sexta-feira, abril 01, 2011

Não Matem os Sonhos (Somniums Matatum Est)

Esta semana tive um dos sonhos mais bonitos com que alguma vez sonhei em toda a minha vida.

Quando comecei a sonhar, ou pelo menos o que recordo como o início do sonho, encontrava-me à procura de algo leve para comer. Como sempre o faço pois só como coisas leves. Vagueava numa superfície comercial perto do Estádio da Luz sem destino aparente. Indeciso e sem ideias para escolher como minha opção, por ver os mesmos estabelecimentos de sempre. Quando a meus olhos, chega uma das mais belas visões de esperança e salvação. Sonhei que vislumbrei no horizonte (curto porque o Colombo não é assim tão grande) um restaurante "Coma todos os bitoques que conseguir e pague apenas 2.99€".

A solução de todos os problemas da Humanidade finalmente encontrada. Fome, guerra e a doença todas extintas com um só acontecimento. A Humanidade encontrou o caminho para um futuro magnífico e este caminho não tem trevas pelo caminho (dada a sensibilidade do assunto, achei por bem repetir a palavra "caminho" para que a mensagem não fosse mal interpretada pelo caminho). Todos os prémios Nobel entregues de uma só vez e a uma só entidade.

Apressei-me para a caixa e fui logo atendido por uma brasileira. Classe de funcionários habitual em todo o restaurante que não seja tasca ou absurdamente caro. Brasileira essa que, pela distância atlântica que separa duas línguas/dialectos tão semelhantes, teimou logo, e sem eu lhe ter feito mal algum, em não perceber o meu pedido. Mas que havia a enganar? Estava ali para comer bitoques até não ter mais acção muscular para continuar a ingerir. Se quisesse comer só salada ia a um arraial gay ou a casa dessa gente que agora tem a mania que é saudável mas que não tem problemas em estar 4 horas a apanhar sol, beber álcool até cair para o lado ou fumar 2 maços de tabaco por dia (não que conheça quem seja assim, é um mero aviso para ficarem já a saber que não os quero conhecer, por isso crio logo aqui antipatia e desprazer por eles).

A custo, lá me fiz explicar e esclarecer...

Batatinhas fritas caseiras e arroz do bom, iguarias que faziam parte do menu pedido mas que tive que recusar. Limitei-me a pedir abacaxi para "cortar" e assim conseguir enfardar mais carne. Uma técnica que tem dado resultados positivos em todos os "comida à descrição" onde já fui treinar. Para primeira ronda pedi logo um bitoque à Eusébio com hattrick, que é como quem diz, 3 bifes (3 bifes = 1 bife à Eusébio) com 3 ovos estrelados a cavalo (hattrick). Fi-lo não por gula, que até sou equilibrado e ponderado a comer, mas por receio que quando voltasse para repetir, não houvesse comida disponível e eu tivesse que esperar que a fizessem. Não consigo comer muito mais se tiver que parar a meio.

O facto de em certa altura a carne ter sido teimosa em se deixar morder, é algo totalmente incorrelacionável com o eu ter acordado a rominar a meia fronha de almofada que tinha dentro da boca. Almofada que já contava com um avançado estado de "babado".

Ainda consegui incorporar o som do despertador no sonho e apareceu como o som da caixa registadora. Até fazia sentido a caixa registadora não se calar, com uma casa deste gabarito, pareceu-me bastante óbvio aquela porra não se calar. Os pedidos deviam ser mais que muitos e a facturação não tinha descanso. Infelizmente sucumbi ao ataque blitzkrieg da minha mãe que irrompeu impetuosamente pelo meu quarto a dentro, como se a polícia estivesse a bater à porta de casa à minha procura por tráfico de droga ou homicídio de uma figura pública, gritando um indignado:


- Tu sabes que horas são?


O que eu sabia é que ainda há segundos estava a comer descansado, sem chatear ninguém, e naquele instante, para além de sentir um vazio no estômago, estavam para ali a gritar comigo. A alegria extrema do sonho foi substituída pela desilusão e revolta. Era bom demais para ser verdade, é certo, mas ao menos podiam deixar-me viver o sonho e sentir o momento até ao fim uma única vez.

Das poucas coisas que me metem fora de mim são precisamente acordarem-me bruscamente ou interromperem-me uma refeição. Se porventura existe uma altura em que é sensato e correcto um filho sovar a própria mãe, não deve andar muito longe disto.  Sou filho único e senti logo ali, que não sou o filho favorito da minha mãe.

5 comentários:

PDGD disse...

Sendo tu uma pessoa tão comedida a comer, e de tão selecto gosto gastronómico, nunca imaginaria que o teu expoente máximo de sonho seria comer bitoques. No mínimo seria comer numa tasca sentado onde pudesses pagar 3 euros, e enquanto mastigavas a bela refeição, conseguias ver a beleza das iguarias a serem preparadas em tão excelso local.

JPS disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
JPS disse...

Fico contente que tenhas voltado a escrever - mesmo que 10 meses depois.
Abraço

Rita Coelho disse...

Aposto que és o filho mais favorito da tua mãe. E concordo, interromperem uma refeição é motivo de vingança planeada haha

Vencislago disse...

E obrigado a todos pelos comentários :D

Acho que é o sonho de qualquer pessoa que sonhe, comer bitoques até não ter acção muscular para comer mais :P

Sempre que alguém nos interrompesse uma refeição, devia de haver uma lei que nos obrigasse a espetar-lhe um garfo num ombro ou qualquer coisa assim lol