sexta-feira, maio 03, 2013

Sushi - Um Desconchavo?

Há para aí uma tendência (ou trend, se utilizarmos o americanismo amaricado) para se gostar de sushi. Tendência que é acompanhada pela necessidade de exclusão social de quem não gosta de sushi numa de “faço aos outros o que fizeram a mim”.

Quando alguém não gosta de sushi é tão severamente criticado que acaba por gostar. Não que o paladar se adapte, mas porque as pessoas mentem com receio de mais represálias. Por isso mesmo é que quase toda a gente diz o mesmo “de início detestei, mas depois passei a adorar e é o meu prato favorito de sempre”. Se a Natureza nos mete a não gostar de algo, é porque o faz para representar o perigo de intoxicação. Se é amargoso, pode ter veneno, se é ácido pode estar verde, se está avinagrado, pode estar azedo. São defesas nossas que de tantas encrencas nos têm salvo. Ou seja, não compreendo o que leva as pessoas a insistir comer uma coisa que sabe mal na esperança que venha a saber bem. Quando tinha dois anos, experimentei areia da praia e não gostei. Nunca mais voltei a provar, um ensaio foi suficiente para não voltar a repetir. Se morrerem todas envenenadas pelo sushi, chama-se a isso selecção natural.

Não gosto de sushi. Posso ir mais longe, o sushi não presta. Reconheço que aquilo tem todo o aspecto para ser bom, só que depois não sabe a bom. Ou eu tinha as expectativas demasiado elevadas sobre o termo "sushi é muita bom" e sofri de reflexo condicionado invertido, ou aquilo é uma fraude mas toda a gente tem medo de passar por “fora de moda”(um tipo de o rei vai nu) ou ser apelidado de pobre. Nós pobres passámos muito tempo a comer coisas cruas, não queremos voltar lá. Não querer comer coisas cruas é considerado pindérico e de pobre por contraste com os ricos extravagantes das orgias romanas (um dos sinais da decadência de uma sociedade).

Em caso de obrigatoriedade de se comer sushi, num qualquer evento social com gente dentro (ou in, se, mais uma vez, utilizarmos o americanismo), o segredo para comer aquilo é fazê-lo de boca aberta com a língua recolhida ao pé do badalo para não lhe tomar o gosto.

O sushi está muito ligado ao mundo da moda, porque também ele é um prato da moda. No mundo da moda é prática corrente e socialmente aceite a Bulimia nervosa. Daí não custar nada comer “muito sushi” se depois se vomita tudo. Agora para pessoas de alimento como eu, trabalha muito o estômago.

Se fosse preciso comer este sushi todo para ver o resto, pronto, seria diferente. Havia uma motivação e um objectivo.
Uma vez levaram-me a um sushi dos ditos finos. Não fui ingrato. Agradeci, aceitei e tentei comer. Diz-se, aproveitando a frase do Fernando Pessoa a propósito de um outro produto, que primeiro estranha-se, depois entranha-se. Por isso mesmo repeti duas vezes para ver se a coisa se entranhava. À boleia foi também a vontade de não querer dar nas vistas por a experiência estar a ser menos saborosa do que era suposto. Só depois é que me lembrei que os finos não só não repetem, como deixam restos no prato. Por isso é que gostam de sushi.... por deixarem tudo no prato.

Já fui a outro e gostei porque tudo o que escolhi foi à chapa para fazer... Assim é que é falar!

1 comentário:

Gux disse...

LOL Como é que deixei escapar esta pérola?

já tinha visto uma ou outra foto de uma senhora decorada com sashimi, embora por regra a senhora tivesse um ar mais asiatico que a que escolheste. É muito giro para a fotografia, mas será higiénico? Sempre indaguei como é que não faria confusão a alguém estar a comer alguma coisa cheia de células da pele mortas de outra pessoa. :P Esta por acaso até parece ter uma camada de qualquer coisa verde entre o sushi e a pele... menos mal, mas não chega para ser bom.