segunda-feira, fevereiro 14, 2005

O Renascer De Um Mito

Deve estar mesmo aí a rebentar para os meus lados, o primeiro prémio do Euromilhões, tenho a certeza! Não apenas por uma breve análise a um ditado popular (que relaciona a sorte ao jogo com a sorte ao amor), mas porque tenho um primo meu (fiz de propósito, repeti a ideia de posse, bastava dizer que "tenho um primo" ou "um primo meu") que trabalha lá e que me afiançou uns números que estavam assentes que iam sair. Isto tudo a troco de uma caixa de marisco de contrabando, daquelas que vêm escondidas em meias de senhora lá das africas profundas (lá mesmo do interior). Porquê do contrabando? Mesmo que tenham valores mais altos do que na loja e tenham em tudo uma pior qualidade, é hábito do português optar e preferir coisas ilegais apenas pela sua ilegalidade (basta ver no caso da Feira da Ladra, basta dizer que é roubado (mesmo que não seja) para que um molho de sabujos apareçam do nada para tentar comprar o produto - é roubado, é porque é bom e barato), a quantidade de lixo que não veio de portos francos (Canárias, Las Palmas, Trafaria, etc) para Portugal e que não foi vendido cá que nem mel como "contrabando de lá de fora"?. Bom... para ser preciso, ele trabalhar lá, não trabalha, mas tem um colega que trabalha (ora o meu primo não estuda, logo, em princípio, trabalha... se ele não trabalha lá no "sitio" do Euromilhões como é que tem um colega de trabalho que trabalha lá? A vida é uma complicação mesmo muito grande... principalmente depois desta chamada de atenção entre parêntesis e da repetição da palavra "trabalha") e que lhe disse. Ao invés da dita caixa de marisco de contrabando o "homem" queria outro tipo de favores, por isso mandei o "Tó Britos" (nome fictício) para se fazer cobrar. Foi uma informação cara porque puxaram (ao que parece não foi só um) demasiado pelo rapaz, espero que ao menos tenha valido a pena porque veio de lá meio abatido.

Bom... já estou a fugir ao tema.

Muita gente se tem perguntado a si própria o que faria com tamanho prémio. Eu dei asas à minha imaginação e cheguei a estas excentricidades luxuriosas:
Primeiro que mais nada ia passar um fim de semana à Costa da Caparica (intensão não tão desprovida de senso como possa transparecer) numa pensão de estrela e meia (estar nesta pensão ou numa no Brasil só mudam as coordenadas no GPS), em regime de meia pensão. Depois destas merecidas férias que serviriam para repousar e meter as ideias em ordem, aí sim estoiraria o pouco que sobrava para realizar os meus sonhos mais doidos (que expressão tão deprimente).

Neste ponto já estava entediado de tanto me divertir que, para finalizar este esbanjar de dinheiro, comprava uns faróis de nevoeiro para o Lancia e uma cassete para gravar música nova (com um bom Rock ligeiro, por exemplo) para ter no porta luvas. Assim se gasta um fortuna, em coisas boas e caras é verdade... mas o dinheiro some-se num instante. Se temos dinheiro para arder, tudo e todos à nossa volta são fósforos.


Acho que estou a ser um pouco atoleimado, o meu sonho desde pequeno sempre foi um. Penso que todas as minhas acções têm sido em função desse sonho. Para quê fugir a esta vontade, a esta utopia?

(Carregar no refresh do browser para ouvirem a música d'início)

Exacto, como todos já acertaram, estou a referir-me a comprar (embora nunca o possa ter realmente tal como outra qualquer figura mitológica) o KITT. Não confundir com o KARR (o protótipo programado para sobreviver a todo o custo, o carro inimigo de KITT) e muito menos com o "kit" que se adquire na farmácia. Já tinha esta obsessão antes mas, foi ao vê-lo exposto nas Amoreiras, que prometi a ambos (a mim e a ele) - um dia iremos ser companheiros (não confundir com a versão brazileira "kitshi amigão mi pégji pour traiz"). Já não faz muito sentido aparecer no infantário a conduzí-lo como fazia na altura, mas mesmo assim causava grande impacto e sensação no meio em que interajo. Para concretizar este exorbitância conto não só com o primeiro prémio do Euromilhões (um primeiro prémio dá para algumas coisas mas não da para tudo, como é óbvio) mas também com os quase 30 contos (muita contenção porfiada para alcançar esta delirante quantia) que tenho vindo a acumular no meu pecúlio desde 1986.


Ainda me lembro de tudo o que ele tinha de bom... desde o Voice Modulator para conseguir falar (com sarcasmo diga-se,talvez tenha aprendido qualquer coisa de lá), o fascinío do Turbo Boost... cada vez que ele levantava as 4 rodas do chão, ficava com um nó da garganta e paralizado a olhar para a televisão, o Sky Mode para andar em duas rodas (rodas da direita ou com as da esquerda), o Scanner (as luzes debaixo do capô (para os leigos) que mais tarde aparaceram, sob a forma de imitação barata (obra do tão aclamado na altura, "contrabando"), em muitos carros profanos, então em Toyotas Hiace vindos das obras, até quase que faziam fila) e por fim, entre muitas outras que não referenciei (sem contar com as inatas protecções anti tudo), a minha preferida - Super Pursuit Mode (SPM). Só para terem uma pequena ideia da extrema velocidade no SPM, o KITT andava tão depressa que até os pássaros pareciam balas (digo isto e não me contenho de arrepios com a comoção da lembrança). Aquando no SPM só conseguia travar graças ao Emergency Breaking System, que, para os olhos mais desprevenidos e mentes pagãs, mais não era que umas placas pintadas de vermelho que se levantam para dar a ideia de travagem perigosa. Ah... e o Auto Cruise, que permetia o KITT andar sózinho, também é importante. Tudo isto acompanhado com uns efeitos sonoros esplêndidos. (Recomendo a carregarem mais uma vez no refresh do browser)

O fenómeno era mais que uma série de culto, aquilo era um culto. Eu até tinha autocolantes Knight Rider, que vinham nuns bolos muito ruins, colados quer na caravana do meu avô no CCL da Costa da Caparica, quer no armário de casa de banho do meu outro avô.

Era o ídolatrar extremista de um ídolo, a máquina que quase ofuscou o brilhante Michael Knight. O senhor David Hasselhoff não só foi o Michael Knight no Knight Rider, como também foi o Mitch Buchannon no Baywatch.
Sem o KITT, voar mais alto, só um Deus.

Os anos 80 valem o seu peso em ouro. Passei à cadeira de Dinâmica do Tempo, mas não posso precisar, porque não me lembro, quanto pesa um segundo para fazer a conversão para década, e ainda falta o preço do ouro de lei, exclui-se, portanto, a hipótese de ouro de "contrabando".

"Knight Rider, a shadowy flight into the dangerous world of a man, who does not exist.
Michael Knight, a young loner on a crusade to champion the cause of the innocent, the helpless, the powerless. In a world of criminals who operate above the law."

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