domingo, junho 19, 2005

Anatídeo Bravio

Hoje cortei o cabelo (que entretanto já faz quase uma semana, porque, antes de passar para o formato digital, fui escrevendo isto num rolo de cartão reciclado, que antes era a espinha dorsal de um rolo de papel de cozinha, em jeito de livro antigo, tipo um papiro enrolado) e cada vez que corto o cabelo tenho que escrever aqui qualquer coisa relativa à ida ao baeta, quase como uma promessa, nem que seja para acrescentar algo de novo ao já descrito. Desta vez o baeta, o sôr Abílio (verdadeiro nome), deu-me a garantia de 2 meses, ou seja, se até daqui a 2 meses não estiver satisfeito com o resultado, posso lá ir e tenho direito a um corte de cabelo totalmente novo, nem que seja cortado à chapada (a garantia não cobre problemas de humidade ou problemas que envolvam responsabilidades inerentes ao cliente, tais como bossas na superfície craniana). Claro que, por si só, esta garantia nada revela visto que o último corte de cabelo aguentou-se-me 5 meses, é apenas para dar ainda mais confiança a um serviço a que já deposita total confiança, eu pelo menos confio na totalidade da arte do sôr Abílio.

Isto de ir ao baeta é muito mais que um simples cortar de cabelo, é como ir a um psicólogo (que de certa forma também é confidente), sai sempre de lá uma pessoa diferente daquela que entra. Eu, por exemplo, saio sempre de lá com a mentalidade que tinha há 15 anos atrás e sinto-me coagido a fazer o que fazia nessa altura (embora nesses tempos o agente moderador (pais) fosse maior nestas coisas, agora não acreditam que eu ainda queira fazer as coisas que não me deixaram fazer então). Para ajudar à festa, tinha na caixa do correio um panfleto dos "Brinquedos semos Nós" e lá encontrei bens de extrema necessidade. Do mais prioritário de todos que lá encontrei foi um par de bisnagas super soaker, -"e para qué que um caramelo com a tua idade precisa de bisnagas?", muito simples... porque quero, não tenho nenhumas como deve de ser (gostava de conhecer a entidade competente que regula isto do "como deve de ser") e fazem-me falta. Também lá marquei um Ferrari da Lego (o melhor brinquedo de sempre segundo a minha opinião, às tantas também compro um balde com 800 peças que também está barato (as coisas quando me fazem falta não olho a custos), uns walkie-takies (estava lá escrito assim) ninja com um raio de acção de 3 Km, um mega disfarce Batman ninja (a palavra Batman é uma manobra de "marquetingue" porque aquilo não tem nada de Batman... está é na mesma páginas que as coisas do Batman) com estrelinhas e tudo (o lança-pizzas ninja e o estojo de costura ninja estavam esgotados, mas a quinta miniatura com mémés encontrava-se, mais uma vez, disponível (com esta só uma pessoa está apta rir-se com isto, espero que se ria pelo menos um pouco, nem que seja p'la nostalgia)). Por um lado é bom porque já não tenho que pedir para me comprarem estas coisas que "muita falta fazem" (que só tinha direito a uma no Natal ou nos anos), mas por outro lado é-me muito fácil carburar rapidamente o meu pequeno pecúlio.


Retomando o tema principal, o baeta, a barbearia é um local de fortes índices de amnésia, porque, para além da discussão dos temas da actualidade (invariavelmente o "arrastão", onde se disse muito do que já foi dito e um pouco mais se acrescentou, mas não o colocarei aqui), as conversas são sempre as mesmas mas, repetem-se com o mesmo empolgo da primeira vez, porque é a primeira vez.


Poderia dizer-se que saio sempre com o cabelo à "Melro Casapiano" (jamais ousarei re-utilizar o termo "Pato-Bravo" da mesma forma que o usava anteriormente porque temo ser decepado de forma violenta e exacerbada por uso incorrecto da expressão (pronto... aqui tentei impingir uma piada que, certamente, apenas uma pessoa, por sinal muy catita, a compreenderá e saberá que é com ela)) mas até que fico com o cabelo à "homenzinho" (o coitado do barbeiro faz o que lhe é possível com uma cabeça destas). Fico mais "ache quinha" e esta é a frase que meto aqui para ocupar espaço e separar o termo "ache quinha" da verdadeira expressão, que para quem ainda não descobriu o que eu queria dizer, "à f'esquinha". Fico geralmente com menos 735 gramas de pêlo porque o corte é sempre radical, não corto o cabelo apenas para manutenção do seu tamanho, quando o corto é para cortar e para tal há que ter matéria prima para o baeta trabalhar. De um dia para o outro muita gente já me é incapaz de reconhecer, bom... mas isso acontece mesmo quando não o corto, voltarei a este tema qualquer dia e de modo bastante ofensivo.


Claro que de lá nunca iria sair muito "mátxou" (macho dito à "rapaz moderno"), para isso era preciso ir (salvo seja) ao Eduardo Beauté para hair styling e produção (aqui com estes termos novos confesso que nem sei o que estou a dizer, li-os numa revista e achei piada) e ser vestido (com esta fiz sangue nos nós dos dedos tal foi a força com que bati com eles na madeira mais rija que encontrei, pelo sim pelo não vou bater numa coluna mestra cá de casa) pelo Luís Barbeiro. O sôr Abílio é um homem sério e trabalhar, e dono de uma barbearia decente e honesta... por quem o tomam?

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