quarta-feira, outubro 19, 2005

Pertinácia Anuária

Já se passaram dois anos desde o primeiro post. Dois anos desde que criei um blog sem saber que raio era um blog. Dois anos a tentar vender a banha da cobra sem ter banha da cobra, vendo sebo de coelho que é bastante mais hediondo.

Ultimamente, tal como o clima global, tenho oscilado entre a seca de letras e palavras ao dilúvio de vocábulos, provocando assim um enorme descontentamento entre os nativos, eles não gostam de extremos. Tem-me sido difícil fazer o contrário.


Se por um lado não tenho tempo para escrever, por outro, quando o faço, não poderei meter meia dúzia de frases porque já acumulei uma quantidade razoável de ideias.


Nesta altura do ano é-me sempre difícil dissertar sobre o abstracto (ainda para mais com os meus propiciadores de ideias longe do meu paradeiro habitual. Finalmente descobri o que se passou com o Uel Mig (que em americano clássico se lê Mig, Uel) para nunca mais ter dado notícias... foi brutalizado sexualmente por uma morsa macho e encontra-se em recuperação. Que recupere rapidamente e que fique pronto para outra (nem que isso requeira treino ou alguma operação delicada) são os meus sinceros desejos). Para não falar na bofetada de angústia que recebi quando vesti uma camisola e senti frio nos pés, ambos pela primeira vez depois destas férias, depois desse ínfimo período de tempo pelo qual levo o resto da minha vida a ansiar "agora vida... só d'aqui a 10 espinhosos meses".

É que é este o procedimento que oficialmente fecha a época de praia e dá por iniciada a sessão da enfermidade. Vem aí a chuva e com elas as mesmas notícias de telejornal de sempre:

- colheitas perdidas pela chuva;
- inundações na América Central, não há vitimas portuguesas (entrevistam um português e ele responde sempre em espanhol com algumas palavras em português com sotaque espanhol);
- desavença conjugal manda cunhado para a esquadra por posse de 536 doses individuais de estupefacientes e cerca de 1400 euros em material roubado;
- vampiro é esquartejado no seu quarto em Odivelas por populares romenos;
- desabamento numa mina de carvão na Europa de Leste (ao que parece é um país) tira a vida a um número primo de dezenas de trabalhadores kozovares e afegãos;
- excursão pedestre de testemunhas de Jeová é colhida por um comboio;


Comecei a trabalhar num pequeno part-time. Ando a distribuir amostras de iogurtes e cereais aos pigmeus à porta do metro ou do comboio (embora nos dias em que estive na estação do comboio ninguém tenha caído à linha).

Poderia dissertar sobre a ganância e o comportamento macabro das senhoras de idade e das de etnia diferente da minha ("lá vem este com o racismo... estares a falar em "preto" ou em "cigano" é estares a ser racista") que me obrigava a recolher cinco pés para trás por cada mão de amostras que dava. A única vez que hesitei, arrancaram-me um bocado de carne do dedo, foi como estar a alimentar os leões sem ser a atirar a comida para dentro da jaula.

Vou antes falar de um pequeníssimo e peculiar episódio. Então não é que, num certo dia, tive como colega uma daquelas moças lá do iéxetê, que olho poucas vezes para ela? Tal acontece porque, assim que ela entra no meu alcance visual, fito-a continuamente até ser impossível de o continuar a fazer, ou porque se meteu atrás/dentro de algum edifício, ou porque comecei a chorar por não pestanejar ou ainda porque ela desapareceu na linha do horizonte.


Tudo correu bem nesse dia à parte de uma coisa. Encontrava-se ela dentro da caixa frigorífica da carrinha e eu à porta, quando, subitamente, ela se baixa para apanhar iogurtes... tal foi a sorte ou infortúnio que tive que nada me aconteceu. Para além da paragem cardio-respiratório, senti uma vibração intensa que me provocou uma gelada paralisia que me apanhou o corpo todo. Apenas soltei um breve latido, esbugalhei os olhos desmedidamente e tremi os queixos. Tal deveu-se ao facto de o meu cérebro ter tido duas reacções instantâneas distintas, sobre a forma de um só impulso. Os músculos ficaram tensos e inertes e sem acção por não saberem a qual dos estímulos obedecer.

Um ímpeto levava-me a dar-lhe uma dentada, o outro a dar-lhe uma palmada, ambos numa nalga carnuda.
Acabou por nada acontecer... não consigo no entanto se isso foi bom ou mau.


Agora sou um magnata... com os primeiros cobres estive para comprar metade do império do Abramovic (todo não para não deixar o rapaz na miséria), mas depois pensei naquilo e vi que era capaz de dar algum trabalho... "não, não é p'ra mim!".
Logo a seguir ocorreu-me: "Boa! vou comprar um iate!". Mas aonde o meto? Deixo-o cá fora para apanhar cáca de gaivota ou os outros meninos mexerem nele e depois se estragar? E com a falta de água que há para aí em que local ia passear com ele? Ir para o Oceano Atlântico e riscar o casco no fundo do leito? Acabei por desistir da ideia. Por impulso e sem pensar muito na coisa, acompanhado por uma despressurização abrupta da tripa: "Porra...! Só se vive uma vez! e no fim dei comigo a comprar quatro pacotes de Sugus de morango a meias com o Davi D (lê-se "Dávi Dê").

Este meio amigo, não só é meu colega na malfadada instituição, como também o é na natação.

Natação... as aulas são a doer, mas fazem bem. Ainda há dias, no dia a seguir ao treino, acordei e senti-me apertado... tirei a t-shirt a custo para não a rasgar e dirigi-me para a retrete. Ao sair do quarto bati com ambos os ombros nas lombadas da porta - "Ouwa... tu queres ver que estou um autêntico couraçado humano? Que tenho as costas tão quadradas que nem uma caixa de fruta montada na traseira de uma Famel?" Bom... a rigor estava enrolado na camisola e o raio da porta está aberta a um terço e na realidade bati com um ombro na porta e o outro é que foi na lombada.

Adiante...

Na natação há lá uma moça que cá fora é gira, mas lá dentro já não a consigo encontrar... das duas uma, ou não anda na natação ou tenho que lhe dar uma dentada (vocês sabem onde) cá fora (esta estranha apetência anda-me a preocupar, será normal?) e depois tentar descobrir a referida marca dentro de água (parece-me a mim o método mais plausível, é a técnica Komodo, morde a presa e depois segue-a já fragilizada), ou então é muita perfídia produção.


Por aqui me fico... para o texto continuar curto. Espero que o conteúdo comemorativo do segundo aniversário tenho agradado ao leitor. Obrigado por continuarem com paciência e perseverança para lerem o meu blog.

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