quarta-feira, junho 22, 2005

Adoração à Creoulina

Não queria mas a tal me obrigam...

Não venho dar recados nenhuns a ninguém, a situação é demasiado grave para isso. Não é uma questão de História, nem de identidade ou de cultura, é sim uma questão de respeito pelo ser humano e pela vida em sociedade. Estou farto que me mandem em cara coisas infundamentadas e desprovidas de argumentos com nexo. Qualquer coisa que eu diga sobre crime ou segurança é "impugnada" com um "és pouco racista és...", o que revela quem associa o crime às etnias.

Não estive, por conseguinte foi impossível verem-me lá, na manifestação de dia 18 porque, muito simplesmente, ela foi convocada para contestar a onda de crime que tem abalado o nosso país e que tem aumentado de forma exponencial mas, na realidade, foi uma manifestação da extrema-direita e virada para a xenofobia e são ideais que se desviam em muito dos meus ideais, embora haja um infímo de ideias em comum, mas estas são provocadas pelos factos e não por qualquer doutrina, opinião ou princípio. Acusar por acusar e apontar o dedo com fúria a alguém é fácil, o que é difícil é reflectir sobre o que se incrimina e acusa, “és porque és” ou "não... és agora" ou ainda "não que ideia..." não me parecem ainda, por enquanto, suficientes para defender uma ideia ou fundamentar o que quer que seja.

Mas curiosamente não vi nenhum sofista moderno, desses detentores da razão total e da verdade e sabedoria absoluta, com uma capacidade infinita de visionar o que os rodeia e de julgar os outros, com um megafone na praia de Carcavelos ou nos comboios da linha a apregoar para as vítimas (sublinhe-se a palavra vítimas), que, mais que danos materiais, sofrem danos psíquicos causados pelo terror e pelo pânico, para tirarem as palas dos olhos, palas essas provocadas por ideias racistas que os media nos contaminam, e olharem à sua volta, para verem que são crianças inadaptadas. Bom... há já quem o faça e, enquanto o passageiro do lado é submetido ao choque de ser assaltado, humilhado e molestado, prefere olhar para a janela (mesmo que esteja a passar num túnel), para o tecto (mesmo que não tenha pegadas, embora pouco falte), para os poucos painéis de publicidade que ainda não foram vandalizados e assim tem a sua realidade, "não vejo, logo não existe... só espero que não me toque!".
Mantêm-se imóveis e inertes à espera que o problema dos outros passe e assim evitam serem acusados de racistas ou de extrema-direita, porque é isso que importa! Os outros cometem crimes mas o que importa é que nós nos mantenhamos calados para não nos atribuírem, sempre com grande sobressalto de ânimos, palavras que são ditas com tom incriminatório. Entretanto há quem seja esfaqueado e inutilizado para o resto da vida, mas se se fala no assunto é racismo... como disse uma senhora dePutada do Bloco de Esquerda, Ana Drago, "falar do arrastão é estar a ser-se racista e xenófobo" e respondeu a um deputado que disse "gente capaz de fazer tão mal aos seus mais próximos (...) só pode ter um tratamento de choque”, com um “A intervenção que o senhor deputado fez nesta câmara é ao jeito e na tradição populista, xenófoba e preconceituosa.” Enfim... que comentários fazer?

Mas relembro, por alto, o que um criminologista disse: não é preciso dizer a uma criança para não meter os dedos na tomada da electricidade, basta ela lá meter uma vez os dedos e apanhar um "esticão" que aprende para o resto da vida. É que a vida, como disse um filósofo chinês, é um balanço de dor e prazer, se a criança não sentiu prazer ao meter lá os dedinhos, sentiu dor e não quer repetir a experiência. Ora se os marginais, com estes actos, não sentem dor, obviamente que sentem prazer e querem repeti-lo pelo prazer em si.


Dizem que há manipulação dos media, e é verdade... (poderia dizer que abafam o que realmente se passa para não alarmar ainda mais o cidadão, mas não o farei) por isso é que as imagens e vídeos tardam em aparecer. Então não é que os malandros dos jornalistas passam tardes inteiras entretidos com o The Gimp (programa freeware para Linux de edição de imagens) a mascarrar um a um os marginais até Carcavelos parecer o ponto de chegada do derrame do Prestige ou até o comboio da linha ter o aspecto de que meteram a arder pneus dentro das carruagens?

Jorge Sampaio visitou a Cova da Moura no mesmo dia da manifestação de extrema-direita. Os habitantes da Cova da Moura não são todos marginais nem criminosos, há lá muitas pessoas (quase todas as pessoas, excluindo os animais) que estão numa situação social tal da qual lhes é quase impossível sair, mas o nosso presidente da república fez-se acompanhar por um pequeno exército. Estou certo que qualquer outro cidadão, se lá entrasse, teria sérios problemas e de certo a sua recepção não seria de boas vindas (será que é preciso passaporte para entrar nesta parte do "nosso" Portugal?). Há uns anos o ex-ministro Jorge Coelho tentou fazer o mesmo noutro bairro social problemático (atenção à palavra problemático) mas, por obra do infortúnio, esqueceu-se da escolta de elite e apenas levou jornalistas, confiante que não iria ter problemas por ser quem é... teve que ser accionado um plano de emergência para o conseguirem tirar de lá com um mínimo de segurança. A calamidade foi tal, que os media viram-se forçados a esquecer este pequeno incidente e pouca importância lhe deram.

Aborrece-me profundamente a distorção de factos e o argumento vazio, só com palavras subjectivas e vagas contra os dados e contra a estatística da PSP e da PJ... o que há a dizer contra 70% dos crimes são cometidos na região de Lisboa e cerca de 63% desses crimes são cometidos por uma minoria étnica? Ou que 57% das prisões em todo o Portugal são preenchidas por essa mesma minoria? Faço questão que notem na palavra minoria e que reparem igualmente que a percentagem da minoria supera a da suposta maioria. Como dá para ver com enorme clareza, não sou eu que estou a generalizar e a julgar todos por uma meia-dúzia.


Outra coisa que execro é desviarem a conversa por nada conseguirem fazer para terem razão, estou a falar de insegurança e vêm-me com coisas como esta:
-"Tu está calado (ai a censura... e eu é que sou de extrema-direita e fascista) porque se não fossem os emigrantes, Portugal não era o que é (sinto-me muito tentado a concordar) porque os portugueses (será que também são portugueses?) são uns calões e não querem trabalhar!"

Não só estão a excluir as etnias dos cidadãos portugueses, coisas que me acusam, como estão a desviar a conversa para outro "problema" completamente diferente! Se quisermos, ainda é possível interpretar a mensagem "os emigrantes só servem para trabalhar nas obras".
Mas permitam-me lembrar que Angola jamais seria o que foi e o que hoje poderia ser (mas que infelizmente a guerra civil, e não a colonial, destruiu... poderia acrescentar mais umas coisinhas aqui, mas nem vale a pena de tão óbvias que são) se não fossem os portugueses.
Mas para não dizerem que ficam sem resposta e que também eu estou a desviar a conversa:
Infelizmente estes trabalhadores não vêm para trabalhar nas obras, como se gosta de dizer. Vêm sim para serem explorados por empreiteiros, construtores e empresários (já para não falar em outras mafias) gananciosos, imorais e ávidos por dinheiro e poder. Estes emigrantes trabalham em condições nulas de segurança muitas vezes, em condições desumanas, salários por vezes ridículos, não fazem descontos para coisa alguma e, na generalidade dos casos, não têm cá a família para sustentar (com tudo o que isso acarreta) e o pouco que mandam para as suas terras é o suficiente para terem uma vida menos má. Mas aqui o crime é outro, e não é o dos trabalhadores (hoje como estou numa de salientar palavras, saliento a palavra trabalhador em contraste com a palavra parasita, se é que me faço entender). Mas ninguém gosta de ser explorado... se há quem possa arranjar outro trabalho com condições mais humanas era idiota em não o fazer. Havendo quem, devido à sua pobre condição social e financeira, se sujeite a esta escravização, claro que os "grandes" se vão aproveitar e jamais, em tempo algum, se vão privar de ter mais lucro quando há quem não imponha um conjunto mínimo exigências legítimas.


Mas isto tudo sou eu que o digo, cego pelas palas da tolice. Sou eu que quero ver o problema em vez de abrir os olhos e olhar para o meu umbigo. Sou eu que me preocupo com idiotices que não existem e que teimo em acreditar.

Já agora reparem no trocadilho do título, é que para ajudar à festa a creolina é um anti-séptico extraído do alcatrão da hulha.

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