terça-feira, abril 16, 2013

Bullying Parental

Há dias lembrei-me de um evento ocorrido estava eu no 7º ano. O gordo “fazia” anos e, em mais uma tentativa de fazer amigos e de ser, pelo menos, residualmente popular, convidou os colegas da turma. Finalmente era o centro das atenções, seria aceite e admirado por ser quem é, esperançava ele.

Com tanta gente num evento organizado para culto da sua pessoa, criou-se uma malha de realimentação positiva de nervoseira e histerismo, tão característica em festas com alminhas cuja puberdade ainda é coisa que está a ameaçar aparecer. Quando se é o aniversariante, a amplificação desta malha é gigantesca. Todos falavam a gritar enquanto tinham a boca cheia de porcarias, porcarias estas que eram dispersadas aos grumos em cada gargalhada que era solta sem qualquer constrangimento. Com os parabéns acabados de contar, algo cedo porque havia pais que já lá estavam para ir buscar as criaturas, algo de extraordinário se passou.

No meio da orgia de comida e algazarra, o pai do gordo, também ele visivelmente alterado com a agitação provocada pelo calor do momento, viu como única purga e resolução possível, dar sem qualquer aviso prévio, um estalo audaz e sonoro no próprio filho:

“Cala-te pah! Estou farto de t’ouvir!”

Silêncio total. À frente dos colegas da escola, todos reunidos à volta da mesa, observaram o gordo que tanto se habituaram a gozar, a ser humilhado pelo próprio pai. Fatias de bolo por cortar, gente por servir e o gordo com um sorriso estúpido a tentar ver por entre as lágrimas que lhe enevoavam os olhos sem cair.

No referencial do gordo, o mundo parou. Teve tempo de olhar na direcção de todos, tentando aguentar a expressão do iludido artista cujo espectáculo estava condenado desde a venda do primeiro bilhete. Um espectáculo em que só ele acreditava. Seria precisa a força de mil homens feitos para aguentar aquelas lágrimas. Assim que a primeira caísse. estava carimbado o passaporte para a catástrofe que tanto tentava evitar.

Que berreiro infernal saíram daquelas goelas enquanto todos os amigos se riam dele e o pai ia para o quarto irritado com a situação em que o filho o metera. Nem dos convidados foi autorizado a despedir-se, tal era a quantidade de ranho e baba que saía daquela cara avermelhada do choro e do estalo.

Qualquer percentagem de confiança e auto-estima que o gordo pudesse vir a acumular ao longo da sua vida, foi irreversivel e definitivamente boicotada.

2 comentários:

Rui disse...

Finalmente em casa consegui ler isto:P Ninguém tem o direito de esmagar a auto-estima de uma pessoa, por 30 anos... :P

Vencislago disse...

30 anos até agora... o contador ainda não parou :P