sexta-feira, junho 24, 2005

Auto(Cata)clismo Visceral

Hoje (na realidade não foi hoje... mas como não me lembro quando foi, facilita muito a coisa dizer que foi hoje), pela única vez (forma bastante sucinta de dizer "pela primeira e última vez"), "almocei" na macrobiótica da cantina. Porquê? Porque as alternativas eram, ao que eu julgava antes de me meter nesta suicida aventura de privação de alimento, piores que o aspecto apetitoso que "aquilo" aparentava apresentar.

O prato de "carne" era jardineira polvilhada com carne e o peixe eram filetes. É que para mim a verdadeira macrobiótica era isto mesmo: filetes, frango, coelho, lulas, rissóis, etc. (um parêntesis... que era suficiente meter só o caracter "(" mas fica bem dizer a palavra, para mim o bacalhau não é peixe, é bacalhau, tal como a sardinha é sardinha e não peixe ou outra sub-género qualquer) não é aquela coisa. E eu que me perguntava como era possível comer todos dias macrobiótica sem ficar saturado... agora pergunto-me, como é possível comer todos os dias? Quero dizer... ainda estarem vivos? Ou pelos menos não andarem sem o cabide do soro atrás e ligado directamente ao cérebro?
Continuando...
Acabei por ser seduzido por vários amigos (salvo seja...), que julgava se preocuparem comigo, com promessas falazes das maravilhas que a macrobiótica oferece, a experimentar ingerir daquelas substâncias enganadoras.

Estava com fome mas, à medida que o prato se ia esvaziando, os meus sentidos alertavam-me para uma sensação de fraqueza contínua. Apesar de mastigar e engolir o milagroso alimento, o roncar e a dor no estômago eram uma constante e em quase tudo semelhante à que teimava em fazer-se sentir antes da refeição.

Fartei-me de tanto comer ao ponto de ficar cansado, doerem-me os maxilares e, mesmo assim, a única impressão que tinha, para a além da miséria de sustento alimentar que se mantinha, era que tinha o estômago inflado com ar.

Mal por mal, penso que era mais aceitável beber dois litros de água como se fosse um penalti de tinto para encher o estômago e contornar a fome, sempre enganava melhor, sempre se ficava mais pesado e o desconforto era outro... apenas as eructações eram acompanhadas de "água-à-boca" que estava acumulada no esófago.


Durante a "Hora do Rájá" (que por minha vontade tinha sido logo instantaneamente a seguir ao poisar do tabuleiro na passadeira rolante), e ainda aborrecido com a coisa, revelei o sucedido a um amigo e colega, chamemos-lhe Uel Mig (que em americano se escreveria Mig, Uel). Assim não só preservo o seu anonimato (anonimato este que se vai mostrar muito importante), como também, poderei contar a coisa como ela realmente aconteceu, mas que o próprio teima e irá teimar que não foi nada disto que se passou, tal foi a tragédia que ele sofreu que forçou o córtex a apagar-lhe esta memória da cabeça. Felizmente eu sei o que se passou, sei a verdade (porque muito que lhe custe a aceitar) e irei expor a coisa com enorme objectividade e clareza (como se quer em casos choque como este). Jamais será fruto do meu imaginário quimérico.


Vendo-me perturbado com o sucedido, decidiu desabafar, contar a sua história, desvendar o seu segredo relativo a uma experiência aterrorizante com macrobiótica. Terei eu ficado mais descansado a saber este seu capítulo da sua vida?


Tudo ocorreu num pequeno festival de Verão (posso afirmar com plena certeza, como sempre o faço em tudo o que digo, que este festival não dava direito a uma pulseirinha (não confundir com umas outras já anteriormente referidas neste blog, que tanta polémica, discussão de ideias gerou mas também houve quem, e bem, concordasse comigo, e que muitas visitas me têm trazido graças à ajuda de vários motores de busca que metem o meu blog nos primeiros resultados para "pulseirinha anti-racista" (que mete piada... nem tinha reparado, não é contra o racismo em si, é contra o racista)) laranja que eu, por acaso e sem querer... (aqui faço uma cara parva (ai agora a minha cara é sempre parva...?) de quem tenta ser convincente, geralmente evito olhar para os olhos da pessoa nesta manobra de diversão astuta, para não me rir) reparei quem tem usa uma no braço esquerdo), desses que se acampa no "campus" do espectáculo. Foram tantos os parêntesis que meti neste parágrafo que até eu fui obrigado a relê-lo.

Ainda o sob o efeito da alegria do acontecimento de estar na festa, foi em cantigas e acabou no refeitório a comer macrobiótica (acho que só os "alegres" é que comem na macrobiótica com frequência).

Deu-se uma reacção em cadeia, idêntica à fissão nuclear do plutónio (aqui o elemento radioactivo era o bolo alimentar (noutros estados a seguir mas não me lembro do nome) que devia ser inerte a um intestino de quem come regularmente na cantina e tudo é embebido em mostarda, ketchup e maionese, ambos armazenados em recipientes de 5 litros que se encontram expostos ao Sol) mas sem refrigeração no reactor principal, que de seu a conhecer por ciclónicas ventosidades e que originou uma das mais vexantes e afrontosas provas de atletismo misto (era uma espécie de prova australiana... várias provas de rapidez e resistir durante a competição toda) da história campista de festivais de Verão.

Consta-se que os primeiros sprints eram acompanhados com um constante sopro pianíssimo meio tossido de quem o tenta prender com as nalgas. Sopro esse que se aliava a um breve gemido, emitido pela garganta, ligeiramente arranhado numa desesperada tentativa de disfarçar infrutiferamente a maleita que o persegue.

Quem não simpatizou muito foram os outros campistas, que, não estando em condições de se inscreverem na prova, foram obrigados a ser espectadores desta sinfonia sibilina.
Descreveram os que se encontravam em pleno troço, que era um frenesim apoteótico: fecho da tenda a abrir repetidamente durante a noite e em intervalos muito curtos que, juntamente com as constantes descargas de autoclismo e com as incessantes passagens dum lado para o outro, com uns passos acelerados de quem tenta correr mexendo apenas dos joelhos para baixo e que se agarra a barriga que estremece com cólicas explosivas, criavam um efeito especial em stereo, corrosivo para quem tentava dormir tranquilo um sono que não se concretizava.
Volta não volta, a azafama era intercalada com tropeçar nas "guitas" que agarram as tendas às estacas, acompanhadas com um gemido de quem se tenta aguentar e um consequente aterrar de focinho na areia misturada com terra que abafou, de certo modo, um grito aflitivo e meio chorado ("ain-him-him") de quem, ainda a comer terra com os dentes e com os olhos, pensava ter conseguido e que havia apenas libertado uma pequena despressurização da tripa e constata, em pânico, que sentiu nas bordas um flato enlameado que o encheu com uma vergonha desmedida.


Os testemunhos afirmam que visitou tanta vez os sanitários, que um dos porteiros do parque, muito observador no que respeita a jovens rapazes a irem para a retrete, ao ver a quantidade massiva de papel higiénico que este moço esgotava, lhe dirigiu um pequeno comentário "ai que rabinho tão guloso que o meu lindinho tem aí..." (ficou-se sem perceber o que ele quereria dizer com isto) seguido de uma breve piscadela de olho e de uma tentativa de perseguição para troca de miminhos. A partir daqui começou a evacuar de forma acrobática, com as duas pernas levantadas para prender bem a porta com os pés e sempre a olhar para cima com medo que o sr. Julião o estivesse a espreitar. O medo por aquela entidade era tanta que mesmo só tendo um restinho de papel higiénico agarrado ao rolo, aquela última folha mais rija já com a parte da cola, se recusou a ele próprio de chamar ajuda. Num ultimo acto de desespero tentou limpar-se com aquilo mas ao que esta atitude o conduziu foi a espalhar o substracto pelas bordas.

O mais impertinente era ter de ir a casas de banhos totalmente imundas... onde parecia que que alguém se tinha feito explodir. O nosso intrépido herói tinha de andar a escolher qual a pia que se encontrava mais apresentável e, não por poucas vezes, devido à incapacidade e hesitação na escolha, sentiu um alívio incomodo em pleno corredor.
Quando encontrava uma menos má, nem sempre a sorte lhe sorria. Tinha que meter várias camadas de papel higiénico em cima do aro da sanita para não lhe tocar com parte alguma mas, por vezes, o ataque abdominal para expelir todo o lodo aprisionado foi tão grande, que acabou no chão a rastejar que nem um "marine" na guerra do Vietname, com as paredes da retrete com pinturas a reproduzir as da camuflagem usada no local do conflito.


Esta inglória jornada acabou às 9 da manhã com o Uel Mig totalmente exausto e fustigado que nem uma concubina que passou uma noite a exercer a sua actividade com as tropas pessoais do imperador
Mas debateu-se que nem um herói de guerra, devia ser galardoado, nem que fosse com um busto no meio da retrete com uma insígnia qualquer e uma frase de ocasião: Aqui, Uel Mig, travou a batalha mais feroz da sua história em tempo de guerra.


Após um breve descanso, viu-se obrigado a abandonar o recinto apressadamente, não só pelo profundo opróbrio e pela extrema ignomínia, mas também pela escassez de roupa desprovida de despojos de guerra (disseram-me que até chapéus serviram de penico de viagem nocturna).



É por estas e por outros que comigo, macrobiótica nunca mais! Não me ocorreu, que eu tenha notado, nenhum efeito secundário nefasto por enquanto mas não vale a pena correr riscos desnecessários.

O que vale é que no jantar, já não me "comeram" (salvo seja) e fui para a carne. Era borrego com muitos ossos, gordura animal (que nunca tinha reparado que é tão doce e saborosa) com fartura e dose dupla de molho ("mas isto já tem tanto molho, menino..." - ponha mais que eu é que sei...)para lubrificar bem a máquina. É que ao almoço até o sumo com poderes psicotrópicos infinitos e o pão-pastilha sabia a mais que tudo o resto... é que nem com "sangue de Lúcifer" (tabasco) com fartura consegui dar sabor àquilo.

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