sexta-feira, novembro 25, 2005

Faruk - O Ultra Macho

Como não estou com "vontade" de escrever sobre o resto da história, vou dar-vos o exemplo do que é ser-se Ultra-Macho. Vou falar-vos da criatura mas máscula com que alguma vez me cruzei (salvo seja... apre! (aqui está uma palavra bonita)). Vou falar-vos do Faruk.

O Faruk e o seu carácter varonil vieram com o Uel Mig (que faz arroz à toa e sai bem... eis a receita: vazar meio frasco de arroz directamente para dentro de um tacho que tinha água equivalente ao peso máximo que ele suportou enquanto enchia o mesmo, meter uma cebola quase descascada (a terra que estava agarrada temperava o arroz) e meter tudo ao lume. Servir no intervalo de um filme) e sua respectiva patroa.

Tentei meter conversa com o Faruk, para tentar aprender alguma coisa com ele, mas a sua frieza e indiferença foram constantes.

"Oh Faruk... não me digas que se a Lassie tivesse menos 25 anos em cima que não a fazias..." Com o seu extremo ego não teve qualquer reacção. "Este gajo é muito duro!", pensei.

"Mas e a que fez os 101 Dálmatas, já lhe davas um jeito, hein?" tentei eu novamente com o entusiasmo que é característico àqueles que, sendo inexperientes nestas coisas, se vêm diante d'um guru da masculinidade. Obtive a mesma resposta.
Estranhei no entanto os latidos baixos quando apareceu o Rex no tuvisor... "deve ser preciso ser-se muito macho para se conseguir estar à altura de um Faruk". (Há quem diga que os cães não vêm tuvisor, mas ficou provado o contrário).

A patroa do Uel Mig é muito simpática mas via-se nitidamente que não percebe nada de animais e muito menos do que é ser-se macho:

"Porra! É uma cadela e chama-se Farrusca!"

Arregalei os olhos, desviei o olhar lentamente e remeti-me ao silêncio para ver se a crise lhe passava. Comentei com o Faruk: "A tua dona (que não é dona porque o Faruk não é pertence de ninguém. É macho... não tem sentido ter dona) não bate lá muito bem, pois não?
Como é que um cão com o temperamento do Faruk poderia ser alguma vez fêmea?

Era o esplendor do que é ser-se macho e a fulgência da masculinidade.

O Uel Mig apertou os berlindes sem querer (como é que se aperta a "fruta" a alguém sem querer é algo que me ultrapassa) ao Faruk, claro que o animal se ressentiu e teve que mostrar os dentes. Já não bastava estarem no seu território exclusivo como ainda brincaram daquela forma com a sua virilidade.

Aliás, bastava tocar com uma mão ou na cachola, ou na omoplata da fera, para esta meter as orelhas para a frente em posição de ataque, mostrar bem os dentes e tremer com o seu poderoso rosnar.

É que os machos não toleram a presença de outros do mesmo sexo por perto (apesar de, em relação ao Faruk, serem todos de uma classe inferior de masculinidade), muito menos serem tocados por estes.

Um especialista (em quê não sei) holandês explicou esta reacção como uma certa insegurança na orientação sexual nestes indivíduos. Daí o seu comportamento exageradamente teatral e artificial, empenhando-se a fundo para dar uma imagem de uma masculinidade que não existente. Tentam a todo custo parecerem aberrantemente homens, porque no fundo temem deixar-se ir pelos impulsos reprimidos que os perturbam. Nunca suportam brincadeiras entre homens porque sentem que o seu ponto de ruptura está no limite e não sabem reagir naturalmente sem resvalar, sem retorno, para o outro lado. Nunca excepto no caso de a brincadeira vir de algum homem que eles venerem, porque com esses jamais perdem a esperança que um dia se unam. Deixam-se ir para ver até onde o outro está disposto a avançar. É comum verificar que a Madonna seria a única mulher que os faria mudar de ideias, a única mulher que os levaria ao altar.

Sei de um caso destes mas estou crente, ao contrário deste, caso todo ele coberto de plumas, que não é o caso do Faruk.

Tudo o que o Faruk diz é verdade, ter estado sempre em silêncio só mostra o quão sábio é! Contrarimante à outra facção, àqueles que se fazem passar por super-macho quando a realidade é bem mais alternativa e moderna, que inventam compulsiva e descaradamente para terem razão... desde quando é que um doutoramento em Enfermagem, a exister, tem a duração de 5 anos? O curso em si, que é magnífico e mesmo não estando concluído salva inúmeras vidas todos os dias, tem 4 anos de duração... tem todo o sentido o hipotético doutoramento ser em 5 anos. Faz-se uma tese e defende-se essa tese, não é bem doutoramento, é a criação de saberes e de práticas de intervenção especializada. Mas não... d'isso sabe ele com a maior das certezas! (mas já se reparou que certezas é coisa que não tem).

Quanto ao doutoramento em Medicina... existe um doutoramento mas é mais uma especialização que depois confer ao médico o título de Doutor, ao invés do Dr. que vulgarmente aparecem nas cartas para pagar a água, a electricidade ou o gás. Torna-se doutor e vai para investigação ou acaba a dar aulas. É diferente do douturamento de cursos como as engenharias, por mero exemplo.

Tirar o doutoramento na macabra instituição que frequento em 5 anos? 5 anos só se for com mestrado e trabalho final de curso incluidos.

O que interessa é que em ambas as situações afirmou algo que, não só não tinha a certeza, como não sabia o que estava a afirmar.

Basta analisar o que me disse para se ter uma melhor percepção das coisas:

"Tu por exemplo não conheces... mas eu gosto muito do Wagner" que é o mesmo que dizer "tu por exemplo és estúpido mas eu sou muito intelectual".

Eu que até tive alguma, embora pouca, educação musical mas pronto, o perito é ele e o inculto e atrasado sou eu. Claro que foi encavado com gravilha de sílex, para fazer faísca, quando lhe perguntei qual a obra que mais gostava de Wagner, já que é um tão grande apreciador. Era vergonhosamente fácil... bastava dizer "Die Walküre" (ou "A Valquíria" se quisermos traduzir à letra), que é a que toda a gente conhece ou gosta por ser uma música meio épica e porque faz parte da banda sonora do Apocalypse Now, para eu ficar convencido que ao menos tinha ouvido pelo menos uma vez Wagner. Faltou dizer que comprou "este último CD que ele lançou há pouco tempo". Na realidade, esta criatura a gostar do Wagner, e não a obra do mesmo, só confirma o que tenho vindo a dizer, visto que o Wagner tinha uma inquietante atracção para com os do mesmo sexo.

Só se se estava a referir ao Wagner Love... aí está bem, o caso muda de figura e tem todo o sentido a sua declaração.

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