umas outras já anteriormente referidas neste blog, que tanta polémica, discussão de ideias gerou mas também houve quem, e bem, concordasse comigo, e que muitas visitas me têm trazido graças à ajuda de vários motores de busca que metem o meu blog nos primeiros resultados para "pulseirinha anti-racista" (que mete piada... nem tinha reparado, não é contra o racismo em si, é contra o racista)) laranja que eu, por acaso e sem querer... (aqui faço uma cara parva (ai agora a minha cara é sempre parva...?) de quem tenta ser convincente, geralmente evito olhar para os olhos da pessoa nesta manobra de diversão astuta, para não me rir) reparei quem tem usa uma no braço esquerdo), desses que se acampa no "campus" do espectáculo. Foram tantos os parêntesis que meti neste parágrafo que até eu fui obrigado a relê-lo.

Ainda o sob o efeito da alegria do acontecimento de estar na festa, foi em cantigas e acabou no refeitório a comer macrobiótica (acho que só os "alegres" é que comem na macrobiótica com frequência).

Deu-se uma reacção em cadeia, idêntica à fissão nuclear do plutónio (aqui o elemento radioactivo era o bolo alimentar (noutros estados a seguir mas não me lembro do nome) que devia ser inerte a um intestino de quem come regularmente na cantina e tudo é embebido em mostarda, ketchup e maionese, ambos armazenados em recipientes de 5 litros que se encontram expostos ao Sol) mas sem refrigeração no reactor principal, que de seu a conhecer por ciclónicas ventosidades e que originou uma das mais vexantes e afrontosas provas de atletismo misto (era uma espécie de prova australiana... várias provas de rapidez e resistir durante a competição toda) da história campista de festivais de Verão.

Consta-se que os primeiros sprints eram acompanhados com um constante sopro pianíssimo meio tossido de quem o tenta prender com as nalgas. Sopro esse que se aliava a um breve gemido, emitido pela garganta, ligeiramente arranhado numa desesperada tentativa de disfarçar infrutiferamente a maleita que o persegue.

Quem não simpatizou muito foram os outros campistas, que, não estando em condições de se inscreverem na prova, foram obrigados a ser espectadores desta sinfonia sibilina.
Descreveram os que se encontravam em pleno troço, que era um frenesim apoteótico: fecho da tenda a abrir repetidamente durante a noite e em intervalos muito curtos que, juntamente com as constantes descargas de autoclismo e com as incessantes passagens dum lado para o outro, com uns passos acelerados de quem tenta correr mexendo apenas dos joelhos para baixo e que se agarra a barriga que estremece com cólicas explosivas, criavam um efeito especial em stereo, corrosivo para quem tentava dormir tranquilo um sono que não se concretizava.
Volta não volta, a azafama era intercalada com tropeçar nas "guitas" que agarram as tendas às estacas, acompanhadas com um gemido de quem se tenta aguentar e um consequente aterrar de focinho na areia misturada com terra que abafou, de certo modo, um grito aflitivo e meio chorado ("ain-him-him") de quem, ainda a comer terra com os dentes e com os olhos, pensava ter conseguido e que havia apenas libertado uma pequena despressurização da tripa e constata, em pânico, que sentiu nas bordas um flato enlameado que o encheu com uma vergonha desmedida.


Os testemunhos afirmam que visitou tanta vez os sanitários, que um dos porteiros do parque, muito observador no que respeita a jovens rapazes a irem para a retrete, ao ver a quantidade massiva de papel higiénico que este moço esgotava, lhe dirigiu um pequeno comentário "ai que rabinho tão guloso que o meu lindinho tem aí..." (ficou-se sem perceber o que ele quereria dizer com isto) seguido de uma breve piscadela de olho e de uma tentativa de perseguição para troca de miminhos. A partir daqui começou a evacuar de forma acrobática, com as duas pernas levantadas para prender bem a porta com os pés e sempre a olhar para cima com medo que o sr. Julião o estivesse a espreitar. O medo por aquela entidade era tanta que mesmo só tendo um restinho de papel higiénico agarrado ao rolo, aquela última folha mais rija já com a parte da cola, se recusou a ele próprio de chamar ajuda. Num ultimo acto de desespero tentou limpar-se com aquilo mas ao que esta atitude o conduziu foi a espalhar o substracto pelas bordas.

O mais impertinente era ter de ir a casas de banhos totalmente imundas... onde parecia que que alguém se tinha feito explodir. O nosso intrépido herói tinha de andar a escolher qual a pia que se encontrava mais apresentável e, não por poucas vezes, devido à incapacidade e hesitação na escolha, sentiu um alívio incomodo em pleno corredor.
Quando encontrava uma menos má, nem sempre a sorte lhe sorria. Tinha que meter várias camadas de papel higiénico em cima do aro da sanita para não lhe tocar com parte alguma mas, por vezes, o ataque abdominal para expelir todo o lodo aprisionado foi tão grande, que acabou no chão a rastejar que nem um "marine" na guerra do Vietname, com as paredes da retrete com pinturas a reproduzir as da camuflagem usada no local do conflito.


Esta inglória jornada acabou às 9 da manhã com o Uel Mig totalmente exausto e fustigado que nem uma concubina que passou uma noite a exercer a sua actividade com as tropas pessoais do imperador
Mas debateu-se que nem um herói de guerra, devia ser galardoado, nem que fosse com um busto no meio da retrete com uma insígnia qualquer e uma frase de ocasião: Aqui, Uel Mig, travou a batalha mais feroz da sua história em tempo de guerra.


Após um breve descanso, viu-se obrigado a abandonar o recinto apressadamente, não só pelo profundo opróbrio e pela extrema ignomínia, mas também pela escassez de roupa desprovida de despojos de guerra (disseram-me que até chapéus serviram de penico de viagem nocturna).



É por estas e por outros que comigo, macrobiótica nunca mais! Não me ocorreu, que eu tenha notado, nenhum efeito secundário nefasto por enquanto mas não vale a pena correr riscos desnecessários.

O que vale é que no jantar, já não me "comeram" (salvo seja) e fui para a carne. Era borrego com muitos ossos, gordura animal (que nunca tinha reparado que é tão doce e saborosa) com fartura e dose dupla de molho ("mas isto já tem tanto molho, menino..." - ponha mais que eu é que sei...)para lubrificar bem a máquina. É que ao almoço até o sumo com poderes psicotrópicos infinitos e o pão-pastilha sabia a mais que tudo o resto... é que nem com "sangue de Lúcifer" (tabasco) com fartura consegui dar sabor àquilo.

quarta-feira, junho 22, 2005

Adoração à Creoulina

Não queria mas a tal me obrigam...

Não venho dar recados nenhuns a ninguém, a situação é demasiado grave para isso. Não é uma questão de História, nem de identidade ou de cultura, é sim uma questão de respeito pelo ser humano e pela vida em sociedade. Estou farto que me mandem em cara coisas infundamentadas e desprovidas de argumentos com nexo. Qualquer coisa que eu diga sobre crime ou segurança é "impugnada" com um "és pouco racista és...", o que revela quem associa o crime às etnias.

Não estive, por conseguinte foi impossível verem-me lá, na manifestação de dia 18 porque, muito simplesmente, ela foi convocada para contestar a onda de crime que tem abalado o nosso país e que tem aumentado de forma exponencial mas, na realidade, foi uma manifestação da extrema-direita e virada para a xenofobia e são ideais que se desviam em muito dos meus ideais, embora haja um infímo de ideias em comum, mas estas são provocadas pelos factos e não por qualquer doutrina, opinião ou princípio. Acusar por acusar e apontar o dedo com fúria a alguém é fácil, o que é difícil é reflectir sobre o que se incrimina e acusa, “és porque és” ou "não... és agora" ou ainda "não que ideia..." não me parecem ainda, por enquanto, suficientes para defender uma ideia ou fundamentar o que quer que seja.

Mas curiosamente não vi nenhum sofista moderno, desses detentores da razão total e da verdade e sabedoria absoluta, com uma capacidade infinita de visionar o que os rodeia e de julgar os outros, com um megafone na praia de Carcavelos ou nos comboios da linha a apregoar para as vítimas (sublinhe-se a palavra vítimas), que, mais que danos materiais, sofrem danos psíquicos causados pelo terror e pelo pânico, para tirarem as palas dos olhos, palas essas provocadas por ideias racistas que os media nos contaminam, e olharem à sua volta, para verem que são crianças inadaptadas. Bom... há já quem o faça e, enquanto o passageiro do lado é submetido ao choque de ser assaltado, humilhado e molestado, prefere olhar para a janela (mesmo que esteja a passar num túnel), para o tecto (mesmo que não tenha pegadas, embora pouco falte), para os poucos painéis de publicidade que ainda não foram vandalizados e assim tem a sua realidade, "não vejo, logo não existe... só espero que não me toque!".
Mantêm-se imóveis e inertes à espera que o problema dos outros passe e assim evitam serem acusados de racistas ou de extrema-direita, porque é isso que importa! Os outros cometem crimes mas o que importa é que nós nos mantenhamos calados para não nos atribuírem, sempre com grande sobressalto de ânimos, palavras que são ditas com tom incriminatório. Entretanto há quem seja esfaqueado e inutilizado para o resto da vida, mas se se fala no assunto é racismo... como disse uma senhora dePutada do Bloco de Esquerda, Ana Drago, "falar do arrastão é estar a ser-se racista e xenófobo" e respondeu a um deputado que disse "gente capaz de fazer tão mal aos seus mais próximos (...) só pode ter um tratamento de choque”, com um “A intervenção que o senhor deputado fez nesta câmara é ao jeito e na tradição populista, xenófoba e preconceituosa.” Enfim... que comentários fazer?

Mas relembro, por alto, o que um criminologista disse: não é preciso dizer a uma criança para não meter os dedos na tomada da electricidade, basta ela lá meter uma vez os dedos e apanhar um "esticão" que aprende para o resto da vida. É que a vida, como disse um filósofo chinês, é um balanço de dor e prazer, se a criança não sentiu prazer ao meter lá os dedinhos, sentiu dor e não quer repetir a experiência. Ora se os marginais, com estes actos, não sentem dor, obviamente que sentem prazer e querem repeti-lo pelo prazer em si.


Dizem que há manipulação dos media, e é verdade... (poderia dizer que abafam o que realmente se passa para não alarmar ainda mais o cidadão, mas não o farei) por isso é que as imagens e vídeos tardam em aparecer. Então não é que os malandros dos jornalistas passam tardes inteiras entretidos com o The Gimp (programa freeware para Linux de edição de imagens) a mascarrar um a um os marginais até Carcavelos parecer o ponto de chegada do derrame do Prestige ou até o comboio da linha ter o aspecto de que meteram a arder pneus dentro das carruagens?

Jorge Sampaio visitou a Cova da Moura no mesmo dia da manifestação de extrema-direita. Os habitantes da Cova da Moura não são todos marginais nem criminosos, há lá muitas pessoas (quase todas as pessoas, excluindo os animais) que estão numa situação social tal da qual lhes é quase impossível sair, mas o nosso presidente da república fez-se acompanhar por um pequeno exército. Estou certo que qualquer outro cidadão, se lá entrasse, teria sérios problemas e de certo a sua recepção não seria de boas vindas (será que é preciso passaporte para entrar nesta parte do "nosso" Portugal?). Há uns anos o ex-ministro Jorge Coelho tentou fazer o mesmo noutro bairro social problemático (atenção à palavra problemático) mas, por obra do infortúnio, esqueceu-se da escolta de elite e apenas levou jornalistas, confiante que não iria ter problemas por ser quem é... teve que ser accionado um plano de emergência para o conseguirem tirar de lá com um mínimo de segurança. A calamidade foi tal, que os media viram-se forçados a esquecer este pequeno incidente e pouca importância lhe deram.

Aborrece-me profundamente a distorção de factos e o argumento vazio, só com palavras subjectivas e vagas contra os dados e contra a estatística da PSP e da PJ... o que há a dizer contra 70% dos crimes são cometidos na região de Lisboa e cerca de 63% desses crimes são cometidos por uma minoria étnica? Ou que 57% das prisões em todo o Portugal são preenchidas por essa mesma minoria? Faço questão que notem na palavra minoria e que reparem igualmente que a percentagem da minoria supera a da suposta maioria. Como dá para ver com enorme clareza, não sou eu que estou a generalizar e a julgar todos por uma meia-dúzia.


Outra coisa que execro é desviarem a conversa por nada conseguirem fazer para terem razão, estou a falar de insegurança e vêm-me com coisas como esta:
-"Tu está calado (ai a censura... e eu é que sou de extrema-direita e fascista) porque se não fossem os emigrantes, Portugal não era o que é (sinto-me muito tentado a concordar) porque os portugueses (será que também são portugueses?) são uns calões e não querem trabalhar!"

Não só estão a excluir as etnias dos cidadãos portugueses, coisas que me acusam, como estão a desviar a conversa para outro "problema" completamente diferente! Se quisermos, ainda é possível interpretar a mensagem "os emigrantes só servem para trabalhar nas obras".
Mas permitam-me lembrar que Angola jamais seria o que foi e o que hoje poderia ser (mas que infelizmente a guerra civil, e não a colonial, destruiu... poderia acrescentar mais umas coisinhas aqui, mas nem vale a pena de tão óbvias que são) se não fossem os portugueses.
Mas para não dizerem que ficam sem resposta e que também eu estou a desviar a conversa:
Infelizmente estes trabalhadores não vêm para trabalhar nas obras, como se gosta de dizer. Vêm sim para serem explorados por empreiteiros, construtores e empresários (já para não falar em outras mafias) gananciosos, imorais e ávidos por dinheiro e poder. Estes emigrantes trabalham em condições nulas de segurança muitas vezes, em condições desumanas, salários por vezes ridículos, não fazem descontos para coisa alguma e, na generalidade dos casos, não têm cá a família para sustentar (com tudo o que isso acarreta) e o pouco que mandam para as suas terras é o suficiente para terem uma vida menos má. Mas aqui o crime é outro, e não é o dos trabalhadores (hoje como estou numa de salientar palavras, saliento a palavra trabalhador em contraste com a palavra parasita, se é que me faço entender). Mas ninguém gosta de ser explorado... se há quem possa arranjar outro trabalho com condições mais humanas era idiota em não o fazer. Havendo quem, devido à sua pobre condição social e financeira, se sujeite a esta escravização, claro que os "grandes" se vão aproveitar e jamais, em tempo algum, se vão privar de ter mais lucro quando há quem não imponha um conjunto mínimo exigências legítimas.


Mas isto tudo sou eu que o digo, cego pelas palas da tolice. Sou eu que quero ver o problema em vez de abrir os olhos e olhar para o meu umbigo. Sou eu que me preocupo com idiotices que não existem e que teimo em acreditar.

Já agora reparem no trocadilho do título, é que para ajudar à festa a creolina é um anti-séptico extraído do alcatrão da hulha.

domingo, junho 19, 2005

Anatídeo Bravio

Hoje cortei o cabelo (que entretanto já faz quase uma semana, porque, antes de passar para o formato digital, fui escrevendo isto num rolo de cartão reciclado, que antes era a espinha dorsal de um rolo de papel de cozinha, em jeito de livro antigo, tipo um papiro enrolado) e cada vez que corto o cabelo tenho que escrever aqui qualquer coisa relativa à ida ao baeta, quase como uma promessa, nem que seja para acrescentar algo de novo ao já descrito. Desta vez o baeta, o sôr Abílio (verdadeiro nome), deu-me a garantia de 2 meses, ou seja, se até daqui a 2 meses não estiver satisfeito com o resultado, posso lá ir e tenho direito a um corte de cabelo totalmente novo, nem que seja cortado à chapada (a garantia não cobre problemas de humidade ou problemas que envolvam responsabilidades inerentes ao cliente, tais como bossas na superfície craniana). Claro que, por si só, esta garantia nada revela visto que o último corte de cabelo aguentou-se-me 5 meses, é apenas para dar ainda mais confiança a um serviço a que já deposita total confiança, eu pelo menos confio na totalidade da arte do sôr Abílio.

Isto de ir ao baeta é muito mais que um simples cortar de cabelo, é como ir a um psicólogo (que de certa forma também é confidente), sai sempre de lá uma pessoa diferente daquela que entra. Eu, por exemplo, saio sempre de lá com a mentalidade que tinha há 15 anos atrás e sinto-me coagido a fazer o que fazia nessa altura (embora nesses tempos o agente moderador (pais) fosse maior nestas coisas, agora não acreditam que eu ainda queira fazer as coisas que não me deixaram fazer então). Para ajudar à festa, tinha na caixa do correio um panfleto dos "Brinquedos semos Nós" e lá encontrei bens de extrema necessidade. Do mais prioritário de todos que lá encontrei foi um par de bisnagas super soaker, -"e para qué que um caramelo com a tua idade precisa de bisnagas?", muito simples... porque quero, não tenho nenhumas como deve de ser (gostava de conhecer a entidade competente que regula isto do "como deve de ser") e fazem-me falta. Também lá marquei um Ferrari da Lego (o melhor brinquedo de sempre segundo a minha opinião, às tantas também compro um balde com 800 peças que também está barato (as coisas quando me fazem falta não olho a custos), uns walkie-takies (estava lá escrito assim) ninja com um raio de acção de 3 Km, um mega disfarce Batman ninja (a palavra Batman é uma manobra de "marquetingue" porque aquilo não tem nada de Batman... está é na mesma páginas que as coisas do Batman) com estrelinhas e tudo (o lança-pizzas ninja e o estojo de costura ninja estavam esgotados, mas a quinta miniatura com mémés encontrava-se, mais uma vez, disponível (com esta só uma pessoa está apta rir-se com isto, espero que se ria pelo menos um pouco, nem que seja p'la nostalgia)). Por um lado é bom porque já não tenho que pedir para me comprarem estas coisas que "muita falta fazem" (que só tinha direito a uma no Natal ou nos anos), mas por outro lado é-me muito fácil carburar rapidamente o meu pequeno pecúlio.


Retomando o tema principal, o baeta, a barbearia é um local de fortes índices de amnésia, porque, para além da discussão dos temas da actualidade (invariavelmente o "arrastão", onde se disse muito do que já foi dito e um pouco mais se acrescentou, mas não o colocarei aqui), as conversas são sempre as mesmas mas, repetem-se com o mesmo empolgo da primeira vez, porque é a primeira vez.


Poderia dizer-se que saio sempre com o cabelo à "Melro Casapiano" (jamais ousarei re-utilizar o termo "Pato-Bravo" da mesma forma que o usava anteriormente porque temo ser decepado de forma violenta e exacerbada por uso incorrecto da expressão (pronto... aqui tentei impingir uma piada que, certamente, apenas uma pessoa, por sinal muy catita, a compreenderá e saberá que é com ela)) mas até que fico com o cabelo à "homenzinho" (o coitado do barbeiro faz o que lhe é possível com uma cabeça destas). Fico mais "ache quinha" e esta é a frase que meto aqui para ocupar espaço e separar o termo "ache quinha" da verdadeira expressão, que para quem ainda não descobriu o que eu queria dizer, "à f'esquinha". Fico geralmente com menos 735 gramas de pêlo porque o corte é sempre radical, não corto o cabelo apenas para manutenção do seu tamanho, quando o corto é para cortar e para tal há que ter matéria prima para o baeta trabalhar. De um dia para o outro muita gente já me é incapaz de reconhecer, bom... mas isso acontece mesmo quando não o corto, voltarei a este tema qualquer dia e de modo bastante ofensivo.


Claro que de lá nunca iria sair muito "mátxou" (macho dito à "rapaz moderno"), para isso era preciso ir (salvo seja) ao Eduardo Beauté para hair styling e produção (aqui com estes termos novos confesso que nem sei o que estou a dizer, li-os numa revista e achei piada) e ser vestido (com esta fiz sangue nos nós dos dedos tal foi a força com que bati com eles na madeira mais rija que encontrei, pelo sim pelo não vou bater numa coluna mestra cá de casa) pelo Luís Barbeiro. O sôr Abílio é um homem sério e trabalhar, e dono de uma barbearia decente e honesta... por quem o tomam?