sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Razza Mixturata

Para primeiro post do ano, vou relatar muito brevemente o meu dia de trabalho.

Tinha como missão distribuir comida para cão. Daqueles barras para os cães roerem e supostamente lavarem os dentes.
Lá estava eu às 7 da manhã no Terreiro do Paço para oferecer os meus serviços.

Avisei alguns amigos o que iria fazer hoje com "amanhã vou dar comida de cão aos pretos".

Racismo à parte, disse isto a pensar que quem estava a esta hora em tal local, só podia ser quem trabalha que nem um preto, logo eu também sou preto por lá estar e não tem sentido estar a ser racista comigo mesmo (embora haja brancos que se castigam e martirizem por não serem arraçados de bijagós porque assim não podem sentir verdadeiramente o hip-hop, a revolta contra o não sei quê que lhes dá para fazer aquelas coisas relatadas no Correio da Manhã). Com esta conclusão, de me considerar preto, deitei por terra a quase totalidade dos argumentos que muitos tinham para me acusar de racismo.
Jamais pensei que aquilo que disse seria uma profecia.


Uma das coisas que me despertou muita curiosidade foi saber que mais de 90% da população que por ali passou tem dois ou três cães, mas o que mais me espantou foram umas certas senhoras que à minha insistência, repetiam sempre a mesma cantilena:
- Eó tênhu doish minino!
- Só posso dar um por pessoa...
- Eó tênhu doish minino!

Aqui já reflecti sobre as suas palavras e corrigi as minhas palavras:

- Oh minha senhora... isto é comida para cão!
- Eó tênhu doish minino!
- Comida, cão!
- Eó tênhu doish minino!

Com tamanha e hipnótica retórica o que poderia eu fazer?
Lá acabei por lhe fazer a vontade e dei-lhe quatro pacotes.


Outros iam buscar por buscar... e por ser dado tentavam levar o maior número possível, só por levar e para que os outros não levassem mais que eles.
Por vezes era rodeado por um eclipse que, talvez por hábito, ia lá buscar com extrema ferocidade apesar de não saber o que se tratava.

Mais tarde cheguei à irrisória conclusão que há muito humanoide que circula no nosso país que desconhece por completo o nosso dialecto.
Em alturas separadas, vi uns três senhores, que vinham de uma das minas de carvão da margem sul, a debaterem-se ferozmente com as barras que, ao analisar pelas suas suas expressões, se colam bastante aos dentes.


Também eu trouxe algumas das amostras, não para consumo próprio, mas como prenda a uma criatura fantástica que é minha vizinha, a Zuca!


Se eu tivesse o mesmo tipo de influência nas moças como tenho nela... "mô amigo!" certamente que o meu estatuto seria extraordinariamente invejável. Para muitos, é de uma inestimável valia chegar ao pé de alguém do sexo oposto e esse alguém deitar-se instantaneamente de barriga para o ar com as pernas abertas.

Fico-me por aqui... não consegui pensar noutro sentido para a última frase senão o mais brejeiro, perverso e ruim.



Post mais curto que este, só ficando a dever letras e cada vez que o leitor abrisse o blog desaparecia metade das letras do último texto aberto no seu computador.

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